Macron aponta risco de "guerra civil" se um dos extremos vencer eleições polarizadas na França
Os três principais blocos políticos que disputam as eleições parlamentares da França se enfrentarão em um debate na TV nesta terça-feira (25), enquanto a extrema direita se destaca nas intenções de voto. O presidente Emmanuel Macron alerta para o risco de uma "guerra civil" caso um dos extremos - seus oponentes - vençam as eleições (dias 30 de junho e 7 de julho).
O primeiro-ministro francês Gabriel Attal, da maioria presidencial, Jordan Bardella, presidente do Reunião Nacional (RN, extrema-direita), e o coordenador do partido A França Insubmissa (LFI), Manuel Bompard, representando o bloco de esquerda Nova Frente Popular, devem esquentar o primeiro debate às 21h de Paris (16h, hora de Brasília) na reta final de uma campanha relâmpago e tensa para a Assembleia Nacional francesa, que foi dissolvida por Macron em 9 de junho.
Críticos estimam que o jovem Jordan Bardella (RN) seja quem mais tem a perder nessa noite de horário nobre. Depois do sucesso nas eleições europeias, o RN está liderando as pesquisas do primeiro turno, com 36% das intenções de voto, de acordo com o Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública), e pode facilitar a ambição de uma histórica ascensão da extrema direita ao poder.
A coalizão de esquerda Nova Frente Popular tem 29,5% das intenções de voto, enquanto a base presidencial tem 20,5% segundo as pesquisas.
A situação de Macron no pleito
No campo presidencial, Emmanuel Macron, criticado por todos os lados por dissolver a Assembleia Nacional após o fracasso de seu partido nas últimas eleições europeias, está multiplicando suas intervenções, apesar dos avisos de seus aliados e da queda de sua popularidade.
Segundo as pesquisas, sua base parece ser a mais fraca entre os três blocos em disputa, mesmo no caso de uma aliança com os republicanos de direita que se opõem ao RN (porcentagem que varia entre 7% e 10%).
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"Extremos" levam "à guerra civil"
Em fala polêmica, Emmanuel Macron disse durante um podcast transmitido na segunda-feira (24), na França, que os programas dos "extremos" levam "à guerra civil". Para Macron, a extrema direita "remete as pessoas a uma religião ou a uma origem", "divide" a população e pode "levar à guerra civil". O chefe de Estado acusa ainda o LFI de propor "uma forma de comunitarismo", que nas palavras dele "também leva à guerra civil".
"Ele fez isso conosco em todas as campanhas", respondeu Marine Le Pen (liderança da extrema direita e do RN). "É a estratégia do medo", acrescentou o novo aliado Eric Ciotti, enquanto Jean-Luc Mélenchon, líder do LFI, acusou o presidente francês de "estar sempre presente para 'incendiar' as coisas".
Resultados "cristalizados"?
O debate na TV francesa (canal TF1) pode não ter muita força para mudar os resultados das pesquisas. "As pessoas já escolheram, isso já está cristalizado. O debate não vai mudar as coisas. Talvez ele possa influenciar os abstencionistas" e "nos beneficiar", declarou um macronista.
No combate ao partido RN, cerca de 200 socialistas, ecologistas e macronistas convocaram a direita, o centro e a esquerda, no diário Le Monde para "deixar claro agora" um acordo antes do segundo turno.
Jordan Bardella e Gabriel Attal pediram que Jean-Luc Mélenchon aparecesse no debate em vez de Manuel Bompard. Eles acreditam que o ex-candidato à presidência é o verdadeiro concorrente ao cargo de primeiro-ministro em Matignon dentro da aliança da Nova Frente Popular (já que o bloco vencedor nas eleições legislativas pode indicar um nome para premiê).
No entanto, outras forças políticas da coalizão de esquerda preferem um candidato de "consenso". Jean-Luc Mélenchon "não é o líder da Nova Frente Popular e não será o primeiro-ministro", disse a líder do partido dos ecologistas da França Marine Tondelier à AFP na segunda-feira.
Por sua vez, o partido Republicanos (LR, direita) apresentou um pedido de medidas provisórias ao Conselho de Estado, o mais alto tribunal administrativo da França, para serem convidados para o debate de terça-feira na TF1. A direita considera "altamente prejudicial" ser excluída.
A primeira rodada de votação começa ainda nesta terça-feira com a abertura da votação pela internet para os cidadãos franceses que vivem no exterior. O resultado das legislativas, com as expectativas por um primeiro governo de extrema direita na história do país e uma Assembleia Nacional dominada por três polos que não conversam, é uma fonte de preocupação na França e no exterior, apenas um mês antes dos Jogos Olímpicos de Paris.
(com AFP)