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Cannes atribui Palma de Ouro à comédia 'Anora' e dá prêmio especial ao iraniano Rasoulof

25/05/2024 16h34

O júri do 77º Festival de Cannes atribuiu, neste sábado (25), a Palma de Ouro a "Anora", uma comédia americana sobre o mundo das trabalhadoras sexuais, e deu um Prêmio Especial ao diretor iraniano Mohammad Rasoulof, que fugiu recentemente de seu país.

Embora as apostas indicassem que "The Seed of the Sacred Fig", uma denúncia impactante do regime islâmico iraniano, levaria o prêmio máximo, o júri presidido pela americana Greta Gerwig fez a opção por um filme mais leve.

O musical em espanhol "Emilia Pérez", do francês Jacques Audiard, teve dois reconhecimentos: o Prêmio do Júri e o de melhor interpretação feminina, atribuído excepcionalmente a todas as atrizes protagonistas.

Muito emocionada, a atriz trans espanhola Karla Sofía Gascó recebeu o prêmio em nome das colegas: Zoe Saldaña, Selena Gómez e Adriana Paz.

- Um tom mais leve -

Em uma época de denúncias da violência sexual no showbiz, o americano Sean Baker conseguiu fazer Cannes rir com "Anora", que conta a história de uma bailarina de striptease que se apaixona pelo cara errado.

Anora "Ani" (Mikey Madison) é bailarina em uma boate de programas onde, certa noite, aparece Ivan (Mark Eydelshteyn), um belo jovem bêbado, filho de um bilionário russo.

Ambos se apaixonam, mas Ivan é genioso e imaturo e, quando convence Ani a se casar com ele em Las Vegas, provoca a revolta de sua família.

"Este filme é magnífico, é cheio de humanidade (...), nos impactou", disse a presidente do júri.

Baker, um nome de destaque do cinema independente americano, que saltou para a fama com "The Florida project" (2017), dedicou o prêmio "a todas as trabalhadoras do sexo".

- O manifesto de Rasoulof -

Rasoulof, de 51 anos, havia anunciado no início do festival que deixou o Irã a pé, uma fuga "exaustiva" e perigosa", após ser condenado a cinco anos de prisão e a levar chibatadas por "conluio contra a segurança nacional".

O festival anunciou imediatamente que o receberia de braços abertos para apresentar pessoalmente seu filme na mostra competitiva, o que aconteceu na sexta-feira.

"The Seed of the Sacred Fig" conta a história de um juiz, sua esposa e filhas, arrastados pelos protestos contra o regime, protagonizados particularmente por mulheres.

"A situação é grave em muitos lugares do mundo, mas quero dizer-lhes simplesmente que atualmente o povo iraniano é refém" do regime, disse Rasoulof.

"Estou muito triste, profundamente penalizado pela catástrofe que meu povo vive todos os dias", acrescentou.

Seu filme, que foi ovacionado por 14 minutos em sua estreia em Cannes, é um manifesto contra o regime dos aiatolás.

- A mensagem de "Emilia Pérez" -

Filme dramático, mas cheio de mensagens de esperança, "Emilia Pérez" conta a história da decisão de um chefe do narcotráfico mexicano de mudar de sexo e de vida.

Karla Sofía Gascón, de 52 anos, que interpreta o duplo papel do chefão e de "Emilia Pérez", se tornou a primeira atriz trans premiada em Cannes.

A atriz dedicou o prêmio "a todas as pessoas trans, que sofrem todos os dias".

O júri decidiu atribuir seu Grande Prêmio, o mais importante depois da Palma de Ouro, ao indiano "All We Imagine as Light", de Payal Kapadia, sobre a vida de duas enfermeiras de Mumbai e seus relacionamentos com os homens neste país tão tradicional.

O português Miguel Gomes levou o prêmio de melhor diretor por  "Grand Tour" e a estatueta de melhor roteiro foi para uma comédia de horror feminista, "The Substance", da francesa Coralie Fargeat.

O prêmio de melhor ator ficou com o americano Jesse Plemons, um dos intérpretes de "Kinds of Kindness", de Yorgos Lanthimos.

E como testemunho da mudança de gerações, Cannes concedeu uma Palma de Ouro Honorária ao criador de "Guerra nas Estrelas", George Lucas, de 80 anos. Foi seu amigo, Francis Ford Coppola, de 85 anos, que também competia este ano, que lhe entregou o prêmio dedicado ao conjunto de sua obra.

jz/es/js/mvv

© Agence France-Presse

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