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9 filosofias japonesas para você se inspirar a mudar hábitos e viver melhor

Motoki Tonn/Unsplash
Imagem: Motoki Tonn/Unsplash
do UOL

Janaína Silva

Colaboração para o VivaBem

31/05/2024 04h00

Os arranjos florais japoneses conhecidos como ikebanas e as peças de cerâmicas consertadas com pó de ouro, prata ou platina para evidenciar as rachaduras trazem em sua essência princípios da filosofia wabi-sabi, que incentiva a valorização daquilo que é imperfeito.

A filosofia é um modo de dar sentido à realidade, segundo Amanda Sayonara Fernandes Prazeres, doutora em filosofia e professora da UPF (Universidade de Passo Fundo), no RS. "A filosofia japonesa, como em outras sociedades, emerge da capacidade de reflexão sistemática e crítica sobre a realidade, moldada por valores e tradições culturais."

Conforme ela explica, a cultura atua como uma lente através da qual se constrói uma visão filosófica única, capaz de abordar desafios específicos e universais, tornando-a o cerne do pensamento filosófico japonês. No entanto, é necessário esclarecer que o que o senso comum compreende como filosofia, nem sempre condiz com o que a academia considera ser.

"A cultura japonesa está profundamente enraizada em filosofias que buscam a felicidade e fomentam um estilo de vida mais saudável, acreditando-se que atingir esse objetivo requer uma atenção equilibrada às cinco dimensões da saúde: física, espiritual, social, familiar e financeira", esclarece Sérgio Okamoto, médico especialista em saúde ocupacional e superintendente geral do HNipo (Hospital Nipo-Brasileiro).

Como explica Prazeres, a filosofia japonesa contribui para a filosofia mundial ao propor soluções únicas para os problemas universais. "Acredito que cada um pode aprender com essas propostas e aplicá-las nos problemas que enfrentamos, como brasileiros, na atualidade. Por exemplo, o que a filosofia japonesa tem a dizer sobre as consequências das ações humanas em relação ao meio ambiente que têm causado as catástrofes climáticas que enfrentamos hoje?"

1. Aproveitar os momentos sem pressa

Nas palavras de Okamoto, o conhecimento wabi-sabi ajuda a firmar um novo olhar sobre a rotina, apreciando o que dá certo, o que dá errado e aproveitar os momentos sem tanta pressa.

2. Aprimoramento contínuo

Além do wabi-sabi, existem outros ensinamentos orientais que ajudam no dia a dia. Muitos já ouviram falar dos cinco "S": seiri, senso de utilização; seiton, de organização; seiso, de limpeza; seiketusu, de padronização e sheitzuke, de disciplina. Eles representam os cinco passos da prática da filosofia kaizen, que preza o aprimoramento contínuo, por meio de pequenos ajustes, em prol de eficiência máxima. A palavra kaizen significa mudança para melhor.

3. Propósito de vida

Okinawa, as ilhas no extremo sul do Japão, é famosa pela longevidade. Lá as mulheres vivem mais tempo do que qualquer outra no planeta. Além do moai, círculo de amigos para toda a vida que apoia as pessoas até a velhice, os habitantes mantêm um forte sentido de propósito, uma força motriz que os japoneses chamam de ikigai.

Okamoto explica que esse conceito japonês incentiva as pessoas a encontrarem sua razão de viver para equilibrar a vocação e as paixões. A mandala do ikigai representa uma ferramenta de autoconhecimento composta por quatro círculos: o que amo fazer, o que posso fazer bem, o que posso ser pago para fazer, o que o mundo precisa. O equilíbrio entre todos esses pontos é o ikigai.

"O método é capaz de auxiliar na busca do propósito pessoal. E com isso em mente, é mais simples saber o que se deseja e ter motivação todos os dias."

4. A arte da gentileza

Conhecido como o poder da gentileza, shinsetsu é o conceito ensinado pelas famílias japonesas desde cedo e é considerado uma grande virtude no país.

"O shinsetsu promove comportamentos que demonstram respeito, consideração e cuidado por todos, principalmente nesses tempos de intolerância e individualismo, preocupando-se, de forma genuína, com a existência do próximo", descreve Okamoto.

5. A capacidade do encorajamento

Nas palavras de Midori Makino, professora aposentada do curso de meteorologia da UFPA (Universidade Federal do Pará), ganbatte é usado sempre para desejar sucesso no estudo, trabalho ou na saúde, e dar ânimo.

Essa tradição permeia todos os aspectos da sociedade nipônica, transmitindo determinação, perseverança e espírito de luta contra as adversidades. "Quando a ouvimos, nos sentimos capazes de conseguir vencer na vida."

Atualmente, Makino participa da Associação Pan Amazônia Nipo Brasileira com a dança de Bon Odori, dança de roda com passos simples e repetidos. "Durante as apresentações, qualquer pessoa pode entrar na roda para dançar."

6. Ter resiliência

Outro princípio é o shikata ga nai, que preconiza a aceitação e resiliência, enfatizando a importância de aceitar as coisas que não podem ser mudadas.

7. Estar aberto a novos aprendizados

Shoshin é a filosofia da mente de principiante que ensina a mantê-la aberta em todas as situações, considerando diversas perspectivas. O termo é bastante comum no aprendizado de artes marciais.

"Precisamos estar abertos a novos aprendizados e pontos de vista, sem arrogância, prepotência ou preconceitos Abrir-se para o mundo pode ser uma boa forma de respirar um novo ar e driblar as adversidades da vida", explica Okamoto.

8. Conectar-se com a natureza

Para quem vive em grandes cidades, Okamoto aconselha que o contato direto com o meio ambiente para obter momentos de paz e tranquilidade, sendo benéfico para a mente e para a prevenção de doenças.

"Conhecido como banho de floresta, a prática shinrin-yoku incentiva a passar um tempo em uma floresta com o objetivo de relaxar e se conectar com a natureza."

9. Evitar o desperdício

A filosofia mottainai propõe hábitos que possam evitar qualquer tipo de desperdício, além do material. É muita difundida por meio do princípio dos quatro "R":

  1. Reduzir o desperdício
  2. Reutilizar os recursos e objetos materiais
  3. Reciclar o que for possível
  4. Respeitar a natureza e o próximo

No entanto, Prazeres explica que nem toda filosofia envolve prática. Algumas são necessariamente teóricas. Assim, para praticar ou agir de acordo com uma perspectiva filosófica, é preciso antes de tudo compreendê-la em profundidade.

"Se você se interessa pela filosofia japonesa e gostaria de vivenciá-la de forma profunda e radical comece lendo filósofos e filósofas japonesas. Deve-se adotar uma abordagem rigorosa e sistemática, seguindo métodos específicos, e questionando tanto as conclusões derivadas da sabedoria popular quanto as generalizações precipitadas que podem surgir da ciência", indica.

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