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Por que as pesquisas Datafolha e Quaest acertaram mais nas eleições de 2024

Datafolha diz que pesquisadores sofreram menos hostilidade nas eleições de 2024 - Danilo Verpa - 17.mai.2024/Folhapress
Datafolha diz que pesquisadores sofreram menos hostilidade nas eleições de 2024 Imagem: Danilo Verpa - 17.mai.2024/Folhapress
do UOL

Do UOL, em São Paulo

10/10/2024 05h30

O Datafolha e a Quaest, que fizeram pesquisas de opinião presenciais nas eleições de 2024, acertaram mais do que em 2022. A aproximação maior do resultado das urnas, segundo os institutos, é fruto de uma calibragem das sondagens, de dados populacionais mais atualizados e de um contexto menos hostil a pesquisadores do que havia há dois anos.

O que aconteceu

Com a entrada de Pablo Marçal (PRTB), disputa embolada em São Paulo foi apontada durante toda a campanha. Esse cenário se arrastou até a véspera das eleições, com o Datafolha e a Quaest mostrando um empate técnico triplo entre Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e o ex-coach. E foi o que se confirmou nas urnas: Nunes (29,48%) e Boulos (29,07%) foram ao segundo turno com pequena vantagem em relação a Marçal (28,14%).

Índice de acerto foi maior que na disputa entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno de 2022. Na véspera do pleito daquele ano, o Datafolha mostrou Lula com 50% dos votos válidos, e Bolsonaro com 36%. Já a Quaest apontou o petista com 49% e Bolsonaro com 38% — segundo as duas pesquisas, Lula tinha chances de liquidar a disputa ainda na primeira etapa. Mas o primeiro turno terminou com 48,43% dos votos para Lula e 43,2% para Bolsonaro.

Datafolha diz que atualização do Censo ajudou a calibrar amostra da pesquisa. Devido à pandemia, o IBGE, que já enfrentava falta de verba para contratar recenseadores, atrasou a coleta de dados populacionais no Brasil. Como consequência a coleta prevista para 2020 só foi realizada em 2022, com divulgação em 2023. "Esse foi um dificultador a mais que a gente teve. Quanto mais informações a gente tem e quanto mais elas estão atualizadas, melhor para a gente [para fazer a pesquisa]", diz Luciana Chong, diretora do Datafolha.

Além do "apagão" de dados, perseguição a pesquisadores do Datafolha "afastou" números da realidade em 2022. "No 7 de Setembro de 2022, Bolsonaro foi à Paulista e disse para as pessoas não responderem o Datafolha. Era uma campanha muito grande contra o instituto. Existia um contexto de desafiar a ciência e de muita hostilidade aos pesquisadores", afirma Chong. Durante essa manifestação, o ex-presidente chamou o instituto de "mentiroso".

Os eleitores bolsonaristas realmente queriam tumultuar, e isso nos distanciou mais da realidade, porque muitos pesquisadores tinham medo de ir para a rua. O clima foi muito tenso em 2022
Luciana Chong, diretora do Datafolha

Pesquisador do Datafolha foi agredido e ameaçado com faca em 2022. O incidente ocorreu em 20 de setembro, em Ariranha (SP), a 388 quilômetros da capital paulista. Enquanto fazia uma das entrevistas, o funcionário foi hostilizado por um homem que também queria ser ouvido. "Só pega Lula" e "vagabundo" foram alguns dos termos gritados pelo bolsonarista no meio da rua.

Tinha muito isso de os eleitores perseguirem os pesquisadores, gravando e publicando nas redes sociais, dando a impressão de que havia algum tipo de manipulação, quando, na verdade, é um critério, os entrevistados não podem ser voluntários
Luciana Chong, diretora do Datafolha

Quaest mudou metodologia de pesquisa após constatar alta abstenção de eleitores de Lula. Segundo Felipe Nunes, diretor do instituto, o norte de Minas Gerais e o sul da Bahia, por exemplo, regiões onde o petista é mais forte, registraram abstenção entre 30% e 40% no primeiro turno de 2022. A Quaest então passou a calcular a predisposição da amostra em comparecer às urnas, além de perguntar a intenção de voto dos entrevistados.

A partir do segundo turno, nós passamos a fazer uma ponderação considerando a intenção de votos dos entrevistados com a probabilidade que eles tinham de sair de casa para votar. A eleição deste ano foi a primeira municipal que fizemos em que o viés de abstenção foi utilizado
Felipe Nunes, diretor da Quaest

Mudança aproximou a Quaest do resultado no segundo turno de 2022 e serviu de teste para pleito deste ano. Na véspera de 30 de outubro, dia do confronto direto entre Lula e Bolsonaro nas urnas, a Quaest mostrou o petista com 52%, contra 48% do adversário — Lula saiu vitorioso com 50,9%, e Bolsonaro ficou com 49,1%. "Nós percebemos que o eleitor do Lula declara voto nele como diz que vai tomar uma cerveja e depois não vai ao bar", diz o diretor do instituto.

A AtlasIntel errou, diferentemente do Datafolha e da Quaest. O instituto, que faz entrevistas em questionários aplicados pela internet, mostrou, por exemplo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) com 20% das intenções de voto ao fim da corrida eleitoral —portanto, fora do segundo turno contra Boulos. Para o CEO da AtlasIntel, Andrei Roman, se soma ao fator das decisões de voto em última hora o período de realização das entrevistas da pesquisa, que foi de 29 de setembro a 4 outubro.

As maiores divergências ocorreram por ondas de voto útil, algo que é bastante simples de entender. Qualquer eleitor em São Paulo lembra bem como foi o dia da votação e o número de amigos e familiares que definiram o voto de última hora
Andrei Roman, CEO da AtlasIntel

Laudo falso de Marçal contra Boulos também teria influenciado resultado em São Paulo, afirma AtlasIntel. Em nota divulgada nas redes sociais dois dias após o primeiro turno, o instituto disse que, se não fosse o documento forjado divulgado pelo ex-coach na noite sexta-feira (4), Boulos e Marçal iriam para o segundo turno. Ainda segundo o instituto, o movimento de queda de Marçal, e consequente subida de Nunes, não foi captado pela última sondagem porque as entrevistas já tinham sido encerradas no horário dos acontecimentos.

Todas as pesquisas divulgadas durante o período precisam de um cadastro prévio no TSE, motivo pelo qual uma ou outra pesquisa capturando o impacto desse evento de última hora não pôde ser realizada
AtlasIntel, em nota publicada nas redes sociais

AtlasIntel foi o instituto que mais se aproximou do primeiro turno presidencial de 2022. Há dois anos, a pesquisa da véspera realizada pela empresa mostrou com maior precisão as intenções de voto em Bolsonaro (41,1%). O ex-presidente registrou 43,2% no primeiro turno, enquanto Datafolha e Quaest apontaram Bolsonaro com 36% e 38%, respectivamente.