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Fake news e gafes no RS pioram imagem do governo, diz pesquisa do Planalto

do UOL

Do UOL, em Brasília

26/05/2024 04h00Atualizada em 26/05/2024 13h19

Os desdobramentos das enchentes no Rio Grande do Sul fizeram de maio o pior mês para a imagem do governo Lula (PT) neste terceiro mandato do presidente. É o que mostram pesquisas internas do Planalto.

O que aconteceu

Pesquisas encomendadas pela própria gestão mostram que o governo sai arranhado da tragédia. Entre os principais motivos estão as fake news espalhadas contra o governo, um entendimento de que os órgãos públicos demoraram a agir e as gafes do presidente Lula e da primeira-dama, Janja da Silva.

Falas de Lula e Janja tiveram repercussão negativa nas redes e até entre a bancada. Aliados e pessoas ligadas ao governo citam os casos da declaração de Lula sobre não saber que havia tantos negros no RS, o destaque dado por Janja ao resgate do cavalo Caramelo e a foto da primeira-dama com cestas de alimentos no avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

A Secom (Secretaria de Comunicação Social) evita o assunto e o Planalto insiste nos feitos do governo. Segundo a presidência, já foram destinados mais de R$ 62 bilhões em resposta à tragédia.

Fake news e letargia pública

Lula foi três vezes ao Rio Grande do Sul desde o início das enchentes e tem tentado passar a imagem de menos burocratização. Não tem funcionado: a avaliação interna é que o governo não conseguiu mostrar isso.

Pelo que foi coletado, há uma percepção da população sobre uma demora das autoridades no geral. Sob o entendimento de que voluntários e moradores estavam tomando a dianteira inicial dos resgates e das ajudas, os atingidos não fizeram distinção específica entre os poderes municipais, estadual e federal, mas o episódio tem sido explorado politicamente pela oposição.

O Planalto também culpa fake news, espalhadas até por parlamentares. Tema reiterado nos discursos de Lula e seus ministros, o governo tem investido em tentar desmentir as desinformações, que vão da suposta inação da gestão a notícias falsas sobre impedimento de entrega de alimentos.

Falas e fotos de Janja

Aliados destacam, no entanto, as gafes como ponto central. Para pessoas próximas e interlocutores do governo, a fala do presidente, que disse não saber que havia "tantos negros no Rio Grande do Sul", e ações da primeira-dama desviaram a atenção das ações do governo.

Membros do governo dizem que houve desproporcionalidade com a atenção ao cavalo Caramelo. O animal, que causou comoção nacional ao ser flagrado em cima de um telhado, virou um dos focos da atenção de Janja, que chegou a acionar o Exército para resgatá-lo. Emocionada, a primeira-dama interrompeu o evento oficial sobre socorro no Planalto para anunciar o resgate — Lula também o mencionou no discurso.

Na visão de apoiadores, houve um "foco muito grande em um animal" enquanto havia "problemas maiores". Parlamentares do Sul narram que chegaram a ser cobrados por eleitores por que suas histórias "não ganharam comoção semelhante à de um cavalo".

A imagem da primeira-dama com cestas de alimento no avião da FAB também foi alvo de críticas. Janja postou nas redes sociais uma foto em um avião de passageiros da FAB sendo usado para o transporte de cestas básicas. Na foto, os kits ocupavam os assentos da aeronave.

Criticada pela oposição, a imagem também desagradou a base. Ao UOL, parlamentares do estado dizem não ter sido convidados para irem ao estado, enquanto um avião de passageiros era ocupado com uma cesta básica por assento. As lideranças locais argumentaram que o avião não só não tinha esta finalidade, como também ouviram reclamações da população, ironizando que "uma caminhote consegue levar aquele número" e o avião "estava vazio".

Eu falei para a Janja no domingo que é impressionante. Eu não tinha noção que aqui tinha tanta gente negra. E ela me falou que são os mais pobres e moram nos lugares mais arriscados para serem vítimas dessas coisas.
presidente Lula durante discurso no dia 15 de maio em São Leopoldo

Mudanças na Secom

Isso tudo se deu em meio à mudança na comunicação do governo. Paulo Pimenta, então ministro-chefe, tornou-se ministro do Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, e Laércio Portela, nome ligado ao grupo de Janja, assumiu a Secom interinamente.

Segundo aliados, a troca só aumentou a influência da primeira-dama nas táticas do governo. Em meio a disputas internas, ainda não se sabe quem deverá assumir a pasta de vez, mas há um entendimento de que Pimenta deverá seguir voltado ao Sul, onde é cotado para disputar o governo do estado em 2026.

A própria saída de Pimenta foi vista como uma reação às cobranças de Lula sobre a imagem do governo. Semanas antes da troca, o presidente fez uma cobrança dura aos ministros, dizendo que o governo não estava sabendo comunicar seus feitos ao povo brasileiro.

O que o governo argumenta

O Planalto aponta as fake news como principal vilão para a imagem do governo e reforça que tem se mexido. Ao todo, o governo anunciou cerca de R$ 62,5 bilhões em investimentos conjuntos para a reconstrução do estado, além de criar a pasta especial.

A última leva, de R$ 1,8 bilhão, foi na última sexta (24). Segundo o governo, o dinheiro vai para as mais diferentes áreas: auxílio à reconstrução e infraestrutura, ações da defesa civil, suporte aos serviços de emergência, retomada de atividades das universidades e institutos federais, assistência jurídica para a população, entre outros.

A assessoria da primeira-dama afirmou que ela se empenha "na ajuda ao povo do Rio Grande do Sul e na articulação de ajuda humanitária". Sobre a foto no avião, argumentou que a imagem e a publicação "destacam o fato de a FAB ter levado, até aquele momento, 900 toneladas de alimento para os desabrigados" e "enaltecem a solidariedade do povo brasileiro".

A assessoria de Janja confirmou ainda que ela ligou para o general Hertz Pires, Comandante das Operações no RS, para resgatar o cavalo. Disse que sua preocupação "sempre foi a de que o animal fosse resgatado e ficasse bem".

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