França: solo poluído por dejetos da Primeira Guerra Mundial pode levar 700 anos para se recuperar
Próximo a Verdun, a floresta de Spincourt abriga uma clareira de 1.000 m² onde nada cresce há um século. Muitas vezes desconhecidas, as consequências ambientais dos conflitos armados são, no entanto, colossais. E duradouras. Cem anos após o início da Primeira Guerra Mundial, algumas áreas de combate ainda são intransitáveis.
Reportagem de Nicolas Pagès, da RFI
A Primeira Guerra Mundial definiu uma nova maneira de combate armado. Durante o conflito, mais de dois bilhões de projéteis de artilharia foram disparados no front ocidental. Muitos deles não explodiram na hora. Nos meses seguintes ao armistício, os habitantes das antigas zonas de combate sofreram com o risco constante e acidentes diários. Em 1929, apenas no departamento de Meuse, no leste da França, 127 pessoas morreram enquanto trabalhavam para desarmar os antigos campos de batalha. E o perigo ainda persiste. "Ainda encontramos projéteis em ótimo estado", afirma o geólogo Daniel Hubé. "Em vários locais, caminhamos literalmente sobre obuses."
Logo após o conflito, as autoridades delimitaram "zonas vermelhas". Devido ao perigo, muitas atividades eram proibidas nessas áreas, seja temporária ou permanentemente. Porém, os órgãos do Estado sofreram forte pressão para reduzir a extensão das zonas proibidas. Os agricultores do Pas-de-Calais, no norte, especialmente, estavam impacientes para reabilitar terras particularmente férteis. Nesse departamento, a "zona vermelha" tinha 26.000 hectares no final do conflito, enquanto quatro anos depois restavam apenas 472 hectares.
Pós-guerra mais poluente que a própria guerra
Nunca, na história, um país teve que eliminar em tão pouco tempo uma quantidade tão grande de armamentos. Os altos comandos mantiveram seu poder de fogo, se preparando para uma ofensiva final em meados de 1919. O toque de clarim que soou em 11 de novembro de 1918 pegou todos de surpresa. Campos e fábricas ficaram sobrecarregados com estoques de armamentos, dos quais não havia outra opção a não ser se desfazer. Estima-se que dois milhões de toneladas de munições tenham sido destruídas na França durante o período entre guerras. "A saída do conflito foi mais poluente que a guerra em si", afirma Daniel Hubé. E completa: "A limpeza dos campos de batalha foi paradoxalmente muito poluente."
Inicialmente, os exércitos mobilizaram prisioneiros de guerra para destruir uma grande parte das munições restantes. Essas operações de "explosão", frequentemente realizadas em antigas zonas de combate, devastaram áreas naturais já marcadas por quatro anos de guerra industrial. Outros projéteis, às vezes químicos, foram enterrados no mar ou em lagos. Sobrecarregado, o Estado decidiu, em 1920, delegar a destruição dessas munições a operadores privados. A operação favoreceu o aparecimento de grandes fortunas industriais.
Uma lenta conscientização
Na segunda metade do século XX, o desenvolvimento de diversas atividades de lazer, como a espeleologia e a prática de mergulho, levou à descoberta de muitas munições enterradas ou submersas. As autoridades perceberam a magnitude do problema a partir dos anos 1990. Trabalhos de descontaminação foram iniciados nos locais mais contaminados, como o lago de Gérardmer, nas regiões montanhosas de Vosges, ou o de Bleu d'Avrillé, em Maine-et-Loire.
Ultimamente, a questão das consequências ambientais dos conflitos ganhou maior atenção. Desde 1999, as Nações Unidas publicaram mais de vinte relatórios sobre o assunto. A organização analisou guerras no Kosovo, na Ucrânia ou em Gaza, com o objetivo de criar uma legislação internacional que minimize os danos ao meio ambiente durante os conflitos.
Séculos anos para limpar os solos da França
Em 2011, a descoberta de íons de perclorato na água potável de várias regiões do Norte e Nordeste gerou controvérsia. E não é por acaso, pois o mapa das áreas afetadas coincidia amplamente com o das zonas de frente da Primeira Guerra. Coincidência? Daniel Hubé continua cético. "Essa contaminação está provavelmente relacionada aos explosivos com perclorato deixados nos campos de batalha e nos locais de destruição de munições", explica ele. "Mas uma origem agrícola também é possível." Em 2012, a água potável de mais de 500 municípios do Norte e Pas-de-Calais foi declarada imprópria para consumo. Dez anos depois, ainda há dúvidas.
O solo francês, de maneira geral, continua profundamente marcado pela guerra. "Não há nenhum outro país no mundo que tenha vivido, em menos de um século, três grandes conflitos em seu território", resume Daniel Hubé. A Segurança Civil estima que levará 700 anos para limpar completamente os solos da França das munições enterradas. Ou seja, há muito trabalho pela frente.