Queda de juros nos EUA impulsiona mercados na Ásia e Europa
Os mercados globais atuam no verde nesta quinta-feira (19), na sequência da decisão da Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, de reduzir a sua taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, agora entre 4,75% e 5%. O início da flexibilização monetária na maior economia do planeta era aguardado há meses pelos mercados. Essa foi a primeira redução em quatro anos e meio.
Em repercussão, as bolsas europeias negociavam em forte alta nesta manhã, com os investidores otimistas após o corte da taxa pela Fed. Paris abriu o pregão com 1,10%, Londres ganhou 0,64%, Frankfurt seguiu a mesma tendência (+0,56%), assim como Milão (+0,86%).
Na Ásia, a bolsa de Tóquio fechou esta quinta-feira em alta, impulsionada pelo enfraquecimento do iene, que também vinha fortalecido. O principal índice, Nikkei, subiu 2,13%, atingindo 37.155,33 pontos, e o índice mais amplo, Topix, ganhou 2,01%, a 2.616,87 pontos.
No Brasil, a decisão da Fed levou o Banco Central brasileiro a voltar a subir a sua taxa básica em 0,25 ponto percentual, para 10,75% - foi o primeiro aumento desde agosto de 2022. A medida representa um revés para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O primeiro aumento em dois anos foi decidido por unanimidade pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, que não descartam um novo aumento na próxima reunião, no início de novembro, devido às incertezas sobre os rumos da inflação no país.
Jerome Powell promete cautela
A bolsa de Valores de Nova York encerrou a quarta-feira em queda, com alguns investidores lamentando o tom comedido do presidente do Fed, Jerome Powell, em relação às próximas reuniões da instituição. O Dow Jones caiu 0,25%, o índice Nasdaq perdeu 0,31% e o índice mais amplo S&P 500 perdeu 0,29% no final da sessão, depois de os índices terem oscilado entre o vermelho e o verde.
Jerome Powell insistiu no fato de que a instituição iria "avançar com cautela" e que não deixaria de fazer uma pausa no seu ciclo de flexibilização monetária se as condições justificassem. "Tudo dependerá de como a economia vai evoluir", disse o presidente do Fed.
"Para além do corte das taxas em si", o discurso de Jerome Powell colocou a ênfase "no mercado de trabalho", aponta Stephen Innes, analista da SPI Asset Management, para quem "a Fed está tentando encontrar um melhor equilíbrio entre emprego e inflação".
"A questão a longo prazo é como o mercado interpretará essa primeira queda", afirma Christopher Dembik, consultor de investimentos da Pictet AM, que conta com uma "volatilidade" que deverá "permanecer muito elevada nas ações no curto prazo, em um contexto de fraca liquidez".
Historicamente, uma queda nas taxas é "positiva" para os mercados financeiros, "quando a economia não está em recessão", indica John Plassard, especialista em investimentos da Mirabeau. Neste contexto, a taxa de empréstimo americano de dois anos situava-se em 3,59% na abertura dos pregões europeus, face aos 3,62% do dia anterior.
Impacto na campanha eleitoral americana
A queda dos juros deve ajudar a restaurar o poder aquisitivo das famílias americanas, encurraladas entre a inflação elevada e o custo elevado do crédito. Embora a Fed seja independente do poder político, a um mês e meio do duelo entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump, a decisão poderá dar um impulso à campanha da atual vice-presidente de Joe Biden.
Kamala Harris saudou as "boas notícias para os americanos" e Joe Biden falou de um "momento importante."
Mas para Donald Trump, este corte alto no índice mostra "que a economia está em muito má situação". O republicano também acusou a direção da Fed de " entrar no jogo político".
O presidente da instituição garantiu, no entanto, durante a sua coletiva de imprensa, que as considerações políticas não foram levadas em conta nas suas decisões: "Nós nos perguntamos: qual é a coisa certa a fazer pelas pessoas que servimos? (...) Nada mais se discute", disse Jerome Powell. "Não estamos a serviço de nenhum representante político, de nenhuma figura política, de nenhuma causa, de qualquer questão", reagiu, acrescentando que "é assim também que os outros bancos centrais estão se organizando".
Com informações da AFP
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