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Professor suspeito de sequestro ocorrido enquanto dava aula é solto em SP

O professor de educação física Clayton Ferreira e a sua esposa, Cláudia Gomes, deixam o 26º DP, após ele passar dois dias preso - Paulo Pinto/Agência Brasil
O professor de educação física Clayton Ferreira e a sua esposa, Cláudia Gomes, deixam o 26º DP, após ele passar dois dias preso Imagem: Paulo Pinto/Agência Brasil
do UOL

Do UOL, em São Paulo

18/04/2024 16h41Atualizada em 18/04/2024 22h07

Após passar dois dias preso, o professor negro Clayton Ferreira, 40, foi solto na tarde desta quinta-feira (18). Ele havia sido preso temporariamente sob acusação de um sequestro ocorrido em Iguape enquanto dava aula na capital paulista, a 200 km do local do crime.

O que aconteceu

Clayton ficou detido no 26º DP (Sacomã), zona sul da capital, e saiu por volta das 16h. Antes de voltar para casa, o professor foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) para passar por exame de corpo de delito.

A Secretaria da Educação liberou o professor de educação física a voltar ao trabalho — o que deve acontecer na segunda-feira (22). Clayton dá aula na rede estadual há nove anos. A escola onde ele trabalhava no ano passado confirmou à polícia que ele estava dando aula na capital paulista.

O juiz Roberto Porto havia inicialmente negado o pedido liminar de habeas corpus solicitado pela defesa do professor. O magistrado mudou seu entendimento e autorizou na quarta à noite a soltura de Clayton.

Defesa diz que a prisão foi injusta e aconteceu após um grave erro de inquérito. Segundo o advogado Danilo Reis, o reconhecimento foi feito apenas por uma foto (do RG de Clayton). No momento da ordem de prisão, Clayton diz que os policiais mostraram uma foto antiga dele e perguntaram sobre outra mulher, supostamente cúmplice do crime.

Você é professor e não conhece Iguape? disseram. Aí eles foram falando algumas cidades próximas. Aí eu fui percebendo onde é a cidade. Mas nunca estive lá.

Eu estou me acalmando primeiro, esperando minha mãe. Vou ver com a coordenação [da Escola Estadual Maria José, na Bela Vista, região central de São Paulo] o que vamos fazer. Espero voltar o mais breve possível, quero dar aula na segunda.
Clayton Ferreira professor de educação física

Diante da recente decisão da Justiça pela soltura do professor, a Diretoria de Ensino Centro Sul reverteu a interrupção de contrato, e o docente está apto a retornar às suas atividades.
Nota da Secretaria da Educação

O Juízo de primeira instância mencionou a necessidade da prisão temporária com a finalidade de facilitar a investigação de crime grave (roubo). Todavia, enfraquecidos indícios de autoria pela hipótese plausível de o paciente estar trabalhando no momento do crime, tenho que a custódia caracteriza constrangimento ilegal sanável a adoção de medida de urgência.
Desembargador Roberto Porto, ao decidir pela soltura

Reconhecimento foi feito por foto

Clayton Ferreira dos Santos foi preso temporariamente na terça-feira (16). A vítima do crime, uma mulher de 73 anos, teve R$ 11 mil roubados e reconheceu o professor, que é negro, por uma foto.

Vítima disse ter informado aos policiais que teve dúvidas ao analisar a foto. À TV Tribuna, a mulher afirmou que os agentes foram até sua casa e, no portão, mostraram a foto de Clayton em um celular. Segundo ela, a imagem era de um homem de "cabelo muito comprido", enquanto o criminoso tinha cabelo curto. "Em quatro meses, não cresceria o cabelo daquele jeito", disse.

Professor lecionava no momento do crime, diz defesa. O sequestro aconteceu por volta das 9h do dia 31 de outubro de 2023, segundo boletim de ocorrência. De acordo com a defesa de Ferreira, nesse momento, ele estava dando aula em uma escola na capital paulista.

Escola emitiu declaração informando que o professor estava lecionando. O documento emitido pela Escola Deputado Rubens do Amaral, no Jardim Saúde, zona sul da capital, é assinado pelo diretor da unidade.

Posso afirmar que ele trabalhou no dia 31. Fiz a declaração dos horários, todos eles, e encaminhei. Estou achando estranho toda essa situação, ele é um professor que nunca deu trabalho, sempre trabalhou certinho. E, de fato, ele estava dando aula
Vilson Sganzerla, diretor da escola

Clayton jamais esteve nessa comarca [Iguape] e, no horário e na data em que foi realizado o roubo, ele estava trabalhando. Ele é professor de educação física. A escola expediu uma declaração, forneceu para nós os atestados, as folhas de ponto.

Mais uma pessoa negra, de comunidade, sem apontamento negativo criminal algum, está em cárcere por causa de um mero reconhecimento fotográfico
Danilo Reis, advogado

mandado - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Escola assinou declaração atestando que o professor estava trabalhando no momento do crime
Imagem: Arquivo pessoal

Secretaria da Segurança disse haver conjunto de provas

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse ao UOL na quarta-feira que a prisão foi baseada em "conjunto probatório". O TJ-SP informou que o caso está em sigilo.

A defesa afirma que todas as medidas serão tomadas para comprovar a falha no inquérito policial.

A autoridade policial de Iguape reuniu o conjunto probatório e representou ao Judiciário pela prisão temporária dos investigados. O Ministério Público manifestou parecer favorável ao pedido, que foi concedido pelo juiz.
Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em nota enviada ao UOL na quarta-feira

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