Rios da América do Sul registram baixas recordes e impacto da seca no Brasil se espalha
Por Daniela Desantis e Lucinda Elliott
ASSUNÇÃO (Reuters) - O Rio Paraguai, uma importante via de escoamento de grãos, atingiu uma baixa recorde na capital do Paraguai, Assunção, com os níveis da água atingidos por uma severa seca rio acima no Brasil, que prejudicou a navegação ao longo das hidrovias na Amazônia.
A profundidade do rio Paraguai, medida em relação a um índice "zero" em vez do leito do rio, caiu abaixo de 0,82 metro negativo, quebrando o recorde anterior de baixa em outubro de 2021, mostram os dados da Diretoria Nacional de Meteorologia e Hidrologia. O órgão espera que o nível do rio continue caindo sem previsão de chuva.
O rio Paraná, na Argentina, também está perto das mínimas do ano em torno do centro de grãos Rosário. Os rios Paraguai e Paraná começam no Brasil e acabam se unindo e desaguando no mar perto de Buenos Aires. Eles são rotas importantes para o comércio de soja, milho e outros produtos.
"Na seção norte (da hidrovia do Paraguai), a navegação está praticamente interrompida devido à queda extrema nos níveis de água", disse a câmara paraguaia de esmagamento de sementes oleaginosas e grãos Cappro à Reuters em comentários por escrito.
A câmara, cujos membros comerciantes de grãos lidam com cerca de 60% das exportações de soja do Paraguai, disse que a baixa do rio está afetando os embarques, embora o impacto tenha sido limitado, pois não é a época de pico do comércio.
"Os navios tiveram que transportar volumes abaixo da média de sua capacidade normal de carga", disse a Cappro. "Isso gerou atrasos e tornou os tempos de viagem mais longos."
Entre os membros da câmara estão a ADM, a Bunge e a Cargill.
CHUVAS ESPERADAS NÃO SÃO SUFICIENTES
O sistema Paraguai-Paraná é uma hidrovia de mais de 3.400 quilômetros que atravessa Argentina, Brasil, Uruguai, bem como o Paraguai e a Bolívia.
O Paraguai é o terceiro maior exportador de soja do mundo e cerca de 80% dos grãos viajam pelas hidrovias até os portos marítimos rio abaixo. A Argentina é o maior exportador de soja processada, a maior parte da qual desce o rio Paraná a partir da cidade portuária de Rosário.
O vice-diretor da Diretoria de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai, Jorge Sánchez, disse que a perspectiva para os níveis dos rios nos próximos meses não é animadora, mesmo com a tradicional estação chuvosa de outubro-novembro à frente.
"Isso aliviaria o nível do rio, mas não se espera que seja suficiente", disse Sánchez.
Espera-se que chova menos do que o normal na segunda metade do ano devido ao fenômeno climático La Niña, que traz condições mais secas e frias no Paraguai e na Argentina, embora normalmente anuncie um clima mais úmido mais ao norte do Brasil.
Sánchez disse que este ano, no entanto, o La Niña foi adiado e seus efeitos seriam vistos apenas entre outubro e novembro. "Há muita variabilidade devido às mudanças climáticas", acrescentou.
No Brasil, onde também ocorrem incêndios florestais recordes, os baixos níveis de água estão deixando algumas comunidades da Amazônia isoladas, além de afetar os embarques de soja e milho em Estados do Centro-Oeste, como o Mato Grosso, a principal área de cultivo de grãos do Brasil.
(Reportagem de Daniela Desantis, em Assunção, e Lucinda Elliott, em Montevidéu)
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