Topo
Notícias

OPINIÃO

Por que você nunca deve comprar carro que sobreviveu a uma enchente

Inteligência artificial
Imagem: Inteligência artificial
do UOL

Colunista do UOL

19/09/2024 12h00

Essa semana me deparei com um artigo favorável à compra de carros que passaram por enchente. Precisei ler o título mais de uma vez, pois parecia que não estava entendendo direito, mas era sobre isso mesmo.

Depois de ler o artigo por completo, notei que tinha sido escrito pelo presidente de uma empresa que leiloa carros, e com isso passou a fazer sentido sua defesa pela compra de veículos que passaram por enchente.

Ocorre que esse tema é bem pertinente. Há poucos meses o mundo viu o que aconteceu em várias cidades da região Sul do país, que sofreram com enchentes terríveis. Milhares de carros foram afetados, e alguns ficaram dias alagados. É de se imaginar que os pátios dos leilões estão lotados de veículos que passaram por isso.

Estava claro que, cedo ou tarde, parte dessa frota seria recuperada para voltar a circular nas ruas. O problema é que esse tipo de carro tem tudo para ser uma eterna bomba. Por melhor que seja a restauração, sempre ficará alguma coisa para trás que apresentará problemas no futuro.

O autor do artigo alega uma possível vantagem financeira em comprar carros nessas condições. Mas adianto que, no mundo real, ela não existe. É certo que quem já conhece os caminhos para recuperar um veículo conseguem ganhar dinheiro com isso. Porém, essas mesmas pessoas tem sempre em mente que estão recuperando automóveis para poder revender. Elas jamais ficam com eles, portanto o custo da restauração é sempre o menor possível.

Basta fazer um paralelo com o universo de carros antigos para entender melhor. Por exemplo, quem deseja restaurar um Volkswagen Fusca antigo para uso próprio não mede tempo ou esforços financeiros para deixar o carro com a melhor aparência possível.

Nesses casos, é certo que o investimento em uma reforma bem feita ultrapasse o valor de mercado do carro, mas como é para uso próprio, para alimentar um desejo pessoal, isso não tem tanta relevância. Já quem deseja ganhar dinheiro dificilmente vai optar por restaurar do jeito certo. Provavelmente colocará tudo na ponta do lápis e priorizará somente o que for necessário para deixar o veículo apresentável e com margem para ter lucro.

É exatamente assim com quem compra carros de enchente em leilões. Esse comprador paga barato, mas sabe que precisa fazer o mínimo de coisas possíveis para deixar o automóvel funcional e conseguir um bom lucro nele. Para uso próprio, jamais. Ele sabe que é o tipo de modelo que sempre apresentará problemas.

Para quem não sabe, os carros atuais são equipados com muitos módulos eletrônicos, que são inimigos da água. Quando submersos, eles são seriamente danificados, mas nem sempre apresentam problemas de imediato.

Vamos pensar em algo bem simples, como a pequena placa eletrônica em um botão de vidro elétrico. Um carro de enchente pode estar no presente momento com os vidros elétricos funcionais, portanto o restaurador não vai atuar nisso, mas essa placa que ficou submersa vai oxidando com o tempo e pode apresentar problemas quando o carro já estiver nas mãos de outra pessoa. Multiplique isso para as outras centenas de placas e módulos eletrônicos.

Ou seja, não basta uma boa limpeza e higienização em um carro de enchente. A probabilidade dele apresentar problemas precoces e chatos de serem resolvidos é muito grande. Esse tipo de carro costuma passar de mão em mão várias vezes, pois assim que o atual proprietário se depara com um problema já tenta passar a 'batata quente' para queimar na mão de outra pessoa, que vai fazer o mesmo no futuro.

Outro ponto defendido pelo autor do artigo é o impacto positivo no meio ambiente, por evitar o descarte de um carro que pode voltar a circular. Francamente, quem quer ajudar o meio ambiente com uma bomba na garagem? Será que, diante dessas 'vantagens', ele aproveitou para ficar com um desses veículos?

Portanto, não se engane. Carros de enchente são verdadeiras ciladas que não recomendo para ninguém. Quando se deparar com um que já tenha sido recuperado, não caia na tentação do preço de venda mais barato.

Primeiro porque é provável que esse ganho financeiro será perdido nos reparos dos problemas futuros, e também porque será sempre uma dor de cabeça para repassar para outra pessoa, que vai querer pagar mais barato.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.

Notícias