Atleta da Cisjordânia ocupada é primeiro boxeador palestino a participar de Jogos Olímpicos
Aos 20 anos, Wassim Abou Sal é o primeiro boxeador palestino a participar dos Jogos Olímpicos. Em Paris, ele competirá na categoria peso pena, com a esperança declarada de "conquistar o ouro". No entanto, sua trajetória é cheia de obstáculos: ele vive em território ocupado, na Cisjordânia, seu treinador é de Gaza e as restrições de movimentação impostas aos palestinos por Israel tornam sua preparação complicada.
Em um ringue de boxe, Wassim Abou Sal desferre golpes secos, e seus apoios são dinâmicos e tônicos. No entanto, ele não estava destinado a se tornar um campeão de boxe.
"Quando pequeno, eu odiava boxe. Preferia futebol. Foi meu pai que me obrigou a virar boxeador", confidencia Wassim Abou Sal, ou "Wassimov" para os íntimos, em entrevista ao enviado especial da RFI a Ramallah, Sami Boukhelifa. Duas competições no exterior o fizeram mudar de ideia: "Ganhei duas medalhas de ouro em campeonatos na Dinamarca e em Portugal. Eu tinha 13-14 anos e aí eu pensei: meu objetivo serão os Jogos Olímpicos."
Mais fácil falar do que fazer. É preciso treinar muito - e na Palestina ocupada, nada é simples: "Eu peso 57 kg. Para progredir, preciso treinar regularmente enfrentando adversários da minha categoria. Mas, para isso, é necessário poder ir a Jerusalém, Jenin ou Gaza."
Nos territórios ocupados, porém, o boxeador não pode se deslocar livremente: "Por causa dos checkpoints e das restrições israelenses, é difícil, até impossível se mover. Fui uma vez na vida para Jerusalém, quando era criança."
"Sou um esportista, mas também defendo uma causa política"
Os treinos acontecem exclusivamente em sua cidade, Ramallah. O clube no qual ele treina se chama El Barrio: uma sala à moda antiga, com paredes decadentes e sacos de pancada velhos.
O treino é supervisionado à distância, através de chamada de vídeo, por seu técnico, Ahmed Harara: "Sou de Gaza, e Israel proíbe os habitantes de Gaza a entrarem na Cisjordânia. Só em caso de razão imperiosa, como tratamentos médicos. No momento, estou no Egito e espero obter um visto para encontrar Wassim na França. Essa situação é absurda", desabafa o técnico. "Mas como palestinos, estamos condenados a enfrentar essas dificuldades. Então, prefiro pensar que a situação reforça a vontade e determinação de Wassim, para que ele conquiste um título olímpico."
O primeiro combate para Wassim Abou Sal vai ser em 28 de julho. Para o atleta, trata-se de muito mais do que uma simples luta de boxe. "Ao meu redor, alguns dizem: você se qualificou para os Jogos Olímpicos, isso já é uma grande conquista. Mas eu quero mais do que isso. Não vou a Paris apenas para participar de uma competição. Vou pela medalha."
O boxeador lembra da situação em seu país: "Sou um esportista, mas também defendo uma causa política. Sou o porta-estandarte da Palestina. Vivemos sob ocupação e queremos nossa liberdade. E conquistaremos nossa independência."
Na Palestina, o esporte é um privilégio
Desde os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, apenas 25 atletas palestinos representaram as cores da Palestina. Na Olimpíada do Rio, em 2016, foram seis atletas.
Presente em Tóquio, o nadador Yazan Al Bawwab, que reside em Dubai, espera pisar em solo francês. "Um dos grandes problemas no momento, além do fato de que aqueles que vivem em Gaza arriscam suas vidas, é que não temos orçamento", explicou ao jornal Le Parisien o especialista em nado de costas e nado crawl. "Seja para participar das provas de qualificação ou para participar de treinamentos, é muito complicado."
"Em lugares como a Palestina, onde há pouco dinheiro, o esporte é um privilégio", destaca Yazan Al Bawwab. "As famílias tentam, acima de tudo, se alimentar, e o esporte não é a prioridade. Eu faço parte dos poucos privilegiados e quero honrar meu país."
Yazan Al Bawwab não nasceu e nunca viveu na Palestina. "Nasci na Arábia Saudita, cresci em Dubai, fui para a Universidade no Canadá e no Reino Unido, vivi na Holanda e tenho nacionalidade italiana", explica ele. "Nunca tive um lugar que pudesse considerar como meu lar, mas sempre soube que a Palestina era minha casa e que eu devia me orgulhar disso."
Para os palestinos, os primeiros contatos com o COI remontam a 1978. Em 13 de setembro de 1993, no mesmo dia em que o presidente da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, e o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, apertaram as mãos no gramado da Casa Branca, o COI estendeu os braços para ajudar os jovens palestinos a praticarem esporte.
A proclamação do Estado de Israel, em maio de 1948, levou o COI a não mais convidar a equipe da Palestina para os Jogos de 1948 no Reino Unido. Para evitar um boicote das nações árabes, o COI também não convidou a delegação israelense, alegando que ela não dispunha de um comitê olímpico nacional reconhecido. Em Paris, os atletas palestinos e israelenses poderiam se reunir em torno dos valores universais do esporte durante a Trégua Olímpica, para promover a paz, o diálogo e a reconciliação.