Um patife quer ser prefeito. Reaja, São Paulo!
Com um orçamento de R$ 112 bilhões, São Paulo é uma cidade próspera, que acolhe a todos para trabalhar e progredir. É a cidade do teatro, da cultura, da vida que vale a pena ser vivida. Ao mesmo tempo, remanescem desigualdades patentes, que só poderão ser combatidas por gente preparada e com espírito público.
Preparo significa experiência, conhecimento dos problemas, poder de convocação de bons auxiliares, capacidade de transformar e liderar. Só para deixar claro.
Nossa cidade não admitirá um aventureiro boçal, um beócio que não sabe onde fica a Praça da Sé, que propõe teleféricos para transportar milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Pablo Marçal consegue deixar no chinelo até mesmo as lembranças que possamos ter sobre aquele Levy Fidelix, o homem do aerotrem.
O fenômeno Pablo Marçal precisa ser compreendido. Raul Juste Lores, em coluna para o UOL, explorou bem do que se trata. Por que cerca de um quinto da população manifesta intenção de votar numa figura nefasta e debochada, cuja calhordice parece servir bem a caracterizá-lo?
Perdemo-nos nos caminhos da política. A política é a mais nobre das profissões, porque só com ela se promove o bem ao maior número de pessoas da forma mais eficiente possível. Política é amor ao próximo traduzido em atividade constante do Estado na formulação e execução de políticas públicas. Tudo isso manejando bem o dinheiro público, que é escasso e valioso.
Não é missão para amadores.
O desencanto com a política, o distanciamento das instituições democráticas do povo e a desesperança precisam dar lugar a um novo compromisso coletivo em torno do bem maior. O laboratório em que se transformou esta eleição para o comando da cidade mais importante da América Latina precisa servir para nos despertar a todos ao que realmente importa.
Não se pode culpar a quem cogita escolher pelo lado negro da força. Ele atrai pela fanfarronice, ao vender a ilusão de que, se todos seriam farinha do mesmo saco, então ele — um suposto outsider — seria a solução. Mário Covas já dizia: o povo nunca erra nas suas escolhas, mas muitas vezes está mal informado.
E é precisamente este o espírito que precisa ser espalhado nesses últimos dias antes da eleição. É preciso escancarar os fatos, que estão à larga divulgados pela imprensa em matérias jornalísticas sérias. Recomendo o recente artigo da jornalista Vera Magalhães no jornal "O Globo".
O histórico dessa figura que quer assumir a prefeitura da capital paulista é conhecido. Basta uma pesquisa rápida no Google para ficar de cabelo em pé. Basta ler os jornais, basta ouvir meia dúzia de discursos do coach picareta, basta observar a sua falta de educação, de boas maneiras, de respeito pelo interlocutor, seja ele quem for: jornalista, outro candidato e até mesmo uma vítima dos seus "cursos".
Essa brincadeira de mau gosto chegou longe. A decisão é no próximo domingo. O que se espera é um segundo turno entre pessoas que minimamente consigam se expressar sobre a cidade, apresentem propostas e histórias de vida, bem como valores pessoais alinhados aos grandes desafios de São Paulo.
Se um sacripanta consegue sobreviver na disputa eleitoral, até este momento, há que se debater também a baixa efetividade de parte das instituições responsáveis pela garantia de pleitos justos e limpos. Fato é que ele aí está e será preciso fazer como Mário Covas, disputando com Paulo Maluf (que, diga-se, nem se compara ao que aí está). Na ocasião, ele mostrou o que realmente estava em jogo: caráter, valores e propósitos. História de vida.
Os oponentes de Marçal têm de evidenciar exatamente isso. Não se trata apenas de debater propostas. Neste campo, há muito por falar e formular. Contra o torpe, o ignóbil e o infame, é preciso firmeza e inteligência para que se desmonte o castelo de cartas erguido em cima da fumaça, do desvario e do ilusionismo.
A omissão é o pior dos erros que se pode cometer. Todos os cidadãos paulistanos, formadores de opinião, profissionais das mais diferentes áreas, políticos, jornalistas e moradores que amam São Paulo precisam se unir e não se calar.
Lá no fundo, mesmo os que declaram sua intenção de votar nessa desgraça sabem que estão diante de um salafrário. A melhor cadeirada que se pode dar é a da perspicácia contra a tibieza. Sim, a debilidade está ali, escondida na atuação agressiva, nos ataques a quem cruze seu caminho, no desrespeito, na postura antiética, no modus operandi.
São Paulo merece um futuro digno, à altura da sua grandeza, da sua beleza e dos tantos e tantos desafios nas áreas social, educacional, de saúde pública e de segurança. Uma cidade plural como a nossa não tem espaço para patifes.
Se um patife quer ser prefeito de São Paulo, cabe a todos nós o confronto, a união e a mobilização para afastar as garras desse coach de meia pataca dos cofres públicos e das rédeas do município.
Reaja, São Paulo!
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