China promete US$ 50 bilhões para a África e celebra "melhor momento" da relação com o continente
A China está disposta a oferecer US$ 50 bilhões em financiamento para a África durante os próximos três anos, anunciou o presidente chinês, Xi Jinping, na abertura do Fórum de Cooperação China-África, em Pequim, nesta quinta-feira (5). Muitas delegações africanas fizeram a viagem na esperança de ganhar contratos para as suas empresas. O déficit comercial africano com a China aumentou ainda mais no ano passado, para mais de US$ 60 bilhões.
No total, 50 líderes de países africanos confirmaram a presença na cúpula do fórum, segundo a diplomacia chinesa. O evento termina nesta sexta-feira e é a maior reunião diplomática organizada em Pequim desde a pandemia da Covid-19.
Xi Jinping afirmou que seu país "está pronto para aprofundar a sua cooperação" com o continente africano no domínio econômico. As relações China-África estão no seu "melhor período da história", assegurou Xi Jinping, na cerimônia de abertura no Palácio do Povo, na famosa Praça Tiananmen.
Pequim é o principal parceiro comercial do continente africano, uma relação que atingiu US$ 167,8 bilhões no primeiro semestre do ano, segundo a comunicação social oficial chinesa. Ao longo das últimas duas décadas, o país enviou centenas de milhares de trabalhadores e engenheiros para África para construir grandes projetos e obteve acesso privilegiado aos vastos recursos naturais da África, incluindo cobre, ouro e lítio.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, descreveu a promessa de novos empréstimos como uma "grande vantagem" para o continente. "Como o país mais industrializado do continente africano, a África do Sul se beneficiará muito desta relação", acrescentou Ramaphosa.
Peso da dívida africana com a China
Pequim tem sido acusado de endividar os países enquanto procura aumentar a sua influência no cenário mundial. Questionado sobre o risco de a China empurrar os países africanos para um endividamento insustentável, o presidente sul-africano respondeu que "não concorda necessariamente com a ideia de que quando a China investe, é com a intenção de obter, em última análise, a dívida destes países".
"Isto deve ser visto como uma relação mutuamente benéfica, baseada no reconhecimento, no respeito e também na promoção do desenvolvimento de cada país", afirmou o líder, em coletiva de imprensa. "A China está muito mais focada nos países em desenvolvimento do nosso continente", salientou.
Há três anos, durante o Fórum de Cooperação Sino-Africana (Focac) em Dacar, no Senegal, a China comprometeu-se a aumentar as suas importações africanas para US$ 300 bilhões. Os números atuais estão longe disso: foram de US$ 109 bilhões no ano passado, menos do que em 2022, devido à queda dos preços das matérias-primas.
Houve uma leve diversificação, com cada vez mais produtos agrícolas, flores, abacaxi, café e abacate importados pela China. Mas as exportações africanas são constituídas sobretudo por minerais, petróleo e gás.
A pauta continua focada majoritariamente em produtos não transformados, apesar das esperanças dos africanos de que as "Novas Rotas da Seda" da China desenvolveriam as suas cadeias de valor. Pequim limitou-se a alguns investimentos industriais no Egito e no Marrocos, para chegar aos mercados europeus, e continua a exportar massivamente os seus veículos, equipamentos eletrônicos e produtos têxteis para a África.
Empréstimos via empresas
A dependência comercial africana continua total em relação à China, de longe o maior cliente da África, enquanto os fornecedores africanos são menores para Pequim, como ilustra o exemplo do petróleo angolano. Os empréstimos estatais chineses aos estados africanos são cada vez mais substituídos por empréstimos de empresas chinesas, públicas ou privadas - o que pode tornar a dívida africana com a China ainda mais opaca.
"No continente africano, as empresas chinesas podem conceder facilidades de pagamento ou fazer acordos com governos locais, o que não resulta necessariamente em um contrato. Os empréstimos aos países africanos não diminuíram tanto quanto se poderia imaginar, mas mudaram de configuração", explicou à RFI Thierry Pairault, diretor emérito de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisas da França (CNRS) e da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais e especialista em China.
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