'Cansa dobrado': calor e ar seco pioram rotina em ônibus e trens de SP
As altas temperaturas e o ar seco estão piorando a rotina diária dos usuários de transporte público da cidade de São Paulo.
O que aconteceu
Pontos de ônibus descobertos e sem ventilação são problemas citados. A atendente Tamires Oliveira, 31, comemora que os ônibus que pega todos os dias têm ar-condicionado, mas lamenta que os pontos onde aguarda o transporte, apesar de alguns terem cobertura, não contam com a ventilação: "É muito quente e suo demais [enquanto aguardo]".
Está ruim para respirar, meu nariz está seco. Estou tomando muita água. A cada cinco minutos vai uma garrafinha. Está insuportável [esse calor e ar seco]. Eu sou de Fortaleza e não é tão quente como está aqui em São Paulo nesses últimos dias.
Tamires Oliveira, atendente
Pedro Andrade relatou que também pega ônibus com ar-condicionado, mas quando desce tem que enfrentar o "mormaço" nas ruas. Para o atendente, ter que lidar com a grande diferença de temperatura entre os espaços é um problema que, inclusive, afeta a sua saúde.
Como recurso, passageiros de ônibus sem ar-condicionado abrem as janelas. Eles também contam com a companhia de garrafas d'água para tentar amenizar o calor.
Prefeitura de São Paulo tem meta de equipar todos os ônibus com ar-condicionado até o final de 2025. "92,05% da frota em operação, ou seja, 11.068 ônibus, já estão equipados com sistema de refrigeração. Vale ressaltar que a meta é que todos os veículos possuam o equipamento até 2025. Desde abril de 2016, apenas ônibus com ar-condicionado instalado são incorporados ao sistema", informou a Prefeitura de São Paulo em nota.
Problemas na ventilação são os que mais afetam usuários do transporte público. O promotor de vendas César Monteiro, 36 anos, contou que suou muito em razão do calor e da quantidade de passageiros no mesmo espaço. "Foi difícil", disse.
Tenho sentido calor, nariz seco, suo muito no transporte público. Parece que você cansa dobrado [com esse tempo e rotina]. Também tenho bebido mais água.
César Monteiro, promotor de vendas
Na quinta-feira (12), na linha 8-Diamante, administrada pela ViaMobilidade, os passageiros chegaram a abrir algumas das janelas da composição em razão do calor. Poucos minutos antes, um termômetro de rua marcava 37ºC próximo à estação. A ambulante Ketlyn Silva, 17, resolveu desembarcar e aguardar o próximo trem sentada nos bancos da plataforma, que conta com cobertura, para pegar ar fresco. Ela relata que não foi a primeira vez que precisou deixar um trem por passar mal.
A jovem também relatou que as vendas de água e refrigerante em trens da capital paulista aumentaram nas últimas semanas. Ela falou que diversas pessoas compram os produtos porque começam a se sentir mal nos trens.
Calor em vagões não é caso isolado. Cristiane Lemos, 40, e Bianca Lemos, 20, entraram em uma composição da Linha 8-Diamante na estação Lapa e desceram na seguinte, Domingos de Moraes, devido ao calor no vagão. As mulheres contaram à reportagem que foi a primeira vez que pegaram um trem com essas condições.
Esse ar de São Paulo não está ajudando. Estou com o nariz machucado por dentro [de tão seco]. Mas o calor que estava naquele vagão ali... Estava muito quente. Falei para ela que vim na esperança de pegar um vagão com ar-condicionado geladinho [e passamos por isso].
Cristiane Lemos
Ao UOL, a ViaMobilidade diz que conta com um plano constante de manutenção preventiva para garantir o pleno funcionamento de todos os aparelhos de ar-condicionado dos trens que operam nas Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda.
Empresa diz que todos os trens são inspecionados diariamente antes de entrar em circulação. "Quando uma oscilação no funcionamento de ar-condicionado é identificada, a composição é direcionada imediatamente para manutenção técnica. Em caso de eventual falha detectada pelo operador durante a operação, o CCO é imediatamente informado e o trem fica retido na estação final da viagem, onde equipes de manutenção atuam para o restabelecimento."
Número de pessoas nos trens e abertura de portas podem gerar oscilações de temperatura, diz a ViaMobilidade. "Em dias mais quentes, a abertura e o fechamento de portas, o nível de ocupação de passageiros no interior dos trens em horários de pico, e a abertura indevida das escotilhas podem interferir na performance dos aparelhos."
A ViaMobilidade orienta que os passageiros que sentem desconforto com a temperatura do ar-condicionado acionem a Ouvidoria no número 0800-770-7106. O atendimento acontece entre segunda-feira e sexta-feira, das 6h30 às 22h, e sábado e domingo, das 8h às 18h.
ViaMobilidade, em nota
Guarda-chuva ganhou outra função em meio à estiagem. Cristiane ainda afirma que a "tática" que usa para tentar driblar o calor é usar guarda-chuva (sombrinha) para andar na rua. Neste momento, acrescenta, o gasto de dinheiro também aumenta com a compra de garrafas de água para lidar com o cenário.
Apesar do tempo seco, o vendedor Alex Lima, 31, declarou ficar feliz com a situação porque consegue vender mais garrafas d'água aos motoristas e pedestres que circulam pela zona oeste de São Paulo. Ele foi o único dos entrevistados que disse que pensa em voltar a usar máscara de proteção para continuar trabalhando na rua diante do clima da "selva de pedra".
Questionados pela reportagem, os outros entrevistados relataram que não pretendem usar máscara de proteção contra o tempo seco, espalhamento de incêndios e piora na qualidade do ar. Na terça-feira (10), o governo de São Paulo divulgou novas diretrizes e orientações em saúde, entre elas, o uso de máscaras em regiões de queimadas para reduzir a inalação de partículas, evitar atividades físicas ao ar livre e aumentar o consumo de água e líquidos para a hidratação do organismo e das vias aéreas.
Defesa Civil municipal mantém estado de atenção
Esse estado é válido em razão das altas temperaturas em toda a cidade de São Paulo desde o domingo (8). O aumento dos termômetros ocorre em razão da forte onda de calor que segue em todo o país e deve durar ao menos até o próximo sábado (14), informou o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), órgão da prefeitura que monitora as condições meteorológicas na capital.
Recorde de menor umidade média na cidade, em 2024, ocorreu no dia 4 de setembro, com 19,2%.
Sexta-feira (13) seguirá sem previsão de chuva, baixa umidade do ar e calor acima do esperado para o mês. A mínima deve ser de 19ºC e a máxima por volta dos 34ºC no período da tarde. Alguns bairros também terão percentuais mínimos de umidade próximos ou abaixo dos 20%.
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