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Entenda por que o BC intensificou alta dos juros e seu efeito na economia

Membros do Copom, do Banco Central - Raphael Ribeiro/BCB
Membros do Copom, do Banco Central Imagem: Raphael Ribeiro/BCB
do UOL

Denyse Godoy

do UOL, em São Paulo (SP)

06/11/2024 19h33Atualizada em 06/11/2024 22h27

O temor de que a inflação no país continue subindo, impulsionada pelas incertezas quanto aos rumos da economia dos Estados Unidos após a eleição de Donald Trump e quanto aos gastos do governo Lula (PT), fez o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil) aumentar a taxa básica de juros nesta quarta-feira (6). A Selic foi elevada em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano.

O que aconteceu

Depois de uma reunião de dois dias, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) anunciou o aumento da Selic. A 11,25% ao ano, a taxa básica de juros brasileira volta agora ao patamar de janeiro. Depois de dois cortes de 0,25 p.p. em março e maio, o Copom segurou a Selic em 10,5% ao ano por quatro meses, até aumentar a taxa de novo em 0,25 p.p. em setembro.

A decisão desta quarta (6) foi tomada em unanimidade pelos nove membros do comitê. Além de Roberto Campos Neto, presidente do BC, cujo mandato termina em dezembro, votam os diretores: Gabriel Galípolo (Política Monetária), próximo presidente do banco; Ailton de Aquino Santos (Fiscalização); Carolina de Assis Barros (Relacionamento Institucional, Cidadania e Supervisão de Conduta); Diogo Abry Guillen (Política Econômica); Otávio Ribeiro Damaso (Regulação); Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos); Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro) e Rodrigo Alves Teixeira (Administração).

Entre os motivos citados para a alta, estão a conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos. Com a mudança de governo, há dúvidas sobre o desempenho da economia, a inflação e a postura do BC americano, segundo comunicado publicado pelo Copom ao final da reunião.

Política protecionista sugerida por Trump pode levar a alta dos juros nos EUA e mais aumentos no Brasil. O presidente eleito disse, durante a campanha para a Presidência, que pretende fechar a economia com o aumento de impostos para a importação de diversos bens e serviços. Esse tipo de medida aumentaria o déficit fiscal norte-americano, elevaria os preços de mercadorias dentro do país e poderia forçar o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a aumentar as taxas de juros nos EUA. Com os títulos de renda fixa pagando mais juros no país considerado o mais seguro do mundo para investimentos, quem tem dinheiro aplicado em outros mercados tende a abandonar essas nações. A fim de convencer os investidores a ficar no Brasil, o BC local pode ter que aumentar ainda mais a Selic.

Internamente, como os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho seguem indicando aquecimento, é esperado que os preços continuem sofrendo pressão de alta. O Copom lembrou que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa semanal Focus encontram-se em torno de 4,6% e 4%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6%.

O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Comunicado do Copom

As negociações do governo em torno do pacote de corte de gastos públicos do Orçamento de 2026 são acompanhados com atenção pelo comitê. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado bastante os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio, disse o Copom.

O mercado financeiro espera desde o final da semana passada que o governo brasileiro divulgue mais detalhes do pacote. Na segunda (4) e na terça (5), o presidente Lula (PT) se reuniu com ministros para discutir as medidas, mas ainda não divulgou nenhum plano.

A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
Comunicado do Copom

Efeito na economia

A Selic é chamada de taxa "básica" de juros. Serve como referência para outras taxas de juros do mercado, como os cobrados em empréstimos e financiamentos. Juros menores deixam o crédito mais barato em geral, favorecendo o consumo; quando estão mais altos, o efeito é o contrário.

Os juros também afetam a geração de empregos. Quando a taxa está alta, o custo de operação de uma empresa é maior, o que desestimula investimentos e contratações. À medida que a Selic cai, empresários ficam mais dispostos a tomar riscos e crédito para crescer e, consequentemente, gerar empregos.

A Selic influencia ainda nos investimentos financeiros. Com juros baixos, as aplicações de risco, como ações, tendem a ser mais buscadas. Os juros altos favorecem produtos de renda fixa, como títulos do Tesouro, CDB e LCI.

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