Cobrança exagerada e mais 9 erros que pais cometem com filhos adolescentes
A adolescência é um período complicado para pais e filhos. As relações ficam mais difíceis, as preocupações aumentam e é preciso administrar com calma essa fase cheia de experiências novas para os jovens.
Para evitar o distanciamento, especialistas listam dez erros comuns cometidos pelos pais em relação aos adolescentes.
1. Não entender que os filhos cresceram
As crianças são muito ligadas aos pais. Mas, na adolescência, há um afastamento natural, para que os filhos possam testar sua independência e autonomia. E isso não significa que os jovens não gostam mais de seus pais. Os adultos devem entender esse momento e dar mais liberdade (claro, com limites).
Não dá para permitir tudo, mas é um erro impedir que os adolescentes tenham experiências novas, afinal, eles cresceram e precisam disso para a construção da identidade.
2. Minimizar as descobertas
Os pais costumam dizer aos filhos que sabem perfeitamente pelo que eles estão passando, pois já viveram tudo aquilo. E, portanto, acham que podem dizer qual é o melhor caminho. Isso é um erro.
É preciso respeitar o momento do filho, sem impor seu modo de pensar. Por mais que tenhamos ideia de como é, agora é a vez deles. É impossível impedir o sofrimento dos filhos. Todos têm tristezas e dificuldades. Os jovens também.
3. Não saber como controlá-los
Os adolescentes se consideram maduros e não gostam de dar satisfações. Mas precisam. E o ideal é fazer com que isso aconteça naturalmente, sem a necessidade de cobrar explicações. Se os adolescentes são tratados com respeito, geralmente, retribuem da mesma maneira.
Pais que julgam bloqueiam os filhos, que se fecham. Em uma relação saudável, as conversas fluem normalmente. Isso inclui falar sobre o que estão passando, apresentar os amigos, compartilhar as experiências. O conselho é dar espaço para que o filho se abra, sem que sinta medo de ser julgado. Quebre o clima de tensão entre vocês com bom humor.
4. Exagerar nas cobranças
A adolescência é uma fase de muitas cobranças. Os pais querem que os filhos tenham um bom futuro, estudem, tenham boas companhias, criem responsabilidade, não se envolvam com drogas... A sugestão é escolher a forma certa de cobrar.
Os pais devem ser afetuosos, senão não funciona. A cobrança precisa ser intercalada com carinho, diversão, momentos descontraídos e diálogos. Muita pressão cansa os dois lados: adolescentes e pais.
5. Não saber dar liberdade
Podar demais não dá certo. Deixe que o seu filho durma na casa dos amigos. Ligue para os pais do amigo, certifique-se de que é seguro e permita.
No geral, os pais têm dificuldade para saber qual é o momento certo de permitir que os filhos saiam à noite. Aos 15 ou 16 anos, eles querem chegar mais tarde em casa. Querem ir para as baladas. Deixe-os ir, mas é importante ir buscá-los, para ver como saem dessa balada (se estão com os olhos vermelhos ou bêbados, por exemplo). Combine um horário condizente com a idade e a maturidade do seu filho.
6. Demonstrar falta de confiança
Certificar-se de que o seu filho está em segurança é bem diferente de vigiá-lo. O filho pensa que, se o pai não confia nele, pode fazer o certo ou o errado, pois não fará diferença.
Investigar exageradamente não estimula a responsabilidade. Gera um clima de desconfiança — e as relações íntimas são baseadas na confiança. Diga para o seu filho que quer se assegurar de que ele estará bem e informe-se, mas não aja às escondidas.
7. Desesperar-se nas crises
Os adolescentes dão trabalho. Mas é essencial agir com cautela. As reações precisam ser proporcionais aos fatos. Se o seu filho entrou em coma alcoólico é uma coisa, se chega cheirando a bebida é outra. Os pais devem hierarquizar a gravidade dos problemas.
Ter uma reação desmedida (ou dar broncas muito frequentes) estimula o filho a mentir. Para o adolescente, o problema é a bronca. Ele não pondera se suas atitudes podem ser perigosas. Por isso, converse com calma, para entender as razões que o levaram a fazer escolhas erradas. Descubra se é algo frequente e explique as consequências.
8. Constranger os filhos
Na adolescência, é comum os filhos terem vergonha dos pais. Tente compreender isso. Os pais são munidos de informações que podem envergonhar o filho diante dos amigos. Particularidades que só os pais sabem, mas que o jovem não quer que sejam reveladas.
Os adultos precisam evitar expor a intimidade dos filhos, pois, muitas vezes, o deixam constrangido. Evite, também, estender muito as conversas com os amigos dele. Pais que querem ser amigos não estão sendo bons pais. A relação precisa ser hierárquica. Isso não significa que tenha de ser ruim. A diferença é que, com amigos, temos relações de igual para igual. Entre pais e filhos não é assim.
9. Colocar seu filho em um altar
Pare de pensar que ninguém está à altura do seu filho. É comum os pais colocarem defeitos em todos os amigos e, principalmente, nos namorados que os adolescentes têm.
O excesso de julgamento faz com que os filhos se fechem. O resultado de tantas críticas é que os filhos passam a esconder namorados e amigos dos pais. Eles perdem a vontade de apresentar pessoas com quem convivem e começam a ficar mais na rua do que dentro de casa.
10. Fazer chantagens
Ameaçar cortar a mesada, caso o filho não obedeça, é muito comum. Assim como dizer que, enquanto ele viver às suas custas, não poderá tomar certas atitudes. Isso é uma chantagem e não educa. Os pais devem explicar as razões que os levam a proibir determinados comportamentos. Com ameaças, o jovem apenas obedece para não perder um benefício.
Agindo assim, a relação entre pais e filhos fica muito rasa. É como beber e dirigir: quem não faz, pois sabe que é perigoso para si e para as outras pessoas, compreende o problema. Quem deixa de fazer apenas por medo da multa, não entende os riscos.
Fontes: Cecília Zylberstajn, psicoterapeuta; e Marina Vasconcellos, psicóloga
*Com informações de reportagem publicada em 13/04/2024
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