Assassinado na tarde desta sexta-feira (8) no aeroporto internacional de Guarulhos, o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach teria um grande trunfo para não ter sido morto antes, declarou Ivana David, desembargadora do TJ-SP, em entrevista ao UOL News deste domingo (10).
O que contam antes desses fatos acontecerem é que a facção criminosa só não matou ele antes porque, como o dinheiro foi investido em criptoativos, as chaves desse tipo de investimento são gigantes e só quem tem a chave é que pode movimentar o dinheiro. Então ele teria esse trunfo de não ser morto, porque senão ninguém teria essa chave — e logicamente ninguém buscaria o dinheiro. Essa é uma das teses que se ventila.
Parece que ou o PCC conseguiu a chave, ou se cansou de esperar. Mas a colaboração premiada é uma forma de investigação, na verdade, um instituto importantíssimo, porque ele vai narrar e provar circunstâncias que o Estado às vezes demoraria para buscar — ou sequer nunca chegaria. Ele delatou movimento imobiliário na zona leste da capital, ele teria delatado envolvimento da facção criminosa, lavagem de dinheiro no mundo do futebol, então ele teria informado [muita coisa] e a delação é sigilosa.
Um processo sigiloso dentro do judiciário, esse processo traz informações, inclusive [sobre] corrupção policial, que depois vão ser investigadas — ou, quiçá, vão sendo investigadas ao mesmo tempo. Essa colaboração premiada foi homologada pela Justiça agora em abril, mas ele não vai ser mais ouvido em juízo.
A prova, então, dependendo de como ela está na delação premiada, vai ficar manca, porque ele não vai poder confirmar para o juiz no processo. A delação premiada é simplesmente um contrato, onde um criminoso troca com o Estado informações buscando algum benefício.
Ivana David, desembargadora do TJ-SP
"Estado caminha para ser um narcoestado", diz Sakamoto
Sakamoto disse ainda que toda essa tragédia ocorrida em Guarulhos, em plena luz do dia, demonstra que o Estado está caminhando para se tornar um narcoestado.
Isso já demonstra características de um Estado que caminha para ser um narcoestado, né? A gente reclama da Colômbia, reclama de outros países, dando exemplo negativo, mas o Brasil está caminhando a passos largos, com facções criminosas, com o primeiro comando da capital, se sentindo a vontade para fazer o que quiser, aonde quiser.
E quando estou falando isso, ah, mas tenho certeza que é o PCC, não é? É um contexto do PCC, isso acontece por conta do PCC, de todas as relações, toda a teia do PCC. Pode ter havido, como tudo indica, a participação de policiais, seja entregando o roteiro do empresário, seja entregando os passos dele, seja vendendo a morte, seja eliminando o arquivo, porque ele também estava denunciando policiais e delegados que teriam envolvimento com o primeiro comando da capital, não importa.
Leonardo Sakamoto
Assista abaixo ao UOL News deste domingo (10)
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