Papa Francisco reúne multidão sem precedentes em Timor Leste, mas se esquiva de denúncias de abusos
O Papa Francisco celebrou uma missa em Tasi Tolu, em Timor Leste, a oeste da capital, nesta terça-feira (10). O evento foi o ponto alto de sua viagem a esse país asiático. O chefe de Estado, José Ramos Horta, admite que o país, profundamente católico, viveu um momento histórico.
Com informações de Miguel Martins e Manu Torradillos, da RFI
O chefe de Estado de Timor Leste, o Prêmio Nobel da Paz de 1996, José Ramos Horta, acolheu o Papa na segunda-feira (9) para o início da sua visita a esta antiga colônia portuguesa da Ásia. Trata-se da penúltima etapa da visita do Sumo Pontífice à Ásia e Oceânia, após a Indonésia e a Papua Nova Guiné, e antes de Singapura.
Cerca de 600 mil pessoas, praticamente a metade da população de Timor Leste, teriam participado desta missa que o presidente Horta descreveu como "um momento ímpar da vida do país", enaltecendo a personalidade do Papa, próximo à população. "Timor-Leste é 99,6% católico, é o país mais católico homogêneo do mundo. As ruas estavam cheias de gente desde esta manhã, indo a pé para Tasi Tolu. É um acolhimento extraordinário!", declarou à RFI.
"Chefe de Estado mais importante do mundo"
"Nada assim alguma vez aconteceu em Timor-Leste e nada assim acontece com mesmo o chefe de Estado mais importante do mundo! Ninguém no mundo tem a enchente que tem a Sua Santidade, o Papa Francisco. Sobretudo pelo que ele representa enquanto Papa, enquanto chefe da Igreja Católica em todo o mundo!", completou.
"(...) Seu caráter, sua personalidade, a maneira como nós o conhecemos ao longo do seu mandato: alguém muito chegado ao povo e com grande coragem de falar perante os abusos, violações de direitos humanos. As mensagens foram sobretudo para os desfavorecidos, para os pobres. E Timor sendo uma população jovem: mais de 60% tem menos de 30 anos, a mensagem foi muito [direcionada] para os jovens", enalteceu o Nobel da Paz.
Igreja Católica na vanguarda da resistência
O catolicismo desempenhou um papel preponderante no país durante a resistência à ocupação indonésia, entre 1975 e 1999. O referendo de 1999, sob os auspícios da ONU, decretou a independência do território em 2002.
O Papa João Paulo II tinha visitado em 1989 o local, mediatizando a situação de Timor Leste.
O episódio conhecido como o "Massacre do Cemitério de Santa Cruz", dois anos depois, e a atribuição do Prêmio Nobel da Paz, em 1996, ao atual presidente e antigo porta-voz da resistência no exterior, José Ramos Horta, e ao prelado católico D. Ximenes Belo, vieram reforçar a visibilidade da luta pela independência.
A respectiva restauração ocorreu em maio de 2002: em 1975 ela havia sido decretada por círculos independentistas, mas a invasão indonésia aconteceu logo depois.
D. Ximenes Belo teria deixado Timor Leste em 2002, ano da independência, e passado por Moçambique, antes de se radicar em Portugal. Foi apenas em 2022 que a Santa Sé anunciou ter lhe aplicado sanções, quando ele era suspeito de abusos de adolescentes.
O fato desse prelado católico nunca ter sido investigado em Timor Leste, nem ter sido instado a comparecer perante a justiça, gera um mal estar junto de certos setores da sociedade civil em Timor Leste.
No entanto, o presidente da República admite que o caso foi objeto de um encontro na Nunciatura entre vítimas e membros, em Díli. Francisco, porém, não fez referência a este caso específico em sua homilia.
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