S&P rebaixa nota da França por dúvidas sobre controle do déficit
A agência de classificação de risco S&P Global Ratings rebaixou nesta sexta-feira (31), pela primeira vez desde 2013, a classificação da dívida soberana da França, de "AA" para "AA-", citando "o deterioramento da situação orçamentária" da segunda maior economia europeia.
Após um desvio notável do déficit previsto em 2023, a empresa americana coloca em dúvida a recondução das finanças públicas do país até o fim do mandato de Emmanuel Macron, em 2027.
"O rebaixamento reflete nossa projeção de que, contrariamente às nossas expectativas anteriores, a dívida pública francesa em relação ao PIB aumentará devido a déficits maiores que o esperado em 2023-2027", indicou a empresa americana em uma análise de sua decisão final.
A França anunciou em março um déficit público em 2023 de 5,5% do PIB, em vez dos 4,9% esperados, uma situação que leva a agência de classificação de risco a questionar a capacidade do governo de reduzir o déficit em 2027 para menos de 3% do PIB, o limite imposto pela Comissão Europeia.
A S&P prevê inclusive que o déficit chegue a 3,5% em 2027 e indica que, "sem medidas adicionais" para reduzi-lo, "as reformas não serão suficientes para permitir ao país alcançar seus objetivos fiscais".
O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, reiterou, no entanto, que a meta será alcançada e explicou, em uma entrevista ao jornal Le Parisien, que o rebaixamento na classificação de risco se deveu aos esforços do governo que permitiram "salvar a economia francesa".
"Nossa estratégia continua sendo a mesma: reindustrializar, alcançar o pleno emprego e manter nossa trajetória para ter um déficit inferior a 3% em 2027", declarou o ministro.
Até agora, a França tinha uma classificação na S&P semelhante à de Bélgica e Reino Unido, embora sua dívida e seu déficit no ano passado fossem superiores aos desses dois países.
A agência de classificação considera que a dívida pública, atualmente de 109,9% do PIB, crescerá até chegar a 112% em 2027.
- 'Gestão catastrófica' -
Com a nova nota, a França fica ainda mais distante do triplo A da Alemanha, a classificação mais alta, mas se mantém acima de outras grandes economias europeias, como Espanha e Itália.
Um rebaixamento na classificação de risco pode provocar um movimento de desconfiança nos investidores, com o consequente aumento do serviço da dívida (as quantias desembolsadas para pagar os juros).
O economista Sylvain Bersinger, da empresa Asterès, ressaltou, no entanto, que o rebaixamento representa sobretudo um golpe na imagem, "que não deve ter consequências econômicas significativas".
A oposição aproveitou para atacar Macron. "A gestão catastrófica das finanças públicas de governos tão incompetentes quanto arrogantes colocou o nosso país em dificuldades muito graves", criticou a líder da extrema direita Marine Le Pen.
Nas condições atuais, o governo Macron prevê que as quantias destinadas a pagar esses juros aumentem em 2027 para 72,3 bilhões de euros (R$ 411 bilhões) - em comparação com 36,3 bilhões (R$ 206,3 bilhões) em 2022 - devido principalmente ao aumento das taxas de referência do Banco Central Europeu (BCE). Essa quantia é superior ao orçamento da Educação no país.
A S&P retirou da França em 2012 sua classificação máxima, "AAA", da qual atualmente se beneficiam poucos países, incluindo Alemanha e Austrália.
As outras duas grandes agências internacionais, Moody's e Fitch, mantiveram em abril a classificação da França, em "Aa2" no caso da primeira, um nível semelhante ao "AA" da S&P, e "AA-" na segunda, o equivalente a um degrau abaixo.
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