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Prova decisiva: francês que drogou mulher durante anos fez milhares de vídeos dos homens que a estupravam

04/09/2024 16h10

Quando o principal acusado se torna o melhor aliado dos investigadores: sem Dominique P., que registrou meticulosamente milhares de imagens de sua esposa sendo estuprada na França por homens que ele recrutou na Internet depois de drogá-la, seus agressores talvez nunca tivessem sido identificados.

Após mais de dois anos de investigação, 54 dos 72 homens procurados pelas autoridades foram finalmente capturados pelos investigadores franceses. Um dos homens morreu e dois foram liberados pela justiça por falta de provas suficientes.

Um total de 51 réus, incluindo o marido, um aposentado de 71 anos, estão sendo julgados desde segunda-feira e até 20 de dezembro em Avignon (sul da França), a maioria por estupro agravado entre 2011 e 2020, principalmente no vilarejo de Mazan, para onde o casal havia se mudado. Eles podem pegar até 20 anos de prisão por esses crimes.

Cerca de 200 estupros foram registrados contra Gisèle P., hoje com 72 anos. A maioria deles cometidos por seu marido, mas 92 por completos estranhos. Tudo o que restava era identificar esses homens, entender o cenário que levou ao abuso e caracterizar os atos dos quais cada um foi acusado.

Para isso, "decidi montar uma equipe muito pequena de quatro investigadores", explicou o comissário de polícia Jérémie Bosse Platière. "E escolhi pessoas que eram fortes o suficiente para enfrentar as imagens", insistiu, detalhando sua longa e tediosa pesquisa.

"Chris, o bombeiro"

O processo foi muito facilitado pelas milhares de fotos e vídeos feitos pelo marido, gravados em um disco rígido e depois meticulosamente descritos - com nome, idade e até mesmo número de telefone - e arquivados em um arquivo como "abuso". O arquivo contava com uma pasta para cada homem que veio estuprar sua esposa.

"Uma lista será então elaborada para cada indivíduo, com base no nome do arquivo", explicou o comissário. O objetivo é identificar "Chris, o bombeiro", "Quentin", "Gaston", "David, o Negro" e nomes como "jeanlucasiat".

Ao mesmo tempo, a polícia está usando os inúmeros rastros deixados por trocas telefônicas e conversas entre o marido e os agressores de sua esposa. Essas conversas começavam on-line, no site de relacionamentos Coco.fr. Em seguida, as discussões continuavam na "without her knowledge" ("sem o conhecimento dela"), uma sala de bate-papo privada nesse site, fechado em junho pelos tribunais por ser um "antro de predadores"; e, finalmente, continuaram no Skype e depois por telefone.

Reconhecimento facial

Uma lista inicial de 11 contatos foi identificada via Microsoft. A polícia então enviou solicitações à gigante norte-americana para localizar os endereços IP e encontrar seus proprietários.

O mesmo processo foi usado para os telefones: "Começaremos pelos números (nas contas telefônicas de Dominique P.) e analisaremos cada data para ver se há uma ligação entre a chamada feita e os eventos encontrados" nas imagens, explicou o comissário Bosse Platière.

Dominique P. também havia bloqueado um grande número de contatos em seus telefones, o que levantou as suspeitas dos investigadores: "É incomum, podemos ver que um grande número de contatos foi bloqueado e achamos que algumas dessas pessoas podem estar envolvidas" nos estupros, continuou o policial.

Para rastrear as identidades dos homens, os investigadores entraram em contato com as operadoras de telefonia.

Outro método consiste em extrair as imagens encontradas e usar o software de reconhecimento facial usado pela polícia nacional: "A extração da foto nos dará um índice de semelhança e nos permitirá identificar um terço dos criminosos", explicou o comissário.

Dado o grande número de suspeitos, a polícia teve que distribuir suas prisões em cinco levas, entre o final de 2020 e setembro de 2021.

Antes de cada estupro, os investigadores descrevem o mesmo cenário: o homem convidado devia estacionar longe da casa para não levantar as suspeitas dos vizinhos. Alguns esperavam "até uma hora" para que o sonífero fizesse efeito na vítima.

Finalmente, em nenhum momento esses homens fizeram qualquer contato prévio com a vítima, afirmou o policial, baseando-se nos vídeos. Isso contradiz as declarações de vários dos réus, que afirmam que estavam apenas participando do fantasma de um casal promíscuo.

A principal vítima dos estupros de Mazan, Gisèle P., nunca pareceu "consciente" e "não mostrou nenhum gesto" nas milhares de imagens encontradas dos crimes, disse Bosse Platière. "Não me lembro de uma única palavra, às vezes você ouve gemidos e roncos, mas nenhuma palavra compreensível", insistiu o policial.

(Com AFP)

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