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Tarcísio vira arma de Nunes para chegar a bolsonaristas sem usar Bolsonaro

Ricardo Nunes (MDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) - Ronaldo Silca - 16.jan.2024/Estadão Conteúdo
Ricardo Nunes (MDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) Imagem: Ronaldo Silca - 16.jan.2024/Estadão Conteúdo
do UOL

Do UOL, em São Paulo

14/09/2024 05h30

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se tornou uma arma para o prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) chegar aos bolsonaristas em São Paulo sem precisar recorrer ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A alta aprovação e o trânsito político são trunfos a favor do chefe do Executivo paulista.

O que aconteceu

Aliados de Nunes veem Tarcísio como peça fundamental para interlocução com bolsonaristas e Bolsonaro. Segundo a equipe de campanha, o perfil político do prefeito se aproxima mais do governador do que do ex-presidente. Articuladores afirmam que Nunes é conservador, mas não é considerado um bolsonarista — ele é tido como um político moderado e centrista.

Metade dos eleitores de SP aprovam Tarcísio. Divulgado na quarta-feira (11), um levantamento da AtlasIntel indicou que a aprovação do governador em São Paulo (SP) é maior do que a do presidente Lula (PT), que tem 44%, e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem 28%.

Apesar de Bolsonaro não ter mergulhado na campanha, apoio do ex-presidente ainda é considerado importante, apontam articuladores. Quem faz a "liga" entre bolsonaristas e políticos de centro e bolsonaristas é Tarcísio. Exemplo disso foi a declaração surpresa do ex-presidente a Nunes em um jantar para empresários na noite da quinta-feira (12), após pesquisa do Datafolha. O UOL apurou que um dos envolvidos na costura para o prefeito receber a ligação em vídeo de Bolsonaro foi Tarcísio.

Governador se mostrou fiel e atuante, principalmente no momento em que Pablo Marçal (PRTB) subiu nas pesquisas, dizem aliados. Interlocutores afirmaram que o "feito" de Tarcísio foi ter atuado como um "contraponto ao vacilo de Bolsonaro". No momento em que o ex-presidente passou a flertar com Marçal, aliados relatam que Tarcísio demonstrou firmeza e decidiu intensificar a presença nas agendas de campanha.

Presença de Tarcísio motivou campanha durante semanas em que Nunes teve recuo nas pesquisas. Nos bastidores, a campanha disse que o governador "mostrou à classe política que tem palavra" ao manter o apoio ao prefeito. A participação do republicano foi considerada importante tanto para a conquista de mais eleitores como para "manter a chama" dentro da campanha.

Tarcísio tem "credenciais bolsonaristas" para intermediar diálogos, dizem interlocutores. Eleito em São Paulo pela força política do padrinho, o governador tem a seu favor o apoio de partidos que apoiam Bolsonaro, tem a experiência como ministro do ex-presidente, o que possibilita maior alcance com as alas bolsonaristas.

Perfis moderados semelhantes

Proximidade entre prefeito e governador começou desde que Tarcísio assumiu o posto no Palácio dos Bandeirantes, no início de 2023. No último mês, aliados afirmam que ambos criaram uma "sintonia pessoal", o que, segundo eles, tem facilitado a comunicação entre ambos.

Para aliados, Tarcísio e Nunes são políticos considerados de centro. No entorno do governador, ele é tido como um político pragmático e hábil para dialogar com diferentes espectros políticos. À época em que era diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), no governo Dilma Rousseff (PT), Tarcísio era avaliado como "o petista" que era possível de se conversar. Ele é uma face moderada da direita.

Relação entre Nunes e Bolsonaro é marcada por obstáculos. As dificuldades vão da distância entre São Paulo e Brasília até a diferença de perfis políticos. Atritos e desgastes gerados pelo entorno do bolsonarismo também dificultam a comunicação com o prefeito, segundo aliados.

Tarcísio tem equilibrado ambições políticas para 2026 e "gratidão política" a Bolsonaro. O UOL apurou que o governador tem conseguido manter a lealdade ao ex-presidente ao mesmo tempo que se articula para as próximas eleições presidenciais. A avaliação de aliados é que o republicano tem feito esse movimento de forma mais discreta e menos ansiosa do que o Marçal — que não esconde o objetivo de disputar as próximas eleições presidenciais.

Tarcísio e Nunes nas ruas de São Paulo

Governador tem feito reuniões "dia sim dia não" com até cem lideranças religiosas. Segundo interlocutor de Nunes, o objetivo dos encontros é conquistar novos apoiadores para o prefeito. O Republicanos, partido ao qual o governador é filiado, é visto como um braço político da Igreja Universal.

Na rua, governador chama mais atenção do que prefeito. O UOL acompanhou caminhadas com a presença dos dois em Itaquera, na zona leste, e Perus, na zona norte. Nos dois casos, o assédio dos eleitores a Tarcísio chamou a atenção. Elogios, pedidos por fotos e cumprimentos ao governador não são raros.

Tarcísio corresponde ao clima de lua de mel durante as agendas. Em vários momentos, o governador ajuda os eleitores a tirarem selfies e dá outras demonstrações de carinho. Durante conversa com um jovem em uma sapataria em Itaquera, Nunes o pediu que a agradecesse à mãe por indicar voto nele. "Foi a noiva", corrigiu Tarcísio.

Parceria Nunes-Bolsonaro não dá liga nas ruas. Embora tenha indicado o vice da chapa e discursado na convenção que anunciou o candidato do MDB, o ex-presidente ficou distante do prefeito no trio elétrico que reuniu as autoridades no ato de 7 de Setembro. Nunes sequer foi anunciado como uma das lideranças presentes.

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