Inundação oculta: como identificar carro já alagado antes de fechar negócio
Quando se trata de comprar um carro usado, um dos maiores temores é adquirir um veículo que tenha sido danificado por enchentes. Carros que passaram por alagamentos podem ter problemas mecânicos, elétricos e de saúde a longo prazo, muitas vezes não imediatamente aparentes.
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul resultaram em danos significativos, afetando cerca de 200 mil veículos. A consultoria Bright Consulting estimou que o prejuízo financeiro alcançou a marca de R$ 8 bilhões.
Os disfarces para encobrir o alagamento de determinado veículo para vendê-lo como se estivesse em perfeito estado são engenhosos - nem sempre os sinais do problema são facilmente identificáveis, como o odor e a ferrugem, mas haverá sinais. Para evitar cair nessa cilada, é crucial saber identificar que determinado veículo passou por enchente.
Confira o histórico do veículo
O histórico do veículo é uma ferramenta valiosa. Utilize o número do chassi para verificar o histórico do carro em bancos de dados que registram veículos danificados por enchentes. Essa pesquisa pode revelar informações cruciais sobre o passado do automóvel.
Segundo Beto Reis, sócio-diretor da Super Visão, uma das redes de vistorias automotivas do Brasil, responsável por produzir mais de 80 mil laudos mensalmente, a preocupação com a compra de um carro disfarçado para esconder esse passado submerso é evidente.
"Não se engane, existem muitos veículos recuperados de alagamentos que circulam nas cidades, na maioria dos estados brasileiros. Um veículo de enchente pode ser visualmente bem recuperado, o que impossibilita uma afirmação garantida se o carro passou ou não por uma enchente ou alagamento", alerta o especialista.
Ele lembra que uma parte dos carros que sofre este tipo de sinistro não é segurado. Isso quer dizer que poderão ser recuperados e devolvidos ao mercado sem nenhum tipo de registro.
Já os carros sinistrados e indenizados por seguradoras, em sua maioria, são leiloados após a sua recuperação e essa informação costuma aparecer no respectivo documento.
Porém, antes de levar para uma vistoria, alguns sinais já podem ser identificados previamente.
Sinais de que o carro já passou por alagamento
Um cheiro de mofo ou de umidade dentro do carro pode indicar que a água ficou acumulada por um tempo. Levante os tapetes e verifique se há manchas de água ou lama, especialmente sob o carpete, onde a água pode ficar presa. Verifique também o porta-malas e o espaço sob o estepe.
A presença de ferrugem em componentes internos, como pedais, parafusos e partes metálicas sob o painel, pode ser um sinal de exposição à água. A ferrugem em áreas que normalmente não entram em contato com água, como dobradiças de portas e molas, é um alerta vermelho.
Os componentes elétricos do carro também revelam pistas. Teste todos os interruptores, incluindo vidros elétricos, travas das portas, luzes e sistema de som. Falhas intermitentes ou mau funcionamento podem indicar danos causados pela água. Além disso, uma inspeção cuidadosa do painel de fusíveis pode revelar sinais de oxidação.
A lama e os detritos são outros sinais claros. Verifique se há acúmulo de sujeira em locais incomuns, como espaços ao redor do motor, atrás do painel e dentro de compartimentos de armazenamento. A presença de sedimentos ou lama nesses locais é um forte indicativo de que o carro foi submerso.
A linha d'água pode muitas vezes ser vista no motor ou em componentes sob o capô. Procure por uma linha de sujeira ou lama que indique até onde a água subiu. Verifique também se há água no óleo do motor ou na transmissão, o que pode causar sérios danos mecânicos.
Os faróis e lanternas traseiras podem acumular umidade, portanto, verifique se há condensação ou água dentro das carcaças. Além disso, inspecione o interior dos faróis para ver se há sinais de imersão ou sujeira acumulada.
A inspeção por um mecânico de confiança é sempre recomendada. Um profissional pode identificar sinais de danos por água que podem não ser óbvios para um comprador não especializado. Eles podem verificar o sistema de arrefecimento, o óleo do motor e outros fluidos para sinais de contaminação por água.
Motor e mecânica
"O melhor procedimento em caso de suspeita de admissão de água pelo sistema de ar do motor é submeter todos os componentes periféricos a uma avaliação, inclusive o turbocompressor, se for o caso", afirma Guilherme Soares, head de aftermarket da BorgWarner Emissions, Thermal and Turbos Systems no Brasil.
O turbocompressor deve ser avaliado internamente também. A partir do momento em que houve admissão de água pelo sistema de ar, a água pode passar pelo sistema de vedação da carcaça central, contaminando o óleo e até causando a corrosão de componentes internos do conjunto rotativo o que pode levar a um desgaste prematuro e afetar o desempenho do turbo. Se a água atingir componentes eletrônicos do sistema, como sensores de rotação, pode causar falhas elétricas e afetar o controle correto do propulsor e de seus periféricos.
Portanto, o sistema necessita ser completamente desmontado na fábrica por técnicos capacitados para avaliação dos componentes internos e verificação de possíveis danos, como por exemplo, oxidação de peças.
A partir desta análise pode ser necessária a troca dos componentes danificados ou, na pior situação, a substituição do turbocompressor por completo.
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