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BC aponta economia aquecida para subir juros, mas atividade já desacelera

do UOL

Colunista do UOL

19/09/2024 12h22

As razões para a decisão de subir a taxa básica de juros (taxa Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,5% ao ano para 10,75%, desta vez ficaram claras no comunicado emitido pelo Copom (Comitê de Política Monetária), depois da reunião nesta quarta-feira (18).

Na visão dos diretores do Banco Central, que integram o colegiado, a economia está aquecida e operando além de sua capacidade, o que é fator de pressão inflacionária.

Atividade acima da capacidade

De um "hiato de produto" negativo até há alguns meses — ou seja, a economia operava abaixo da capacidade existente —, o Copom passou a estimar um hiato neutro e agora, no comunicado da reunião de setembro, informou calcular um hiato positivo.

O "hiato do produto" é a medida da diferença entre o potencial de expansão da economia e o crescimento constatado nas estatísticas do PIB (Produto Interno Bruto). O problema é que essa medida não é constatável ou verificável, apenas pode ser estimada. As estimativas correntes do crescimento potencial da economia variam, no momento, de 2% a 2,5%.

Hiato positivo significa que a demanda está mais forte do que a oferta, o que leva a uma tendência de alta dos preços e elevação da inflação. Nesses casos, a função da política monetária, que tem como principal objetivo manter a inflação dentro das metas determinadas, baixar a fervura, esfriar a demanda.

À luz das condições atuais da economia, em resumo, a decisão do Copom de elevar os juros básicos faz sentido e tem suporte técnico.

Desaceleração na frente

A questão que fica, porém, é como estará a economia no futuro próximo, uma vez que os efeitos da política de juros sobre a atividade operam com defasagens — estas são estimadas no Brasil para períodos de seis a oito meses.

Se a economia, em meados de 2025, quando se espera que juros mais altos fixados agora moderem a marcha da atividade e as altas de preços, estiver em desaceleração, o movimento de subida da taxa Selic terá então se revelado precipitado e prejudicial.

Embora no governo exista mais otimismo, inclusive com o presidente Lula aguardando crescimento de 3,5% em 2024, há praticamente consenso de que a atividade, depois do segundo trimestre de 2024, entrará em desaceleração no segundo semestre, fazendo com que a atividade encerre o ano com expansão em torno de 3%. Essa provável desaceleração fica mais evidente quando se observa que, se continuasse crescendo no ritmo registrado no primeiro semestre, a alta do PIB no ano ficaria em 5%, acima de 3% ou mesmo de 3,5% agora projetados.

Dólar deve valer menos

Também a diferença entre os juros básicos no Brasil e nos Estados Unidos, agora que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) iniciou, com corte de 0,5 ponto, um ciclo de reduções nos Fed Funds, a taxa básica americana, tende a promover uma valorização do real ante o dólar, colaborando para aliviar a inflação à frente.

Ainda restaria saber o que acontecerá mais para meados de 2025 com as altas de preços previstas para os próximos meses, derivadas de eventos climáticos, como a severa estiagem que atinge o país no momento e pressiona tarifas de energia e preços de alimentos. Não consenso, além disso, sobre os impactos da política de juros, que tende a refrear a atividade econômica, sobre aumentos de preços com origem em causas climáticas, cujos efeitos tendem a ser temporários.

Analistas projetam juros mais altos

Nos cálculos dos analistas de mercado, porém, a inflação não está dando trégua e deve exigir mais altas nos juros básicos, para encaminhar a convergência para o centro da meta e ancorar expectativas nessa direção.

Há quem ache, por exemplo, que levar a inflação para o centro da meta de 3%, mesmo mais na frente, no começo de 2026, exigiria conduzir a Selic até 13,5%. Parece um certo exagero, mas, na média, o pessoal do mercado concorda que novas altas seriam necessárias.

Existem divergências sobre até onde o Copom deveria subir a taxa básica, mas são pequenas. A maioria aposta em que os juros básicos terminarão 2024 em 11,5% ou 11,75%, com o ciclo de alta encerrando nos primeiros meses de 2025 no nível de 12%.

Seriam, portanto, no caso de fechar 2024 com Selic a 11,75%, subidas mais fortes de 0,5 ponto, nos Copom de novembro e dezembro, últimos de Roberto Campos Neto na presidência, e mais 0,25 ponto, na primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo, se o Senado aprovar sua indicação, em janeiro de 2025.

Risco de Selic excessiva

Caso se confirme o cenário de desaceleração da atividade e de redução das pressões inflacionárias, se também a taxa de câmbio recuar, o risco é o de o Copom ser obrigado a correr para reduzir os prejuízos causados por altas de juros depois reveladas desnecessárias.

Não custa lembrar que movimentos de cortes mais acelerados da Selic para desfazer altas excessivas não são novidade na história do Copom.

Dias antes da quebra do banco Lehman Brothers, início concreto do grande crash global de 2008, por exemplo, o Copom, no segundo governo Lula e sob a presidência de Henrique Meirelles, elevou os juros básicos a 13,75%. Em 2009, com a economia em forte desaceleração, iniciou uma corrida acelerada, promovendo um corte inédito de 5 pontos, até julho daquele ano, com reduções incomuns de 1 ponto e 1,5 ponto por reunião do Copom.

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