Acusado de estuprar Gisèle Pelicot na França reconhece que nunca obteve seu 'consentimento'
Um dos acusados de estuprar Gisèle Pelicot na França se declarou culpado nesta quinta-feira (19) após reconhecer que nunca obteve seu "consentimento", e pediu perdão a essa mulher, cujo marido a drogava, por participar de seu "pesadelo".
Ante o tribunal de Avignon, no sul da França, Lionel R., de 44 anos e um dos 51 homens julgados, confirmou rapidamente que reconhecia os fatos de estupro cometidos em 2 de dezembro de 2018.
"Nunca tive a intenção [de estuprá-la], mas nunca obtive o consentimento da senhora Pelicot, apenas posso constatar os fatos", declarou esse homem.
Em meio ao seu interrogatório, esse vendedor e pai de dois filhos se dirigiu à principal vítima para se desculpar: "Sei que é muito tarde. Nunca quis machucá-la e, no entanto, fiz isso. Lhe peço perdão".
"É horrível pensar que fiz parte desse pesadelo. Essas desculpas não mudarão nada, mas queria apresentá-las de todas as formas", acrescentou o homem, que se divorciou de sua esposa após passar um ano em prisão preventiva por causa desse caso.
Gisèle Pelicot, de 71 anos e sentada ao lado de sua filha na sala, o escutou impassível. No dia anterior, a mulher, que se tornou um símbolo da luta contra a submissão química na França e no mundo, expressou pela primeira vez sua raiva.
"Um estupro é um estupro", disse a vítima, que assegurou se sentir "humilhada" por alguns advogados de defesa que afirmam que seus clientes pensavam participar das fantasias de um casal libertino, algo que ela nega.
Lionel R., que praticava troca de casais, pôs em xeque a teoria da defesa, ao assegurar que o agora ex-marido da vítima, Dominique Pelicot, o contactou por meio do polêmico site Coco.fr para lhe propor "algo um pouco original".
- Arrependimento tardio -
Dominique Pelicot reconheceu durante o midiático julgamento iniciado em 2 de setembro que administrou ansiolíticos em sua então esposa para adormecê-la, estuprá-la e para que dezenas de homens a estuprassem entre 2011 e 2020.
"É uma questão de medicação. Uma vez ela os toma, outra vez ele os dá a ela. Não está muito claro, mas estou convencido de que é um jogo, então nem questiono. Nunca me passou pela cabeça que ela não estivesse ciente disso. Esse foi meu primeiro grande erro", lembrou Lionel R.
Quando chegou à casa do casal, ele foi até o quarto onde a mulher inconsciente estava deitada e a penetrou.
"Eu faço o que ele me diz para fazer. Ele é muito mandão. Eu não dou desculpas (...) Em um determinado momento, ela se mexe muito, ele me manda sair e eu percebo que há um problema", disse o acusado.
No início da audiência, o homem, que pode pegar 20 anos de prisão como os outros 51 acusados, falou sobre sua personalidade e sua vida.
"Não posso me comparar à Sra. Pelicot. Acho que ninguém pode imaginar o pesadelo que ela viveu e ainda vive (...) Mas minha vida também desmoronou", disse o ex-alcoólatra.
O homem disse que começou a colocar sua vida de volta nos trilhos para tentar "ser um parceiro melhor" para sua nova parceira e "um pai melhor" para seus filhos.
"Ele se arrepende, mas talvez seja um pouco tarde", disse Dominique Pelicot ao tribunal, que negou ter dado ordens em seu caso: 'Naquele dia, droguei minha esposa no café da manhã a pedido dele (...) Ele insistiu em vir'.
Em seguida, foi a vez de Jacques C., um aposentado de 72 anos, que negou as acusações de estupro e admitiu apenas o toque.
O ex-bombeiro e gerente de pizzaria pediu desculpas a Gisèle Pelicot, dizendo que tinha "grande respeito" pelas mulheres, um pedido de desculpas "difícil de acreditar" para o advogado da vítima, Stéphane Babonneau.
siu/tjc/jvb/dd/aa
© Agence France-Presse
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