Por que, mesmo com a economia indo bem, o BC segue aumentando o juro
Mercado de trabalho aquecido, salários em alta, crescimento econômico acima do esperado e deflação. Esses indicadores poderiam sugerir que a economia brasileira está em boa forma, certo? Nem tanto.
Embora empresários como o presidente do conselho do BTG Pactual, André Esteves, afirmem que "estamos nos afogando em um copo d'água" ao comentar sobre a preocupação com a economia, essa visão parece ser isolada.
Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, levando-a a 10,75%. Entre os motivos para a elevação estão justamente fatores que, para alguns, são vistos como sinais positivos da economia.
Afinal, o que explica esse cenário? Por que dados econômicos que parecem positivos para alguns são considerados preocupantes para outros?
O "problema" de se ter mais empregos
Desemprego recua e atinge menor nível em três anos. O desemprego no Brasil caiu para 6,8% no trimestre encerrado em julho, uma redução de 1,1 ponto percentual.
O número de pessoas ocupadas no país alcançou o recorde de 102 milhões. O saldo de contratações superou as demissões pelo sétimo mês consecutivo. No mês de julho, foram criados 188.021 novos postos de trabalho com carteira assinada, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Mas, quando o desemprego diminui, a inflação cresce. O professor César Bergo, da Universidade de Brasília (UnB), aponta para a teoria da curva de Phillips, que estabelece uma relação entre pleno emprego e inflação. Para a teoria, quanto mais as pessoas trabalham, mais elas consomem e mais a inflação aumenta.Para a teoria, quanto mais as pessoas trabalham, mais elas consomem e mais a inflação aumenta. "Quando o desemprego chega a níveis historicamente baixos, você acaba tendo algumas pressões inflacionárias", afirma.
Presidente do BC diz que pleno emprego traz preocupação. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, é um dos que têm sinalizado preocupação com a queda do desemprego no Brasil com o argumento de que esse cenário eleva a pressão sobre a inflação do país.
Ao aumentar os juros, o BC pode reduzir a demanda, pois consumidores e empresas terão menos incentivo para gastar e investir. Isso pode levar a um aumento do desemprego, já que a atividade econômica diminui.
Felipe Nascimento, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
O "problema" do aumento dos salários
Assim como o emprego, o salário também aumentou. Ainda segundo o Caged, o salário médio de contratação subiu 2,19% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 2.161,37.
Aumento do trabalho leva a aumento dos salários e a aumento do consumo. Mauro Rochlin, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que essa maior demanda por produtos impacta a inflação e influencia as decisões do Banco Central sobre a política monetária. O aumento do trabalho pode elevar os salários, estimular o consumo e pressionar os preços.
Aumento da demanda pode gerar aumento da produção. Por outro lado, a professora Maria Lourdes Mollo, da UnB, argumenta que, em um primeiro momento, o aumento dos salários impulsiona a demanda, mas, a médio prazo, a capacidade produtiva também aumenta, mitigando o impacto inflacionário.
O "problema" do crescimento da economia
Economia brasileira cresce e supera expectativas do mercado financeiro. A soma de todos os bens e produtos finais da economia brasileira cresceu 3,3% no segundo trimestre de 2024, na comparação com o mesmo período do ano passado, mostram dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Maior consumo das famílias auxilia no desempenho do setor de serviços. Dentro do setor, foram registradas variações positivas de seguros e serviços relacionados (+4%), informação e comunicação (+6,1%), comércio (+4%) e atividades imobiliárias (+3,7%).
Mais uma vez, o consumo é entendido como vilão para a inflação. Entre os objetivos do aumento da taxa básica de juros está a redução do consumo, isso porque o consumo em alta pode significar aumento da inflação.
No entanto, aumentar a taxa de juros não é a única saída possível. Para conter a inflação que poderia ser gerada pelo aquecimento da economia, o Banco Central pode optar por outras medidas como implementar políticas que restrinjam a oferta de crédito excessivo e o controle e monitoramento de políticas monetárias.
O "problema" dos preços mesmo em queda
Deflação de agosto surpreende, mas não tranquiliza economistas. Em agosto, a inflação oficial do Brasil registrou uma deflação de 0,02%, conforme os dados do IBGE. Esse foi o primeiro recuo do IPCA desde junho do ano passado, mas especialistas continuam preocupados com o futuro da economia, mesmo com esse resultado.
Mesmo com a deflação de agosto, especialistas acreditam que preços podem voltar a subir. A alta dos preços pode continuar a ser impulsionada pelo crescimento do PIB e pela queda no desemprego, além do aumento no custo da energia, por conta da seca.
A deflação em um mês, sozinha, não garante mudanças imediatas na política de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) avalia os dados de inflação, câmbio, desemprego e crescimento do PIB antes de tomar novas decisões sobre a Selic, afirma Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos.
Meta de inflação é um parâmetro importante para a política econômica. O Brasil adota a meta de inflação, que para este ano é de 3%, com uma margem de 1,5 ponto percentual, variando entre 1,5% e 4,5%. Segundo o professor Giliad de Souza Silva, da Unifesspa, essa meta faz parte do tripé macroeconômico que garante estabilidade ao país, junto com o câmbio flutuante e o superávit primário.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.