Sem rivais, Kagame é reeleito em Ruanda com 99% dos votos: "quem tentou se opor não está mais neste mundo"
O presidente de Ruanda, Paul Kagame, se prepara para iniciar um quarto mandato, após a divulgação dos resultados da eleição nesta terça-feira (16), que apontam uma vitória esmagadora, com 99,15% dos votos. Os números parciais oficiais foram anunciados após 79% das cédulas terem sido apuradas. A falta de uma oposição sólida contribuiu para a reeleição do chefe de Estado, que mantém o "poder absoluto".
Victorien Willaume, da RFI
"O candidato da Frente Patriótica Ruandesa (FPR), Paul Kagame, obteve 99,15% dos votos na eleição presidencial, o candidato do Partido Democrático Verde de Ruanda, Frank Habineza, obteve 0,53%, e o candidato independente Philippe Mpayimana obteve 0,32%", declarou a presidente da Comissão Eleitoral, Oda Gasinzigwa, à televisão nacional. Os resultados definitivos serão conhecidos em 27 de julho.
Kagame, que lidera o país desde o fim do genocídio dos tutsis em 1994, e seu partido, eram os grandes favoritos. Concorreram nestas eleições presidenciais os mesmos candidatos que disputaram o cargo em 2017. Naquela ocasião, o atual chefe de Estado, agora com 66 anos, venceu com 98,79% dos votos, contra o líder do único partido de oposição autorizado, Frank Habineza (0,48%), e o independente Mpayimana (0,73%).
Kagame derrubou pôs fim ao genocídio
Kagame é o homem forte do país desde que liderou, em julho de 1994, uma rebelião da FPR que derrubou o governo extremista hutu e pôs fim ao genocídio que, segundo a ONU, resultou em 800 mil mortos, principalmente da minoria tutsi. Inicialmente como vice-presidente e ministro da Defesa, ele liderou de fato o país até ser escolhido como chefe de Estado pelo Parlamento em 2000, após a renúncia de Pasteur Bizimungu. Desde então, foi reeleito em três eleições com mais de 93% dos votos.
"Ele deu uma série de vantagens e progressos materiais para a população em termos de saúde e educação, além de ter impedido o ciclo de vinganças [após o genocídio]", explica Colette Braeckman, jornalista especialista da África Central e autora de vários livros sobre o Ruanda e os países vizinhos. "Mas, em troca, Kagame exerce um poder absoluto e ninguém, seja dentro ou fora de seu partido, se atreve a contradizê-lo", aponta em entrevista à RFI.
O presidente defende sua permanência no poder alegando a saúde econômica ruandesa desde que está no cargo. O país registrou 7% de crescimento entre 2012 e 2022, e progressos notáveis em áreas como saúde e educação marcaram seus mandatos. No entanto, "os índices de desigualdade continuam elevados", retruca Colette Braeckman. Atualmente, segundo números do Banco Mundial, mais da metade da população de Ruanda vive com menos de US$ 2,15 por dia.
Oposição de fachada
O ponto mais delicado da política ruandesa é a falta de rivais de peso, que dificulta a saída de Kagame do poder, mesmo se o país organiza eleições democráticas. "Ainda que haja legendas de oposição, a Frente Patriótica Ruandesa é, na realidade, um partido único, que controla tudo. Isso é uma força considerável e impressionante, mas é também uma fragilidade, pois atualmente não há ninguém no cenário político que possa ser um sucessor de Paul Kagame", resume a jornalista, que denuncia a liberdade limitada dos candidatos.
"Eles podem se expressar, mas de maneira muito controlada e contribuem para essa imagem de diversidade política. Mas o verdadeiro pluralismo político é quando alguém pode enfrentar Kagame sobre as suas ideias e as suas realizações. Isso seria uma verdadeira oposição", diz Colette Braeckman. "Mas isso é inimaginável atualmente e aqueles que tentaram não estão mais neste mundo... Foram assassinados. Então é uma oposição prudente e controlada".
Neste pequeno país localizado na região dos Grandes Lagos, no leste da África, 65% da população tem menos de 30 anos e só conheceu Kagame no poder.