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Casa que acolhe 170 pacientes com câncer é destruída por enchentes no RS

do UOL

Do UOL, em São Paulo

16/05/2024 04h00

Uma casa de acolhimento para pessoas com câncer sofreu perda total devido ao desastre climático no Rio Grande do Sul e terá que mudar de endereço em Lajeado. É a segunda vez em menos de um ano que a sede tem prejuízos. Centenas de pessoas foram afetadas.

O que aconteceu

Duas sedes da Aapecan (Associação de Apoio a Pessoas com Câncer) no Rio Grande do Sul tiveram danos integrais. As unidades de Porto Alegre e Lajeado.

Em Lajeado, a perda foi total, com a água chegando no teto. A unidade atende 170 pessoas, que ficaram sem estrutura para continuar os tratamentos contra o câncer. Tudo foi perdido: escritórios, alojamento, refeitório, cozinha. Ainda não foi possível quantificar o tamanho das perdas.

antes e depois quarto - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Antes e depois de um quarto em uma casa de acolhimento para pessoas com câncer em Lajeado-RS
Imagem: Arquivo pessoal

A sede em Lajeado sim perdeu tudo, somente um andar e água atingiu todos os espaços. Mas para resolver essa problemática de duas enchentes já, iremos mudar de endereço em Lajeado, para que o trabalho continue e a gente siga os atendimentos as pessoas com câncer
Renata Teixeira, supervisora de comunicação Aapecan

sede - Arquivo/Aapecan - Arquivo/Aapecan
Sede da AAPECAN em Lajeado-RS
Imagem: Arquivo/Aapecan

Em setembro de 2023, a cidade da região do Vale do Taquari havia passado por seu momento mais delicado até então. À época, também foi necessária uma força tarefa para a casa ser reconstruída. Desta vez, a casa foi obrigada a mudar de local.

A mudança de endereço está acontecendo de forma gradual. A associação tenta arrecadar fundos para voltar a receber a mesma quantidade de pacientes. Em 13 unidades da associação que não foram atingidas, é possível realizar doações.

Em Porto Alegre, 212 pessoas foram afetadas. As fortes chuvas destruíram móveis de escritório, computadores, alimentos, camas, cadeiras de rodas e muito mais. O que sobrou estava em um andar mais alto. Apenas as salas de psicologia não tiveram danos.

A problemática é que temos muitos usuários afetados, além do câncer, eles estão enfrentando dificuldades nas suas casas. Em Porto Alegre nem conseguimos entrar na casa (de acolhimento), estamos esperando a água baixar para termos a real dimensão do que aconteceu. E muita coisa se foi. Mas vamos manter o mesmo local.
Renata Teixeira, supervisora de comunicação Aapecan

Apoio ao tratamento

As casas de acolhimento são essenciais para quem precisa tratar câncer. Nestes locais as pessoas em tratamento encontram uma estrutura para se manter, e familiares podem acompanhá-los no período. Sem os espaços, muitas pessoas não conseguiriam seguir com o procedimento.

O paciente em quimioterapia nunca deve atrasar o tratamento, pois impacta na cura e no tempo de qualidade de vida. Ainda existem pacientes em estágio mais avançado que precisam do tratamento para controlar a doença. Muitos ficam fracos, com dor.
Priscila Silva, médica oncologista da Santa Casa de Porto Alegre

A Aapecan é mantida por doações. A Organização da Sociedade Civil não tem vínculos públicos e nem caráter privado, destinando todas as doações que recebe para as estruturas que recebem os pacientes. Em cidades afastadas de grandes centros, é comum que pessoas viajem e se hospedem nestes locais.

Outra associação sem fins lucrativos que auxilia pacientes oncológicos montou um abrigo exclusivo na capital. O Instituto Camaleão abriu um espaço no Salão Paroquial da Igreja São Jorge, em Porto Alegre, para abrigar pessoas em tratamento que perderam seus lares. O espaço tem capacidade para 30 pacientes.

Médicos oncologistas do Rio Grande do Sul criaram site para acolher pacientes. Pessoas em tratamento em situação de vulnerabilidade ou desabrigo podem sinalizar em um site que precisam de ajuda para uma equipe entrar em contato.

A gente se surpreendeu por que os pacientes das demandas diversas. A maior parte são pessoas que se tratam no SUS, que ficam sem acesso aos serviços, pela distância com os médicos. Esses pacientes entram em contato falando que estão ilhados com cidades sem tratamento. Vários não conseguiram seus tratamentos. Pessoas que não conseguem fazer quimioterapia. Pessoas que precisam de medicamentos e não conseguem buscar. Alguns pacientes precisam de morfina por conta da dor.
Priscila Silva, médica oncologista da Santa Casa de Porto Alegre

Apenas na Santa Casa de Porto Alegre, 98 pessoas deixaram seus tratamentos. O número foi levantado do dia 1º ao dia 13 pela coordenação do hospital. Pacientes pediátricos não foram contabilizados.

"Grande angústia"

Leila Figueira tem 62 anos e foi diagnosticada com câncer de mama. A aposentada disse ao UOL que além da fragilidade psicológica por conta do câncer, teve que enfrentar as dores e reflexos do desastre ambiental.

Uma angústia muito grande. Por que a doença já é um impacto, você não sabe do amanhã. A única coisa que a gente tem é fé e esperança. Neste momento, com essa questão, não tinha dia que eu não chorava. Vendo notícia, pelo psicológico, pela doença.
Leila Figueira, aposentada

Leia ficou ilhada em Guaíba. Pela tragédia, a paciente ficou 15 dias sem ter acesso algum ao tratamento. O município foi um dos mais afetados pelas enchentes.

Não tinha como eu ir. A não ser aéreo ou pelo lago. Pelo lago seria impossível pela correnteza era muito forte. E o aéreo estava fazendo resgastes mais urgentes. Isso tudo tem um impacto muito forte porquê eu tenho câncer de mama e meu psicológico já estava abalado.
Leila Figueira, aposentada

A moradora de Guaíba está ansiosa para voltar ao tratamento. Com viagem marcada para Porto Alegre na sexta-feira, a retomada da quimioterapia só será possível após a abertura de um corredor humanitário entre as duas cidades.

Você não consegue avaliar os prejuízos para o tratamento. Tenho muito medo. Graças a Deus não tive prejuízos na minha casa, é alta, mas fiquei ilhada. Eu soube hoje que vou conseguir voltar a me tratar, que vou fazer a quimio na sexta. Uma felicidade. A prefeitura vai me levar.
Leila Figueira, aposentada

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