Guerra na Faixa de Gaza entra no 11° mês com Hamas impondo desafio a Israel
A guerra na Faixa de Gaza completou, nesta quarta-feira (7), o seu décimo mês, em um contexto de crescente tensão no Oriente Médio e depois de o Hamas ter nomeado Yahya Sinwar como seu novo líder, um dos homens mais procurados por Israel, que prometeu eliminá-lo. Sinwar, até agora chefe do movimento islamista palestino em Gaza, substitui o líder político da organização, Ismail Haniyeh, assassinado em 31 de julho em Teerã.
Após dez meses de guerra, o Exército israelense prossegue a sua ofensiva terrestre e aérea contra o Hamas, no poder desde 2007 na Faixa de Gaza. As operações recomeçaram principalmente em áreas onde o Exército declarou no passado que estavam sob seu controle. Ordens de evacuação da população foram emitidas nesta quarta-feira para vários bairros de Beit Hanoun e Beit Lahia, duas cidades praticamente destruídas.
"O Hamas e as organizações terroristas disparam foguetes dessa região em direção ao Estado de Israel. O Exército israelense agirá de forma enérgica e imediata contra eles", informou o porta-voz militar Avichay Adraee em uma mensagem enviada aos celulares e às redes sociais dos moradores dessas cidades palestinas.
Desde o início do conflito, todas as tentativas de mediação para obter um cessar-fogo falharam.
Israel acusa Sinwar, de 61 anos, até agora chefe do Hamas na Faixa de Gaza, de ser um dos mentores do ataque mortal executado em 7 de outubro pelo Hamas no sul de Israel, uma agressão sem precedentes que desencadeou a guerra.
O conflito, que deixou dezenas de milhares de mortos no estreito e sitiado território palestino, também reacendeu as tensões no Oriente Médio, entre o Irã e seus aliados - incluindo o Hezbollah libanês - de um lado, e Israel, do outro.
O temor de uma conflagração regional se intensificou após o assassinato de Ismail Haniyeh, atribuído a Israel, e de Fuad Shukr, o comandante militar do Hezbollah, morto em 30 de julho em um bombardeio israelense perto de Beirute. Fuad Shukr foi acusado por Israel de ter ordenado um ataque que matou 12 crianças e adolescentes em 27 de julho nas Colinas do Golã, área síria ocupada e anexada por Israel desde 1967.
O Hezbollah e o Irã são "obrigados a adotar represálias", declarou Hasan Nasrallah, chefe do movimento armado libanês, na terça-feira. O Hezbollah atuará sozinho ou no âmbito de uma "resposta coordenada" do Irã e seus aliados na região, "sem importar as consequências".
Nesta quarta-feira, a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) reúne-se em Jeddah, na Arábia Saudita, a pedido da "Palestina e do Irã", para chegar a "uma posição islâmica unificada" na região, segundo um representante da entidade.
"Mensagem forte"
Diante do risco de a guerra se alastrar, a comunidade internacional trabalha incansavelmente para tentar acalmar a situação e relançar as negociações para um cessar-fogo e a libertação dos reféns detidos em Gaza. Os contatos diplomáticos se multiplicam, especialmente entre os países mediadores do conflito em Gaza: Estados Unidos, Catar e Egito.
"Sinwar foi e continua sendo o principal tomador de decisões no momento de organizar o cessar-fogo", declarou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na terça-feira. Pela primeira vez, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos - principal aliado de Israel - pediu publicamente ao Irã e a Israel que evitem uma "escalada" para um novo conflito militar.
No entanto, para o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, a nomeação de Yahya Sinwar como líder do Hamas "é mais uma razão para eliminá-lo rapidamente e varrer do mapa esta organização desprezível", considerada terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel.
"O Hamas responde ao assassinato", publicou o jornal libanês pró-Hezbollah Al-Akhbar na sua primeira página nesta quarta-feira, com uma foto de Sinwar, depois de o movimento palestino ter afirmado no dia anterior que a sua nomeação envia uma "mensagem forte" a Israel.
O Hezbollah também evocou uma "mensagem forte" e considerou que esta escolha "confirmou que o inimigo foi incapaz de atingir os seus objetivos" contra o Hamas.
O ataque de 7 de outubro de 2023 por comandos do Hamas no sul de Israel resultou na morte de 1.198 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses. Das 251 pessoas sequestradas, 111 ainda estão detidas em Gaza, das quais 39 estão mortas, segundo o Exército. Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva que já matou 39.677 pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, que não detalha o número de civis e combatentes mortos.
Ataque iminente?
Israel está em alerta há quase uma semana, aguardando a resposta prometida do Irã e de seus aliados. No entanto, segundo um diplomata europeu em Tel Aviv, a falta de alterações nas instruções dadas pelo Exército aos civis significa, em teoria, que não se espera um ataque iminente.
A tensão também reina no Líbano, onde aviões militares israelenses sobrevoaram a capital, Beirute, na terça-feira, quebrando a barreira do som e semeando o pânico na população. Vários países pediram aos seus cidadãos que abandonassem o Líbano e algumas companhias aéreas suspenderam voos para Beirute.
A companhia alemã Lufthansa prorrogou nesta quarta-feira a sua decisão de evitar o espaço aéreo iraniano e iraquiano até 13 de agosto, assim como a suspensão dos seus voos para Tel Aviv, Beirute, Teerã, Amã e Erbil até a mesma data.
"A possibilidade de uma guerra entre nós e Israel é real (...) Não podemos negar", declarou o chefe da diplomacia libanesa, Abdallah Bou Habib, na terça-feira.
Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, o Hezbollah, grupo que se tornou poderoso no fragmentado cenário político libanês, tem trocado disparos quase diariamente com o Exército israelense ao longo da fronteira que separa o sul do Líbano do norte de Israel. Ontem, as autoridades regionais do norte do país recomendaram à população para ficar perto de abrigos, após novos ataques de foguetes do Hezbollah.
(Com AFP)
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