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Como Trump afeta Bolsas estrangeiras, criptomoedas e ativos internacionais?

Donald Trump e J. D. Vance durante discurso da vitória - AP Photo/Evan Vucci
Donald Trump e J. D. Vance durante discurso da vitória Imagem: AP Photo/Evan Vucci
do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

06/11/2024 09h55Atualizada em 06/11/2024 18h16

Após o republicano Donald Trump reivindicar vitória na eleição presidencial dos Estados Unidos, mercados americanos e internacionais já começaram a reagir.

O índice S&P 500 — que representa ações das 500 maiores empresas americanas — disparou nesta quarta-feira (6). Os rendimentos dos Treasuries (Tesouro americano) também subiram, enquanto o bitcoin alcançou pico recorde. A cotação do dólar internacionalmente subiu.

O que está acontecendo?

Assim que abriram, às 10h, as Bolsas americanas já estavam aceleradas por conta da vitória de Trump. O Dow Jones terminou o dia tinha em alta de 3,57%. O Russel 2000, que representa ações de empresas americanas em crescimento (small caps), saltou 5,81%. A Nasdaq fechou com ganhos de 2,95% e o S&P 500 teve alta de 2,52%.

As empresas mais voltadas para o mercado doméstico americano, as small caps, se beneficiam porque ele promete uma menor regulação e um regime de mais liberdade de ação para elas. Além disso, são favorecidas pelas possíveis tarifas de importação que Trump quer impor

William Castro Alves, sócio e estrategista chefe da Avenue, especializada em investimentos nos EUA

Já o Bitcoin alcançou nesta quarta suas maiores cotações. No momento, supera os US$ 75,6 mil (R$ 429 mil). A princípio, o republicano era contra as moedas digitais. Chegou a dizer que eram "uma farsa", que "não são dinheiro", que eram "baseadas no ar", além de fomentarem o comércio de drogas e outras atividades ilegais. Mas ao escalar o senador James David Vance, que é investidor de Bitcoin e aceitar doações do bilionário Elon Musk, homem mais rico do mundo e entusiasta dos ativos digitais, ele mudou de ideia.

Mas há o lado ruim. A alta dos "Treasuries" mostra que o mercado americano já projeta uma subida nos juros. Amanhã, quinta-feira, por volta de 15h, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), divulga sua nova taxa de juros. Em seguida, Jerome Powell, presidente do Fed, discursa e é esperado que ele comente a vitória de Trump. Analistas entendem que os planos de Trump para restringir a imigração, cortes de impostos e tarifas abrangentes, se promulgados, pressionariam a inflação.

Outra questão importante é a imigração. Trump quer não só impedir a chegada de novos imigrantes como deportar um número recorde de estrangeiros. E isso também pode fazer a inflação subir. "Se ele cumprir isso, e há grandes chances, já que conseguiu maioria no Congresso e Senado, haverá falta de mão de obra no mercado. Isso eleva os salários e acaba pressionando os preços", explica Claudia Rodrigues economista do C6 Bank.

Sua política também aumenta o risco fiscal. "Os governos republicanos têm essa característica de cortar impostos", explica Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos. Por isso, pode ser necessário subir novamente as taxas para conter essa pressão inflacionária.

Qual o impacto disso em outras economias?

Um dos problema mais imediatos é a alta do dólar. Nos EUA, diferentemente de outros países, quando a inflação sobe, ou seja, o dólar se valoriza. No Brasil, se os preços sobem, o rela perde valor. "Isso acontece com as moedas fortes e o dólar é a mais forte delas: se os preços sobem, os juros aumentam e isso fortalece a moeda", diz a economista. Juros maiores elevam a atratividade do Tesouro americano — a aplicação mais segura do mundo — o que faz o fluxo de investidores migrar do mundo todo para os EUA .

Consequentemente, ao perder investidores, mercados emergentes, como o Brasil, vêm suas moedas desvalorizarem. E não é dó isso: o Brasil também perde com a queda no preço das commodities, os produtos básicos de exportação, como minério de ferro, petróleo, soja, café, algodão, aço. "Com o dólar subindo mais, o comprador precisa de menos dinheiro para comprar a mesma quantidade de produtos de exportação. Por isso os preços desses produtos caem.

Na Europa, a moeda comum vem tendo quedas nesta quarta. O euro, em relação ao real, fechou em queda de 3%, para R$ 6,09. Em relação ao dólar, a divisa tem a maior baixa de quatro meses, chegando a valor US$ 1,07. As Bolsas europeias fecharam em queda. "Com essa alta global do dólar hoje, muitos investidores estão vendendo euro para comprar a moeda americana e isso derruba o valor da divisa europeia", explica Gustavo Bertotti, economista chefe da Fami Capital.

O índice Stoxx 600 (de empresas de 17 países europeus) teve queda de 0,59%. O DAX de Frankfurt recuou 1,13%. O FTSE, de Londres, teve variação negativa de 0,07%. O CAC 40, de Paris, caiu 0,51%. As ações do setor de automóveis foram as mais afetas, refletindo a possibilidade de Trump impor tarifas às montadoras europeias.

E a China?

As Bolsas chinesa caíram muito. No fechamento, o índice de Xangai teve queda de 0,09%, enquanto o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 0,5%. As ações de tecnologia da China listadas em Hong Kong tombaram amplamente, com a gigante do comércio eletrônico JD.com e a Alibaba caindo 4% cada uma.

Isso porque, para impulsionar a produção americana, Trump promete adotar tarifas de 60% ou mais sobre os produtos importados da China.

Com Reuters

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