Topo
Notícias

Dólar e bolsa fecham em baixa após susto com déficit dos EUA

do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

21/10/2024 10h29Atualizada em 21/10/2024 17h32

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em baixa nesta segunda-feira (21). O Ibovespa teve queda de 0,11%, indo a 130.361 pontos. De um lado, o corte de juros na China ajudou o índice.

Mas a alta da moeda americana no mundo causou preocupações. Depois de abrir em alta forte, a cotação do dólar abrandou durante a tarde. No final, mudou de rumo e acabou fechando com desvalorização de 0,14%, caindo para R$ 5,690. O dólar turismo ficou em R$ 5,91.

O que aconteceu?

O dólar começou o dia em forte alta, ameaçando bater o recorde de 2024, ao chegar a R$ 5,733 pela manhã. Em 5 de agosto, data da máxima do ano até agora, o mercado temia recessão nos Estados Unidos e a cotação atingiu R$ 5,75. Nesta segunda, os investidores se preocuparam com o aumento da dívida americana, segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

O déficit orçamentário dos Estados Unidos subiu para 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. No ano passado, estava em 6,2%. As receitas adicionais não compensaram o forte aumento dos custos do serviço da dívida durante um período de juros elevados.

Desta maneira, a dívida chegou a US$ 1,833 trilhão em 30 de setembro — 8% a mais que no ano anterior. O déficit é o terceiro maior na história dos Estados Unidos, depois dos de 2020 e 2021, devido à crise da pandemia de covid-19, informou o Departamento do Tesouro.

Esse déficit influenciou hoje a cotação do dólar no mundo todo, e, inicialmente, no Brasil também. "Quando o governo dos EUA aumenta seu déficit, ele geralmente emite mais títulos da dívida pública, os treasuries. Esses títulos são considerados ativos seguros, e investidores de todo o mundo os compram, principalmente em tempos de incerteza. Isso aumenta a demanda por dólares, pois esses títulos são emitidos e pagos em dólar, elevando seu valor de forma global", explicou Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

O aumento do risco fiscal nos Estados Unidos chegou a contaminar a bolsa brasileira. O déficit, segundo especialistas, poderia levar o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) a mudar de direção e aumentar as taxas de juros. Foi o que disse Ariane Benedito, cofundadora e economista-chefe da Eai Invest. "O mercado teme que talvez o Fed não consiga mais fazer o ciclo de cortes que se esperava", disse ela.

Mas a moeda virou

À tarde, porém, o ritmo de alta do dólar foi se enfraquecendo. Segundo Ariane Benedito, isso aconteceu depois que o presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, falou, nos EUA, que ainda prevê "alguns cortes mais modestos nos próximos trimestres para chegar a uma taxa próxima do neutro".

Quem tinha dólar, também começou a vender, para realizar lucro. "O dólar acabou fechando em queda pois o mercado está aproveitando para aferir lucro. Algumas ordens, já programadas para "stop loss" (venda automática) foram acionadas. Com muita gente aproveitando para realizar lucro, o dólar virou o sinal e caiu", explico Gusmão, da Ourominas.

China

Mais uma vez, notícias vindas da China ajudaram o Ibovespa a não cair tanto. O Banco do Povo da China (PBoC, banco central do país) cortou as principais taxas de juros em 0,25 pontos percentuais, segundo comunicado divulgado pela instituição. Isso ajudou o Ibovespa a não cair tanto durante o pregão.

Há quase um mês, a China vem tomando medidas para estimular a economia e tentar chegar a 5% de crescimento este ano. Desta vez, a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR) de 1 ano foi reduzida de 3,35% para 3,1%, enquanto a de 5 anos passou de 3,85% para 3,6%. É o terceiro corte este ano. A perda de ritmo da economia chinesa tem potencial para inibir investimentos e afetar as exportações nacionais. Mas a China tem ajudado o Ibovespa a cada vez que um medida é anunciada.

Desta vez, embora esperado, a análise é de que o corte não vai ser suficiente para animar o mercado chinês. O custo e a oferta de dinheiro não são o problema real na China. O problema real é a falta de demanda. Por isso, especialistas acreditam que mais estímulos fiscais são necessários.

Petróleo

O aumento das tensões no Oriente Médio fez o preço subir nesta segunda-feira. O tipo Brent subiu 1,68% a US$ 74,29 por barril e o WTI, 1,94% (US$ 70,56). Mas nem isso ajudou as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4). PETR3 fechou em R$ 39,70, perdendo 1,66%, enquanto PETR4 terminou o dia a R$ 36,23, com queda de 1,63%.

Focus

A estimativa de inflação do Boletim Focus subiu de 4,39% para 4,50%, exatamente no teto da meta. Um mês antes, ela estava em 4,35%. A pesquisa do Banco Central com cerca de 100 instituições financeiras também aponta que o dólar deve chegar ao final do ano em R$ 5,42, interrompendo uma sequência de três semanas de estabilidade. A estimativa anterior era de R$ 5,40.

Notícias