MP dissocia Marielle da esquerda para convencer júri branco 'de meia-idade'
No segundo dia do júri popular dos ex-policiais militares Ronnie Lessa, 54, e Élcio de Queiroz, 51, o MP (Ministério Público) tentou dissociar Marielle Franco da figura que se limitava a uma potência de esquerda.
A estratégia dos promotores tem como principal intuito tentar convencer os jurados — homens, brancos e de meia-idade, segundo o MP — a condenarem à pena máxima os réus confessos.
Na sustentação oral iniciada às 9h26 desta quinta-feira (31), o promotor Fabio Vieira dos Santos, do 2º Tribunal do Júri do Rio, relembrou que duas mulheres foram dispensadas do júri a pedido da defesa de Lessa, revelando o perfil dos jurados escolhidos: "Homens de meia-idade, pessoas de pele clara", disse.
Se dirigindo aos sete homens sorteados para o Conselho de Sentença, Santos afirmou que "ainda bem" que o júri foi formado assim. Ele acrescentou que o perfil é positivo para que, depois, ninguém diga que as condenações ocorreram só porque os jurados poderiam ser de esquerda.
Para que no final das contas ninguém fale que eu precisei trazer pessoas que não são como vocês, para que não venham dizer que esquerdistas foram escolhidos
Promotor Fabio Vieira dos Santos
"Esse processo mostrou a beleza que era Marielle. Não tem esse negócio de esquerda e de direita. Ela era uma mulher que acreditava. Essa mulher era uma mulher que buscava a correção através de suas lutas", afirmou o promotor.
Arrependimento?
Durante o depoimento na noite de ontem, Lessa pediu desculpas aos familiares de Marielle e Anderson, se disse arrependido e afirmou que tentaria ajudar o sistema judiciário a esclarecer o caso para tirar um peso das costas. Para o MP, essa postura, na verdade, revela o caráter "sociopata" do ex-policial.
É uma farsa. Não estão com arrependimento, estão frustrados por terem sido pegos. Não tinha como eles fugirem disso [acusação]. Confessaram porque estão arrependidos? Não. Porque isso vai beneficiá-los de alguma forma. Característica de sociopata
Promotor Fabio Vieira dos Santos
O promotor Eduardo Morais Martins, também se dirigindo aos jurados, complementou: "Que arrependimento é esse pedindo algo em troca? Até outro dia, estavam aqui negando todas as imputações: não estava no carro, não era eu, não tive motivo nenhum para matar. Que arrependimento é esse que se pede algo em troca?".
Já a promotora Audrey Marjorie Alves Castro sustentou que os réus confessos assumiram o risco de matar todas as pessoas. Ela lembrou que o alvo era Marielle, mas os tiros também atingiram Anderson Gomes, que não resistiu aos ferimentos, e poderiam ter atingido Fernanda Chaves, a única sobrevivente do crime.
"A Justiça possível hoje é a condenação integral dos acusados", afirmou a promotora.
Os promotores devem falar no plenário até 12h. Depois, a defesa terá, também, 2h30 para se dirigir aos jurados. A expectativa é a de que a sentença seja proferida até o fim da tarde.