Em crise, Boeing enfrenta primeira greve de peso em 16 anos e promete continuar negociações
Os funcionários da Boeing da região de Seattle, nos Estados Unidos, votaram a favor de uma greve nesta sexta-feira (13), rejeitando o acordo proposto pelo construtor americano, que prometeu dar continuidade às negociações.
Segundo Jon Holden, presidente do sindicato 'International Association of Machinists and Aerospace Workers (IAM) Distrito 751', 94,6% dos trabalhadores rejeitaram o acordo e cerca de 96% votaram a favor da greve, na noite desta quinta-feira (12).
"Nossos membros falaram alto e claro esta noite", disse. "O movimento começa às 7h desta sexta-feira", declarou. O sindicato representa cerca de 33.000 trabalhadores na região noroeste do Pacífico, que inicialmente apoiou o acordo.
A greve resultará no fechamento temporário de duas grandes fábricas de montagem de aeronaves na área de Puget Sound, no noroeste do Estado de Washington.
A interrupção paralisará a produção dos modelos comerciais 737, 777 e 767, cujas entregas já estão atrasadas. A situação é problemática porque o fabricante de aeronaves cobra cerca de 60% na entrega das aeronaves, arcando com boa parte dos custos.
Apesar da votação a favor da greve, o grupo Boeing disse em um comunicado que a empresa que manter as negociações. "Continuamos comprometidos a melhorar nosso relacionamento com nossos funcionários e o sindicato. Estamos prontos para voltar à mesa de negociações e chegar a um novo acordo".
Uma greve de 50 dias pode custar à Boeing de US$ 3 bilhões a US$ 3,5 bilhões e teria um impacto de US$ 5,5 bilhões na receita.
A votação de quinta-feira marca a rejeição decisiva ao acordo que os funcionários consideram "menos generoso" do que a Boeing afirma.
Situação financeira precária
O acordo, que beneficiaria apenas os funcionários da região de Seattle (noroeste), previa o aumento salarial de 25% em quatro anos e um compromisso com investimentos na região.
Ele também prevê a construção da próxima aeronave - anunciada para 2035 - em Seattle, o deveria gerar empregos por várias décadas. Na última greve em 2008, a Boeing esperava que essas concessões fossem suficientes para evitar uma paralisação.
A situação financeira do construtor é precária desde a queda de dois 737 MAX 8s em 2018 e 2019, que custou a vida de 346 pessoas.
"Não é segredo que nossa empresa está passando por um momento difícil, em parte por causa de nossos próprios erros no passado. (...) Uma greve colocaria em risco nossa recuperação comum", alertou a nova CEO Kelly Ortberg na noite de quarta-feira. Ela sucedeu Dave Calhoun em 8 de agosto.
A presidente da Boeing pediu aos funcionários que não "sacrificassem" o futuro devido a "frustrações com o passado". Mas alguns empregados consideram o aumento salarial muito aquém das demandas do sindicato (+40% inicialmente) e a questão previdenciária insatisfatória.
Uma semana depois de assumir o cargo, Ortberg prometeu "redefinir" o relacionamento com o sindicato. Mas quando o acordo foi lido, muitos membros do reagiram negativamente e imploraram por uma paralisação do trabalho.
"Fomos vendidos"
"Fomos vendidos", disse à AFP na quinta-feira Kamie Bryan, funcionária da Boeing há 18 anos, depois de votar contra o acordo e a favor da greve. "Não devemos aceitar esses poucos centavos que eles nos dão e ser gratos", disse ela.
"Eles estão falando sobre um aumento de 25%, mas esse não é o caso", disse Paul Janousek, um eletricista de Everett que votou a favor da greve depois de dizer que a apresentação da Boeing era "enganosa". Janousek, 55, que está na Boeing há 13 anos, disse que o aumento seria de apenas 9%, incluindo a extinção do bônus anual.
As regras do sindicato estabelecem que os grevistas recebem US$ 250 por semana a partir da terceira semana de paralisação.
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