Piloto diz que Voepass pressiona para trabalhar na folga; empresa nega
Luís Cláudio de Almeida, piloto da Voepass, acusou a empresa de pressionar seus funcionários para trabalharem além da escala. A consequência seria fadiga e risco à segurança de voo, segundo ele.
A empresa, dona do avião que caiu em Vinhedo (SP), nega as acusações e diz respeitar as folgas de seus funcionários (leia mais abaixo).
O que aconteceu
O relato do piloto foi feito durante audiência pública da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). O evento ocorreu em 28 de junho e serviu para tratar do Regulamento Brasileiro de Aviação Civil.
Luís Cláudio descreveu condições de trabalho problemáticas na Voepass. Ele disse que desliga o celular durante as folgas para não ser encontrado pela empresa aérea.
O piloto afirmou que ao acordar via até oito ligações não atendidas feitas pelo pessoal que monta os turnos de trabalho. A razão das chamadas seria pedir para se apresentar no trabalho e fazer algum voo.
De acordo Luís Cláudio, haveria insistência da Voepass mesmo com a recusa em trabalhar durante a folga. Nem mesmo mencionar a fadiga serviria para convencer os funcionários que montam a escala. "Vai que dá", seria o argumento da Voepass diante da negativa de pilotar por causa do cansaço.
O discurso na audiência pública conteve outros relatos de más condições de trabalho. Luís Cláudio disse que para fazer o trajeto entre os aeroportos de Congonhas e Guarulhos, ambos na Grande São Paulo e distantes 37 quilômetros, precisa pegar carona nos ônibus da Gol ou Latam.
Ele falou que muitas vezes a alimentação oferecida pela Voepass é precária. Citou que os tripulantes recebem comida fria ou congelada porque a comissária não foi paga. A alternativa seria os funcionários da Voepass "dividirem bolachas".
O piloto argumentou que fadiga e más condições de trabalho contribuem para acidentes. Ele mencionou programas de TV à cabo sobre acidentes aéreos e declarou não querer ser matéria-prima destes canais.
A Voepass enviou nota negando as acusações e informando que cumpre a legislação. A companhia afirmou que as jornadas de descanso de pilotos e comissários são respeitadas. "A empresa cumpre com todos os requisitos legais, considerando jornadas e folgas, de acordo com o regulamento brasileiro da Aviação Civil RBAC- 117, que disciplina a jornada e gestão da fadiga dos tripulantes", disse em nota.
Eu peço que seja revisado isso (condições de trabalho) para não termos o nosso nome no May Day, no Desastres Aéreos por fadiga. Escutem: na hora que vocês (diretores da ANAC) tiverem cansados, lembrem da nossa fadiga,
Luís Cláudio, piloto da Voepass
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