Ataques entre candidatos ofuscam propostas para a cidade em 1º debate em SP
Pouca discussão sobre os desafios da cidade e muitos ataques entre os cinco principais candidatos à Prefeitura de São Paulo marcaram o primeiro debate eleitoral na Band. Eles responderam a perguntas de jornalistas da rede Bandeirantes e dos adversários, seguindo as regras do debate.
O que aconteceu
Debate durou cerca de duas horas e teve poucas apresentações de propostas dos candidatos. Promessas apareceram mais em bloco de perguntas de jornalistas da emissora. Ainda assim, políticos usaram parte do tempo de resposta para atacar seus oponentes.
Ricardo Nunes (MDB) foi principal alvo de adversários. Candidato à reeleição recebeu críticas pela condução da prefeitura nas áreas da saúde e educação na cidade, além da atual situação da "cracolândia".
Guilherme Boulos (PSOL) foi associado a Maduro e Hamas. Adversários lembraram do seu voto no Colégio de Ética na Câmara dos Deputados a favor da absolvição de André Janones (Avante) no caso da rachadinha. Foi provocado, também, com insinuações de apoio ao ditador Nicolás Maduro, e apoio ao grupo Hamas.
José Luiz Datena (PSDB) mirou insistentemente no atual prefeito. Mesmo em perguntas para outros candidatos, o tucano fez críticas a Nunes e deixou a impressão de que vai concentrar esforços em ataques o atual prefeito durante a campanha.
Pablo Marçal (PRTB) ficou descontrolado após pergunta de Tabata Amaral (PSB) sobre condenação. Ele foi condenado por furto qualificado por envolvimento em uma organização criminosa, que invadia contas bancárias pela internet. O caso ocorreu em meados de 2005.
Tabata foi a menos chamada para os embates diretos pelos adversários, mas protagonizou os momentos mais tensos. A candidata do PSB fez duras críticas a Marçal e lembrou o boletim de ocorrência registrado pela mulher de Nunes.
As trocas de insultos entre candidatos deixou polarização nacional em segundo plano. Os principais padrinhos políticos, Lula (PT) de Boulos e Bolsonaro (PL) de Nunes, foram citados em poucos momentos. O psolista foi um dos primeiros a citar a ligação do prefeito com o ex-presidente — que tem alta rejeição entre os eleitores paulistanos. Datena e Marçal, por sua vez, ligaram Boulos a Lula em tom negativo.
Periferia e eleitorado feminino ganharam atenção dos políticos. Candidatos citaram origem de trajetórias em bairros periféricos, reforçaram a importância do respeito e de políticas públicas para as mulheres.
O que disseram os candidatos
Nessa gestão do Ricardo Nunes, São Paulo andou para trás. A população de rua praticamente dobrou, a fila de exames na saúde aumentou, não adianta vender uma ideia que não é a realidade. Mas o que mais me preocupa é a falta de transparência, o mau uso do dinheiro público. Nunes, você gastou praticamente R$ 6 bilhões em obras sem licitação e sem planejamento.
Guilherme Boulos
Boulos, acho que você precisa responder quem é [André] Janones, porque você instituiu a legalização da rachadinha. Você precisa responder quem é Nicolás Maduro, você precisa responder tantos nomes, Boulos.
Ricardo Nunes
O prefeito deve ter falado do centro de outra cidade. O centro que ele viu é um centro que não existe em São Paulo. É um centro que ele arrasou.
José Luiz Datena
O candidato que está ao meu lado [Marçal] foi condenado por formação de quadrilha em um esquema de fraudes bancárias. Queria saber o que ele fará para proteger os idosos que vivem caindo em golpes de Whatsapp como esse.
Tabata Amaral
Essa adolescente que vive falando que representa as mulheres precisa amadurecer um pouco [...]. Você, que está nesta cidade, se quiser a cidade m*rda que tem hoje, continua com Ricardo, que tem perfil pra prefeito. Se quiser uma merda de Venezuela... [olha para Boulos], ó a cara daquele comedor de açúcar ali. Continua acreditando nisso.
Pablo Marçal
Como foi o debate
Empresário gritou e perdeu controle ao ser questionado por Tabata se usaria "sua experiência no crime" para governar São Paulo. A candidata também citou áudio revelado pela Folha de S. Paulo em que o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, diz que tem vínculos com o PCC. "Não tem o Piauí, de [inaudível]? Não tem o chefe do PCC que está solto? Ele é a voz abaixo", disse Avalanche, referindo-se ao seu motorista.
Candidatos também foram alvos de ataques do Marçal, que adotou tom agressivo, com palavrões e insinuações sem provas. Empresário disse ao final do debate que Boulos frequenta "biqueiras", em uma possível alusão a pontos de venda de drogas. Ele, no entanto, não apresentou provas da acusação. O candidato psolista afirmou que a condenação de Marçal no caso de 2005 foi publicada em suas redes sociais.
Adversários trataram de colar imagem de mau gestor em Nunes. O debate começou com uma pergunta sobre o centro da cidade, mas Nunes gastou a maior parte do tempo para resposta citando eventos no autódromo de Interlagos, que fica na zona sul. Datena foi o principal candidato a criticar o prefeito.
"Prefeito arrasou o centro de São Paulo", disse Datena. Obras emergenciais, feitas sem licitação, foram citadas também pelos adversários de Nunes — ele foi o prefeito desde 2004 que mais gastou com esse tipo de contratação, conforme revelou UOL.
Datena e Boulos protagonizaram dobradinhas contra o emedebista. Em um dos momentos, a dupla criticou conjuntamente a privatização dos cemitérios na cidade. O apresentador até fez críticas ao psolista, com quem conversou antes do debate começar, mas em tom ameno. O tucano citou o caso da rachadinha de Janones e a postura de Boulos sobre o resultado das eleições na Venezuela.
"Deixe minha família em paz", gritou esposa de Nunes após Tabata perguntar do boletim de ocorrência. Denúncia de violência doméstica é calcanhar de Aquiles de Nunes. Em sabatina promovida por UOL/Folha em julho, o prefeito considerou "lamentável" e "repudiante" tratar do tema e disse que o boletim de ocorrência ligado ao caso é falso. A SSP, sob gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), depois, desmentiu o prefeito e disse que o boletim foi registrado.
Nunes disse que "nunca levantou um dedo" contra a mulher. "O que sempre acontece, pessoal, é que na época de eleição aparecem esses assuntos. No período de eleição, infelizmente forjam essas histórias", afirmou.
Datafolha divulgado quinta-feira (8) mostrou Nunes (23%) e Boulos (22%) empatados tecnicamente nas intenções de voto. Datena e Marçal também marcaram a mesma porcentagem, 14%. Em um segundo turno provável entre Nunes e Boulos, o atual prefeito sai na frente com 13 pontos.
Participam desta cobertura
Do UOL, em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz e Saulo Pereira Guimarães
Colaboração para o UOL: Caio Santana