Jogo entre palavras e imagens são fontes de inspiração para a artista visual Bárbara Bragato
"Mots-croisés - Palavras Cruzadas" e "Coragem de fugir, medo de ficar" são dois projetos de livros apresentados pela artista visual Barbara Bragato durante os Encontros Fotográficos de Arles, no sul da França. Ela conversou a respeito com a RFI.
Patrícia Moribe, enviada especial a Arles
"O livro 'Palavras Cruzadas' pensa a relação entre a distância das palavras e das distâncias geográficas no sentido de pensar que as palavras, às vezes as palavras que a gente escolhe são como os lugares, os países, as nações convencionadas e as casas que a gente escolhe também. E, ao mesmo tempo, esses lugares que parecem não poder mais voltar atrás", explica Bárbara Bragato.
O livro faz parte de uma coleção Retina.Création, dirigida por François Soulages, em edições bilíngues e que tratam de imagens.
"Será que a gente pode voltar atrás e escolher essa palavra ou o lugar que a gente escolheu? Será que a gente tem como voltar atrás também, escolher um outro lugar?", se pergunta a autora. "O livro vai pensar a irreversibilidade das coisas, se é que isso existe, vai pensar a relação entre o português e o francês e as relações desses sinônimos que são insustentáveis. "
No livro, Bragato brinca com o vai-vem às vezes impossível entre o português e o francês, como em expressões que não tem respectivo na outra língua, como "encontros e desencontros". Ou ainda as palavras "au revoir" e "adeus", que carecem de explicação suplementar.
"Eu tento brincar com essa relação de forma imagética, pensando essas imagens também fluidas, de trânsito, de passagens, de fronteiras. Mas também tento investigar essa relação de como as palavras também nos escapam e a gente também não vai dar conta de dominá-las. Quando a gente quer, elas nos escapam. Quando a gente vê, já está tudo escorrendo..."
Bárbara Bragato também apresentou "Coragem de fugir, medo de ficar". "É um fotolivro que parte de um livro de artista que eu fiz em 2018, um livro artesanal que parte de colagens e de vários livros que eu levei ao longo de muitas viagens que eu fiz nesses 14 anos", explica. "São mais de 100 imagens, então é quase um diário, um movimento contínuo. E eu tento pensar a relação de novo, textual, imagética, como que a imagem, a palavra se sustentam, como que elas se rompem também", acrescenta.
A artista destaca a importância dessas "fricções", do processo de pensar esteticamente a imagem, desde as que ela produz analogicamente ou através de outras que ela produz com capturas de tela, celular, cinema, arquivos. "Tudo vira a imagem que eu fotografo. Fotografei uma vez, fotografo de novo e de novo. De novo. Eu já não sei mais de onde ela vem, para onde ela vai. De que história é essa? É ficção? É documental? E essas confusões que são geradas desse mundo, muitas vezes da imagem que também é um mistério para mim".
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