Eleitores dos EUA vão às urnas ao final de campanha turbulenta
Por Joseph Ax
WASHINGTON (Reuters) - A disputa presidencial entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris se encaminhava para um final incerto nesta terça-feira, quando milhões de norte-americanos votam para escolher entre duas visões nitidamente diferentes para os Estados Unidos.
Uma corrida marcada por eventos sem precedentes -- duas tentativas de assassinato contra Trump, a desistência do presidente norte-americano, Joe Biden, e a rápida ascensão de Kamala -- permaneceu muito acirrada até o dia da votação, depois de bilhões de dólares gastos e meses de campanha frenética.
Os primeiros votos de terça-feira refletiram a divisão nacional. Durante a noite, os seis eleitores registrados no pequeno vilarejo de Dixville Notch, New Hampshire, dividiram seus votos entre Kamala e Trump, votando pouco depois da meia-noite.
Na Costa Leste e no Centro-Oeste, os norte-americanos começaram a chegar às urnas na terça-feira de manhã para votar.
Em Raleigh, Carolina do Norte, Johnny Graves montou uma cabine de DJ do lado de fora da seção eleitoral na Igreja Lincoln A.M.E., animando os eleitores matinais com a faixa "Party in the U.S.A.", de Miley Cyrus.
Taylor Grabow, uma enfermeira de 27 anos, disse que votou em Kamala depois de votar em Trump em 2016 e Biden em 2020, citando a oposição de Kamala à criminalização do aborto.
"Acordei de bom humor e me sentindo animada", afirmou ela.
Em Asheville, Carolina do Norte, Ginny Buddenberg, uma dona de casa de 38 anos, levou suas duas filhas gêmeas para votar em Haw Creek. Ela votou em Trump.
"Há muita política na sala de aula, e sinto que há muita pressão sobre política e introdução de diferentes tipos de educação sexual em uma idade cada vez mais jovem", disse ela. "Vamos para a escola e aprender a ler."
A campanha de Trump sugeriu que ele pode declarar vitória na noite da eleição, mesmo quando milhões de cédulas ainda não tiverem sido contadas, assim como fez há quatro anos. O ex-presidente tem dito repetidamente que qualquer derrota só poderia resultar de uma fraude generalizada, repetindo suas falsas alegações de 2020. O vencedor pode não ser conhecido por dias se as margens nos principais Estados forem tão pequenas quanto o esperado.
Independentemente de quem ganhar a Casa Branca, história será feita.
Kamala Harris, 60 anos, a primeira vice-presidente mulher, se tornaria a primeira mulher, mulher negra e sul-asiática norte-americana a ganhar a Presidência. Trump, 78 anos, o único presidente a sofrer processo de impeachment duas vezes e o primeiro ex-presidente a ser condenado criminalmente, também se tornaria o primeiro presidente a conquistar mandatos não consecutivos em mais de um século.
As pesquisas de opinião nos últimos dias da campanha mostraram que os candidatos estão empatados em cada um dos sete Estados que provavelmente determinarão o vencedor: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin.
Pesquisa Reuters/Ipsos mostra uma diferença significativa entre os gêneros, com Kamala liderando entre as mulheres por 12 pontos percentuais e Trump vencendo entre os homens por 7 pontos percentuais.
A disputa reflete uma nação profundamente polarizada, cujas divisões só aumentaram durante uma corrida ferozmente competitiva. Trump empregou uma retórica cada vez mais sombria e apocalíptica na campanha, enquanto Kamala alertou que um segundo mandato de Trump ameaçaria os próprios fundamentos da democracia norte-americana.
O controle de ambas as casas do Congresso também está em disputa. Os republicanos têm um caminho mais fácil no Senado dos Estados Unidos, onde os democratas estão defendendo várias cadeiras em Estados com tendência republicana, enquanto a Câmara dos Deputados parece uma disputa acirrada.
Os candidatos passaram o último fim de semana percorrendo os Estados decisivos em busca dos votos disponíveis. Trump fez seu último comício na noite de segunda-feira em Grand Rapids, Michigan, enquanto Kamala realizou dois comícios em Pittsburgh e na Filadélfia.
Mais de 80 milhões de norte-americanos já votaram antes de terça-feira, seja pelo correio ou pessoalmente, de acordo com o Laboratório Eleitoral da Universidade da Flórida.
RETÓRICA SOMBRIA
Durante a campanha, Trump criticou primeiro Biden e depois Kamala pela forma como lidaram com a economia, que, segundo as pesquisas, está no topo das preocupações dos eleitores, apesar do baixo desemprego e do arrefecimento da inflação. Mas ele demonstrou uma incapacidade característica de manter a mensagem, em um momento questionando a identidade negra de Kamala e prometendo proteger as mulheres "quer elas gostem ou não".
Sua abordagem desenfreada parecia ter sido projetada para estimular seus apoiadores, em vez de expandir seu apelo. Ainda mais do que em 2016 e 2020, Trump demonizou os imigrantes que cruzam a fronteira ilegalmente, acusando-os falsamente de fomentar uma onda de crimes violentos, e prometeu usar o governo para processar seus rivais políticos.
As pesquisas mostram que ele obteve alguns ganhos entre os eleitores negros e latinos, apesar da natureza histórica da candidatura de Kamala. Trump tem alertado com frequência que os imigrantes estão tirando os empregos desses eleitores.
Por outro lado, Kamala tentou reunir uma coalizão mais ampla, porém desafiadora, de democratas liberais, independentes e republicanos moderados descontentes, descrevendo Trump como perigoso demais para ser eleito.
Ela fez campanha para proteger os direitos reprodutivos, uma questão que tem galvanizado as mulheres desde que a Suprema Corte dos EUA, em 2022, eliminou o direito ao aborto em todo o país.
Kamala enfrentou a ira de muitos eleitores pró-palestinos por causa do apoio militar e financeiro do governo Biden à guerra de Israel em Gaza. Embora não tenha previsto uma mudança na política dos EUA, ela disse que fará todo o possível para acabar com o conflito.