Biles vence o duelo e Rebeca comemora a prata na final individual da ginástica artística em Paris
A arena Bercy, em Paris, ficou lotada de fãs e de celebridades na tarde desta quinta-feira (1°) para acompanhar os resultados da final individual geral feminino da ginástica artística, que reuniu as brasileiras Rebeca Andrade e Flávia Saraiva. A conquista da medalha de bronze por equipes, na última terça-feira (30), deu confiança às brasileiras. Rebeca não decepcionou a torcida brasileira presente e ficou com o segundo lugar no pódio, em mais um capitulo de sua brilhante carreira.
Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris
Um duelo de titãs que atraiu uma inflamada torcida para ver as principais atletas de ginástica artística feminina no mundo. Entre os presentes, estavam o empresário Bill Gates e o ex-jogador de futebol Zinedine Zidane. Desde o inicio da competição, as notas dos jurados evidenciaram a rivalidade entre Rebeca Andrade e a americana Simone Biles. O grupo das duas era considerado o mais forte da noite, pois reunia as seis ginastas melhor classificadas e elas brigaram ponto a ponto.
Numa competição como esta, os árbitros avaliam se a atleta executou todos os movimentos obrigatórios da série e a complexidade de cada acrobacia. Eles também julgam a exatidão dos movimentos. Ao todo, 24 competidoras disputaram as medalhas na final geral, ao passar por quatro aparelhos.
Rebeca e Biles se enfrentaram, primeiro, no salto sobre o cavalo, onde Rebeca fez uma apresentação impecável, conquistando uma nota de 15.100, a mesma alcançada por ela na terça-feira, na competição por equipes. A brasileira foi melhor hoje do que a americana Simone Biles, que obteve 15.766 no salto sobre o cavalo, nota melhor do que os 14.900 da terça-feira.
Enquanto Flavia Saraiva obteve uma boa apresentação nas barras assimétricas, com uma nota de 13.900.
Na rotação, Rebeca Andrade fez uma apresentação sem erros nas paralelas, alcançando 14.666, superior à de Simone Biles no mesmo aparelho. A americana conseguiu 13.733. Rebeca melhorou um pouco a sua performance neste aparelho em relação ao campeonato por equipes (14.533), enquanto a americana obteve uma nota mais baixa do que na terça-feira, quando fez 14.400.
Em seu grupo, na trave de equilibrio, Flavia Saraiva, fez uma apresentação sem erros, que lhe rendeu uma nota 14.266.
No mesmo aparelho, a nota da americana Simone Biles foi de 14.566, um pouco melhor do que na terça-feira (14.366), enquanto Rebeca, a última a passar pela trave, teve um pequeno desequilíbrio, sem cair, alcançando os mesmos 14.133 da terça-feira.
Flavia voltou a encantar a plateia com sua apresentação de solo, com referência ao cancan francês, obtendo 12.233.
Na quarta rotação da noite, Rebeca era a penúltima e Biles a última atleta a se apresentar no solo. Assim, a americana já conhecia a nota da brasileira, antes de entrar na arena.
Rebeca trouxe o funk e o som da favela para sua apresentação em Paris e com acrobacias perfeitas conquistou uma nota 14.033, garantindo já a prata. Ela tinha feito 14.200 no concurso por equipes.
O ginásio veio abaixo na última apresentação da noite, de Simone Biles, que fez saltos de alta complexidade e voos no ar, com aterrissagens perfeitas. Ela conquistou a nota de 15.066 e foi aplaudida de pé.
Na soma total de pontos, Simone Biles ficou com o ouro ao fechar 59.131 pontos e Rebeca com o segundo lugar, fazendo 57.932.
O bronze foi para a americana Sunisa Lee, que ficou na terceira posição, com 56.465 pontos.
A outra brasileira na disputa, Flávia Saraiva, terminou em nono lugar, com 54.032 pontos.
O fenômeno americano
Considerada uma das maiores ginastas de todos os tempos, Simone Biles é a ginasta mais condecorada da história. Nascida em Columbus, Ohio, em 14 de março de 1997, ela começou sua odisseia na ginástica com apenas seis anos de idade. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, ela surpreendeu a todos ao se retirar da competição por problemas de saúde mental, quando faltava uma final por equipes e quatro finais individuais. Ela ficou um longo tempo afastada do esporte, voltando a competir, em 2023, quando ganhou quatro medalhas de ouro e uma de prata no Campeonato Mundial. Com os resultados, a americana atingia um recorde de 23 medalhas de ouro em mundiais, das 30 que tinha ao total, fora a desta noite.
Rebeca e uma história de superação
Rebeca Andrade também tem um histórico de resiliência e perseverança que marcam a sua trajetória como atleta. A carioca demonstrou determinação ao superar três lesões devastadoras do LCA (ligamento cruzado anterior), o que nunca lhe impediu de conquistar um número impressionante de medalhas e Campeonatos Mundiais, ocupando atualmente o topo da glória da ginástica, admirada por suas companheiras de equipe e pelas adversárias.
Rebeca Andrade, 25, liderou o Brasil à inédita medalha por equipes na ginástica artística das Olimpíadas de Paris, ao lado de Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira. Com isso, ela havia acumulado três pódios nos Jogos Olímpicos, depois da prata no individual geral e do ouro no salto, em Tóquio, igualando-se à jogadora de vôlei Fofão e à judoca Mayra Aguiar, que também já tinham três medalhas. Mayra perdeu em Paris, na manhã desta quinta-feira, na categoria até 78 kg e saiu desolada.
Mas Rebeca queria mais. Nas classificatórias em Paris, ela se tornou a primeira brasileira a avançar a cinco finais, com chances de bater o recorde de cinco medalhas dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, maiores medalhistas olímpicos do Brasil.
Além das três medalhas olímpicas, Rebeca Andrade tem nove pódios em Mundiais, três ouros, quatro pratas e dois bronzes. Ela faz parte de um seleto grupo de atletas que já conquistaram medalhas em todas as provas da modalidade em Mundiais.
Rebeca Andrade ainda vai disputar outras três finais olimpicas em Paris.