Americanos Gershkovich e Whelan são libertados ao lado de assassino russo na maior troca de prisioneiros pós-Guerra Fria
Por Andrew Osborn e Filipp Lebedev e Lucy Papachristou
MOSCOU/ANCARA (Reuters) - O jornalista americano Evan Gershkovich e o ex-fuzileiro naval americano Paul Whelan foram libertados pela Rússia nesta quinta-feira como parte da maior troca de prisioneiros entre o Leste e Oeste desde o fim da Guerra Fria, um acordo complexo negociado em segredo por mais de um ano.
A Casa Branca afirmou que os EUA haviam negociado a complexa troca com a Rússia e outros países e informou que oito prisioneiros mantidos no Ocidente estavam sendo enviados de volta à Rússia.
A Alemanha confirmou que entre eles está Vadim Krasikov, condenado pelo assassinato de um dissidente exilado em Berlim.
O presidente norte-americano, Joe Biden, saudou o acordo como "um feito de diplomacia e amizade" e elogiou os aliados de Washington por suas "decisões ousadas e corajosas".
"Isso não teria sido possível sem nossos aliados", disse ele, acrescentando: "Hoje é um exemplo poderoso de por que é vital ter amigos neste mundo".
A Turquia, que coordenou a troca, disse que 10 pessoas, incluindo duas crianças, foram transferidas para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para os Estados Unidos. Também participaram da troca a Polônia, Eslovênia, Noruega e Belarus.
"Após a conclusão dos procedimentos de ratificação das partes, os exames de saúde,... os prisioneiros foram colocados nos aviões dos países para os quais viajariam com a aprovação e as instruções do MIT", disse a Agência Nacional de Inteligência (MIT) em um comunicado.
Um repórter da Reuters viu um avião do governo russo decolando de Ancara.
O Kremlin declarou que a decisão de Moscou de perdoar e libertar prisioneiros foi tomada para trazer os prisioneiros russos de volta para casa.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, um defensor veemente da guerra da Rússia na Ucrânia -- que provocou a prisão de centenas de críticos e levou as relações com Washington ao pior nível desde a Guerra Fria -- foi mordaz em um post no Telegram:
"Que os traidores agora escolham febrilmente novos nomes e se disfarcem ativamente em programas de proteção a testemunhas."
DISSIDENTES RUSSOS LIBERTADOS
Na última grande troca em 2010, 14 prisioneiros foram libertados.
Em dezembro de 2022, a Rússia trocou a estrela do basquete americano Brittney Griner, condenada a nove anos de prisão por ter cartuchos de vape contendo óleo de cannabis em sua bagagem, pelo traficante de armas Viktor Bout, que cumpre pena de 25 anos nos EUA.
Krasikov é um coronel do serviço de segurança russo FSB que cumpria pena de prisão perpétua na Alemanha pelo assassinato de um dissidente checheno-georgiano exilado em um parque de Berlim.
O próprio presidente russo Vladimir Putin indicou que queria Krasikov de volta e o governo alemão, ao comentar o acordo de troca, disse que "não foi uma decisão fácil" libertá-lo.
Rico Krieger, um alemão condenado à morte em Belarus por acusações de terrorismo, foi perdoado na terça-feira pelo presidente Alexander Lukashenko, um aliado próximo de Putin, antes de ser libertado.
Também foi libertado Vladimir Kara-Murza, um dissidente russo-britânico que cumpria pena de 25 anos por traição após dizer à Câmara dos Deputados do Arizona, em março de 2022, que Putin estava bombardeando casas, hospitais e escolas ucranianas.
Junto com ele, foram libertados o ativista de direitos humanos Oleg Orlov e o político da oposição russa Ilya Yashin.
Muitos dos libertados trabalharam com Alexei Navalny, a principal figura da oposição russa, que morreu em circunstâncias pouco claras em uma colônia penal no Ártico em fevereiro.
Sua viúva, Yulia Navalnaya, que prometeu continuar seu trabalho, saudou as libertações como "uma grande felicidade".
"Cada prisioneiro político libertado é uma grande vitória e alegria. Ninguém deve ser refém de Putin, torturado e morrer na prisão de Putin", escreveu ela no X.
(Reportagem de Andrew Osborn em Moscou, Filipp Lebedev e Lucy Papachristou em Londres, Ece Toksabay em Istambul, Mert Ozkan em Ancara)