Polícia de Israel causa incidente diplomático ao entrar em igreja da França em Jerusalém
Um incidente diplomático entre França e Israel ofuscou nesta quinta-feira (7) a visita do chanceler francês, Jean-Noël Barrot, a Jerusalém, após ele denunciar que policiais israelenses entraram "armados" e "sem autorização" em um local religioso pertencente à França.
Um jornalista da AFP testemunhou policiais israelenses entrando no recinto de Eleona, que pertence ao país europeu desde o século XIX e está situado no Monte das Oliveiras, em Jerusalém Oriental ? a parte palestina da cidade, ocupada e anexada por Israel desde 1967.
"Esse atentado contra a integridade de um local cuja gestão está sob responsabilidade da França pode enfraquecer os laços que vim cultivar com Israel em um momento em que todos precisamos avançar na região pelo caminho da paz", denunciou Barrot à imprensa.
O ministro considerou a situação "inaceitável" e decidiu não entrar no local de peregrinação, que abriga um mosteiro beneditino.
O recinto de Eleona "não apenas pertence à França há mais de 150 anos, como a França também é responsável por sua segurança", destacou o chanceler.
O Ministério das Relações Exteriores francês informou que convocará o embaixador de Israel em Paris "nos próximos dias" para tratar do incidente.
A diplomacia israelense afirmou, por sua vez, que a questão da segurança havia sido "esclarecida" previamente com a embaixada da França em Tel Aviv.
A presença de agentes de segurança israelenses estava "destinada a garantir a segurança" de Barrot, declarou o Ministério das Relações Exteriores de Israel em um comunicado.
Fontes diplomáticas francesas desmentiram a declaração e afirmaram que "não seria autorizada a presença de segurança armada israelense no local".
Outro incidente ocorreu logo após a partida do ministro, envolvendo policiais israelenses e dois gendarmes franceses, conforme observado pela jornalista da AFP.
Em uma troca muito tensa, os policiais israelenses agarraram um dos gendarmes e o jogaram no chão antes de levá-lo em um carro de polícia.
O gendarme se identificou como agente de segurança e gritou várias vezes: "Não me toque", segundo a correspondente.
Os dois gendarmes foram liberados posteriormente, e um representante da polícia explicou que eles não estavam vestidos com uniforme nem exibiram suas credenciais diplomáticas.
"Eles sabem que trabalhamos no consulado-geral da França", afirmou um dos dois agentes do consulado, ao se dirigir aos policiais israelenses.
O órgão de segurança israelense informou em um comunicado que "dois indivíduos inicialmente não identificados" haviam "negado a entrada no local aos agentes israelenses encarregados da segurança do ministro".
As fontes diplomáticas francesas denunciaram "alegações mentirosas divulgadas pelas autoridades israelenses".
O recinto de Eleona foi atribuído à França antes da criação do Estado de Israel e é administrado como propriedade privada pelo consulado francês.
"É preciso respeitar a integridade das quatro áreas das quais a França é responsável aqui em Jerusalém", ressaltou Barrot, referindo-se também ao Túmulo dos Reis, à Basílica de Santa Ana e à igreja de Abu Ghosh.
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