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Violência política nos EUA: 'O mais preocupante será após divulgação do resultado', diz historiador

16/09/2024 15h42

Uma nova suposta tentativa de assassinato contra Donald Trump foi evitada no domingo (15) pelo Serviço Secreto norte-americano. O FBI continua investigando, enquanto Joe Biden e Kamala Harris dizem estar aliviados pelo fato do candidato republicano estar são e salvo. O atual chefe da Casa Branca acrescentou que todos os meios necessários seriam fornecidos para garantir a segurança de Trump e que não havia lugar para violência política nos EUA. Mas para o historiador André Kaspi, especialista em EUA, talvez seja tarde demais.

"A violência política nos Estados Unidos é uma decorrência direta da violência social no país", declarou André Kaspi à RFI. "Ao invés de trocar argumentos, alguns espíritos mais perturbados podem querer trocar golpes e balas. Talvez tenhamos passado de uma sociedade de discussão a outra baseada no conflito armado, que pode levar até mesmo a um assassinato", analisa.

Sobre as provocações do CEO da rede social X, o bilionário Elon Musk, que afirmou que ninguém ameaçava Joe Biden ou Kamala Harris, e depois apagou o tuíte, o especialista acredita que "não precisamos ler sua opinião para entendermos a origem da violência nos Estados Unidos". Segundo o historiador, "no fundo, é uma sociedade completamente dividida, fraturada, e é por isso que podemos dizer que pessoas mais turbulentas podem passar do debate à execução. É o que podemos constatar nessas duas tentativas de assassinato, sendo que a última poderia ter se tornado um verdadeiro drama", avalia.

Sobre a continuação da campanha política nos Estados Unidos, "é extremamente difícil fazer qualquer projeção", considera Kaspi. "Os dois candidatos estão colados nas pesquisas. (...) Mas o mais preocupante é o que vai se passar após o resultado das eleições, no 5 de novembro. Não sabemos exatamente se o vencido ou a vencida aceitarão por vontade própria sua derrota, ou se acontecerá uma espécie de revolta, que poderia tornar ainda mais dramática as relações sociais nos EUA", avalia.

"Donald Trump aproveita da posição de 'vítima' em que se coloca, afirmando que ele é o alvo de fanáticos. E, por outro lado, Kamala Harris tenta interpretar o papel de apaziguadora, de uma democracia atuante", analisa. "Depois de um século, o país instaurou o que chamamos de Serviço Secreto, que, aliás, não tem nada de secreto. E é preciso reforçar esse serviço para que cada um dos candidatos seja corretamente protegido e que não se torne a vítima de atiradores malucos que beneficiam de um acesso facilitado às armas. É preciso, em suma, apaziguar uma sociedade que não deseja ficar em paz", conclui o historiador e professor emérito da Sorbonne.

Trump tenta imputar nova tentativa de assassinato a Biden e Harris

Nesta segunda-feira (16), Donald Trump atribuiu diretamente a suposta tentativa de assassinato contra ele aos ataques do presidente Joe Biden e de sua adversária democrata, a vice-presidente Kamala Harris. A campanha norte-americana continua, portanto, sob a bandeira da violência, mais de dois meses depois de uma primeira tentativa de assassinato contra o candidato republicano, na corrida pela Casa Branca.

O suspeito "aderiu à retórica de Biden e Harris, e agiu de acordo", disse o ex-presidente republicano à Fox News, repetindo as acusações que já havia feito após a tentativa de assassinato contra ele em julho.

Ryan Wesley Routh, um norte-americano pró-ucraniano de 58 anos, que foi entrevistado pela AFP em 2022 em Kiev, para onde havia viajado em apoio ao povo ucraniano, foi levado a um juiz nesta segunda-feira na Flórida (sudeste). Ele foi acusado de posse ilegal de arma por causa de sua ficha criminal e por ter uma arma com um número de série apagado. Além dessas acusações, que acarretam penas máximas de 15 e cinco anos de prisão, respectivamente, espera-se que outras acusações sejam feitas contra ele em uma data posterior.

Nesta segunda-feira, Biden pediu "mais ajuda" para o Serviço Secreto, a força policial de elite responsável pela proteção das principais figuras políticas que, segundo ele, precisa de "mais pessoal", pedindo ao Congresso que libere recursos adicionais durante uma breve conversa com a imprensa na Casa Branca.

"A maior prioridade é obter respostas sobre como o presidente Trump pode ter sido vítima de várias tentativas de assassinato", comentou o chefe republicano da Câmara, Mike Johnson, um aliado próximo do bilionário, na rede X.

Trump "não é o presidente em exercício. Se fosse, teríamos cercado completamente o campo de golfe [onde ele estava no domingo]. Mas como ele não é o presidente, a segurança se limita aos locais escolhidos pelo Serviço Secreto", que "fez exatamente o que tinha de fazer", comentou Ric Bradshaw, xerife do condado de Palm Beach (Flórida), no domingo.

(Com AFP)

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