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"Não aguentava mais perder para a Espanha", diz goleira do handebol após vitória na estreia em Paris

25/07/2024 13h52

"A gente está se sentindo em casa com tantos brasileiros aqui", reagiu Mariane Fernandes, atleta do handebol feminino originária de uma favela carioca, em entrevista à RFI, logo após a estreia com vitória do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris sobre as arquirrivais espanholas. A Seleção brasileira estreou na competição na tarde desta quinta-feira (25), na Arena 6 de Porte de Versalhes, decorada com muitas bandeiras verde e amarelo.

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

As espanholas abriram o placar, mas com a torcida quase inteira a favor, o Brasil não teve dificuldade de virar e avançar na contagem de pontos, logo nos primeiros minutos. As brasileiras mantiveram a vantagem durante todo o jogo e quebraram um jejum de uma década sem vencer as espanholas em jogos oficiais.

"Fazia tempo, não sei dizer quantos jogos a gente acabou atrás do placar e acho que este era o grande objetivo, acabar com essa mania de perder da Espanha", comemorou Gabriela Bitolo, emocionada. "A gente tinha muita vontade de começar com o pé direito e quando saiu o sorteio contra a Espanha, não havia melhor oportunidade de acabar com isso e deu certo. Estamos muito felizes", acrescentou.

O time brasileiro que estreou era formado por Jéssica Quintino, Giulia Guarieiro, Marcela Arounian, Jhennifer Lopes, Patricia Matieli e além da goleira Gabi Moreschi, que defendeu bolas difíceis e foi muito aplaudida.

"Não aguentava mais perder para a Espanha. A gente combinou de estudar o jogo delas e dar o nosso máximo e isso foi uma demonstração de que podemos muito", reforça Moreschi, que teve um papel fundamental na vitória. Com 1,90 de altura, ela buscou bloquear o gol, de 2 m por 3m. Gabriela teve 45% de aproveitamento, defendendo 14 de 31 arremessos espanhóis.

Hoje deu tudo certo, a minha defesa foi incrível, as meninas me ajudaram bastante e estou muito feliz com essa vitória para o Brasil", disse a paranaense de 30 anos, que contou com a família na arquibancada. "Eu tentei dar atenção para todos e devolver essa energia, mas ver meu irmão e minha mãe ali, que sabem de tudo o que eu passei para estar aqui, não foi fácil. Saí de casa cedo. Eu tentava olhar no olho deles porque isso me dava forças", afirmou em entrevista à RFI Brasil.   

Em um esporte de contato, muito físico e exigente para as atletas, ser ofensivo faz parte da estratégia. E o Brasil aproveitou bem as oportunidade de gol, além de marcar as adversárias com determinação.

Aos 10 minutos, as brasileiras já tinham aberto 7 a 2. E o time respondeu com garra aos apelos da torcida barulhenta por mais gols. A Espanha não acertou a finalização em momentos importantes e teve dificuldade frente à marcação das brasileiras.

Jennifer foi substituída por Adriana Cardoso, pouco antes do fim do primeiro tempo, que acabou com placar de 15 a10 para o Brasil.

A Seleção continuou dominando a partida no segundo tempo, abrindo dez pontos de vantagem. O time seguiu demonstrando bom entrosamento com a entrada de Kelly Rosa, Mariane Fernandes e Gabriela Bitolo.

"Uma equipe é isso, a gente tem que confiar em todo mundo, não importa se é antiga ou nova no time, o importante é estarmos unidas", explicou Tamires Araujo. "O handebol é muito bonito, é contagiante, um esporte que interage com os fãs", disse. "Foi uma sensação de êxtase. A gente estava em quadra com total alegria e podendo passar o que o Brasil é: um país de muita raça e determinação", comemora.

Para poder marcar gol, as jogadoras devem arremessar fora da zona da goleira, um semicírculo de 6 metros de raio, o que faz do handebol um esporte e um espetáculo, já que as jogadoras saltam no ar, dando a impressão de voar. A resistência e a força também são qualidades essenciais para uma jogadora de handebol, mas este esporte tático exige trabalho em equipe e versatilidade. 

Várias das atletas selecionadas para Paris participaram da conquista do ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em 2023. 

O melhor desempenho do Brasil em Olimpíadas no handebol feminino foi chegar às quartas de final em 2012 e 2016. Após dois tempos de 30 minutos, o jogo de estreia terminou de forma emocionante, com o Brasil marcando dois gols no último minuto, fechando com placar final de 29 a 18.

"Isso é um pouco de brilho para a gente. A gente teve tempo para estudá-las e mostramos isso dentro de quadra. Fico feliz de ganhar das espanholas na estreia mas tem muito pela frente ainda e a competição é longa", observa com prudência Bruna de Paula.

Grupo da morte

Em Paris, as brasileiras encaram adversárias difíceis logo na fase de grupos. Além da Espanha, as brasileiras têm pela frente a Hungria, equipe que conquistou três medalhas em Jogos Olímpicos; a França, dona da casa e atual campeã olímpica; a Holanda, vencedora do Mundial em 2021; e a Angola, tetracampeã africana. Só os quatro melhores times do grupo avançam à próxima fase. 

"Está lindo, tem um monte de brasileiros aqui, não podia ser mais especial: estreia com vitória e cheio de brasileiros. Foi lindo", disse Mariane Fernandes. "Isso dá uma motivação a mais para a gente seguir trabalhando, ainda tem muito pela frente, comemorar agora e depois 'virar a chave' para a Hungria", acrescenta.  

Sobre o handebol 

O handebol tem suas raízes no final do século XIX, nos países escandinavos e na Alemanha, onde era jogado, à época, na grama. Em 1910, G. Wallström introduziu o esporte na Suécia. Duas versões do esporte coexistiram até 1966, quando a indoor passou a ser preferida à grama. 

A versão atual do handebol é jogada em um campo coberto de 40m x 20m, onde competem duas equipes de sete jogadores, que devem driblar a bola com a mão e não permanecer com ela mais do que três segundos.  

São dois tempos de 30 minutos, vencendo a equipe que marcar mais gols. Os torneios olímpicos femininos e masculinos são compostos por doze equipes. 

Handebol nas Olimpíadas 

O handebol entrou para os Jogos Olímpicos em Berlim, em 1936, na sua versão de grama, e depois foi praticado como esporte de demonstração nos Jogos de 1952, em Helsinque. A modalidade só foi reaparecer no programa olímpico vinte anos mais tarde, nos Jogos de Munique, em 1972, desta vez no formato indoor. 

A prova feminina entrou no programa olímpico quatro anos depois, em Montreal.  

O ranking olímpico do handebol é amplamente dominado pela Europa. Todos os títulos olímpicos foram conquistados por uma nação europeia, com exceção das duas vitórias da Coreia do Sul em Seul, em 1988, e em Barcelona, em 1992, no torneio feminino. 

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