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Groenlândia decide não extraditar ao Japão, mas mantém em detenção fundador da Sea Shepherd

15/08/2024 14h08

A Justiça da Groenlândia decidiu, nesta quinta-feira (15), manter em detenção o ativista ambiental americano-canadense Paul Watson. O Japão pede a extradição do ativista num caso ligado a sua luta em defesa das baleias.

"O tribunal da Groenlândia decidiu hoje que Paul Watson permanecerá detido até 5 de setembro de 2024, a fim de garantir sua presença no momento da decisão de extradição", cuja data não foi tornada pública, anunciou a polícia num comunicado de imprensa.

O Japão solicitou a extradição do ativista em 31 de julho ao Ministério da Justiça dinamarquês. 

A defesa de Paul Watson, de 73 anos, que solicitou a sua libertação, considerou desproporcional a continuação de sua detenção mais de três semanas após ele ter sido preso em Nuuk, capital do território autônomo dinamarquês, em 21 de julho e apelou da decisão do tribunal.

Ao sair do tribunal de Nuuk, pouco antes de entrar no carro da polícia, Paul Watson disse à agência de notícias AFP que a continuação de sua detenção aumenta a pressão sobre o Japão para pôr fim às "suas atividades ilegais de caça às baleias".

Prisão por demanda do Japão

Fundador da ONG Sea Shepherd e da Fundação Capitão Paul Watson (CPWF) em defesa dos oceanos, Paul Watson, que morava na França há mais de um ano, foi preso em seu navio, o John Paul DeJoria, após atracar.

O barco estava reabastecendo em preparação para "interceptar" o novo navio-fábrica baleeiro do Japão no Pacífico Norte, segundo a CPWF.

A prisão foi feita com base em alerta da Interpol emitido em 2012, quando o Japão acusou Watson de ser responsável por danos e ferimentos a bordo de um navio baleeiro japonês, dois anos antes, como parte de uma campanha liderada pela Sea Shepherd.

Os advogados de Watson tentaram demonstrar durante a audiência, através de vídeos, que o mandado de prisão se baseia em informações enganosas. "O tribunal recusou-se a olhar para as provas de vídeo da série Whales Wars (que acompanhou as atividades da Sea Shepherd) que mostram que os japoneses fabricaram provas, porque não estão preocupados", lamentou à AFP a presidente da Sea Shepherd França, Lamya Essemlali.

"No final da audiência, Paul disse que seus dois filhos precisam dele mais do que o Japão precisa de sua vingança", explicou ela.

O ativista falou em inglês, mas não teve direito a um intérprete, observou Essemlali. "Achamos isso absolutamente escandaloso. Não é nada normal, não entendemos nada", disse ela.

Vingança do Japão

Em 2010, um neozelandês, Peter Bethune, já tinha sido condenado a dois anos de prisão neste caso.

Assim como ele, Paul Watson é acusado de ter ferido o rosto de um marinheiro japonês ao lançar uma bomba de ácido butírico, que solta gases malcheirosos, para atrapalhar o trabalho dos caçadores de baleias.

A advogada de Watson, Julie Stage, disse que o material de vídeo provava que "o membro da tripulação que as autoridades japonesas dizem ter sido ferido nem sequer estava presente quando a bomba malcheirosa foi lançada" a bordo.

Em 2010, durante o julgamento de Bethune, os mesmo extratos de vídeo não foram levados em consideração pelo sistema de justiça japonês.

O marinheiro poderia ter sido ferido pelo spray usado pela tripulação contra os ativistas. No momento do lançamento da bomba os marinheiros já tinham saído do convés, argumenta a defesa.

"Estes vídeos mostram que o Japão inventa fatos para obter a extradição e condenação" de Paul Watson, sublinhou Stage, denunciando uma nova garantia das falhas do sistema judicial japonês.

Este caso "é uma questão de vingança por parte do sistema jurídico japonês e das autoridades japonesas", declarou outro advogado de Watson, François Zimeray. Especialista em direitos humanos, ele afirma que no "Japão existe uma presunção de culpa". "Os procuradores têm o orgulho de anunciar que têm uma taxa de condenação de 99,6%", lamentou.

A prisão e detenção do ativista ambiental deu origem a uma mobilização em todo o mundo. Uma petição exigindo a libertação de Watson reuniu até agora mais de 62 mil assinaturas.

A presidência francesa se pronunciou, e pediu às autoridades dinamarquesas que não o extraditassem.

(Com informações da AFP)

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