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Ex-presidente Fernández é indiciado pela Justiça argentina por lesões graves contra ex-primeira-dama

15/08/2024 06h58


A Justiça argentina indiciou o ex-presidente Alberto Fernández nesta quarta-feira (14). Para sustentar a decisão, promotor cita nove episódios que vão desde coerção a aborto a socos diários, passando por chutes no ventre da esposa quando estava grávida. Também aponta que o abuso de poder pelo exercício do cargo de presidente da República agravou uma relação desigual, base da violência de gênero.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O ex-presidente argentino Alberto Fernández (2019-2023) foi indiciado por delitos de lesões leves e graves, duplamente agravadas pelo vínculo e pelo contexto de gênero, além de ameaças coercitivas contra a sua ex-mulher, então primeira-dama, Fabiola Yañez.

"Desde quando Fabiola Yañez começou um vínculo de namoro com Alberto Fernández até a atualidade, a citada sofreu uma relação atravessada pelo assédio psicológico e por agressões físicas num contexto de violência de gênero e intrafamiliar", afirmou o promotor federal, Ramiro González, na ação penal à qual a RFI teve acesso.

A decisão é consequência da denúncia de 20 páginas apresentada pela acusação na segunda-feira (12) e das quatro horas de declarações à Procuradoria na terça-feira (13), durante as quais Fabiola Yañez detalhou episódios constantes de maltrato, assédio, desprezo, agressões verbais e físicas.

Até essas declarações, Alberto Fernández estava acusado de "lesões leves no contexto de violência de gênero", passando a "lesões graves e ameaças coercitivas" após o testemunho.

"O relato revela um contexto de violência de gênero assentado sobre uma relação assimétrica e desigual de poder, desenvolvida ao longo do tempo e acentuada exponencialmente pela eleição de Fernández como presidente e pelo exercício do cargo", destacou o promotor, sublinhando ainda que "o Sr. Alberto Fernández, como hipótese delitiva, teria realizado diversos comportamentos penalmente relevantes".

Nove episódios investigados

Esses "comportamentos penalmente relevantes" são identificados pelo promotor que os descreve em nove episódios de assédio, violência e ameaças que incluem socos e bofetadas diárias.

Esses capítulos começam com Alberto Fernández a forçar (e conseguir) que Fabiola Yañez abortasse em 2016, continuam com chutes no ventre quando a vítima estava novamente grávida em agosto de 2021 e continuam até a atualidade, com pressões para a ex-mulher não apresentar queixa.

Alguns episódios são consequência de infidelidades que Alberto Fernández teria cometido antes e durante o exercício da Presidência, inclusive na Casa Rosada, sede do governo, incluindo amigas da própria Fabiola Yañez.

O promotor esclarece que, caso a sentença seja uma condenação, as penas por cada tipo de delito acumulam-se.

Coleta de provas

Para comprová-los, pede 30 medidas que vão desde o interrogatório de testemunhas aos vídeos das câmeras da residência presidencial,

As gravações solicitadas agora vão desde 2021 a 2023, mas também devem ser preservadas as filmagens desde 2019.

O promotor também quer todos os históricos médicos da ex-primeira-dama sobre o tratamento psiquiátrico e o de fertilidade.

Até agora, Alberto Fernández só divulgou uma nota no dia 6 de agosto na qual afirma que "é falso e que jamais aconteceu o que lhe atribuem". Disse que "não fará declarações à imprensa" e que "vai levar provas e testemunhas à Justiça".

No entanto, em raros contatos com a imprensa, sugeriu que o olho roxo de Fabiola Yañez, registrado numa foto em agosto de 2021, é consequência de um tratamento estético contra rugas. Também chegou a sugerir que a ex-mulher se tenha machucado como consequência de algum episódio de alcoolismo.

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