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"Não basta que os caminhões entrem em Gaza, é preciso distribuir a ajuda humanitária a quem precisa", diz ONU

18/04/2024 14h33

Israel realizou novos ataques mortais na Faixa de Gaza nesta quinta-feira (18), onde o Exército enfrenta o grupo palestino Hamas. Pressionado pelos parceiros internacionais para autorizar a entrada de mais ajuda humanitária a este território em guerra há mais de seis meses, Israel concordou em abrir novas rotas de distribuição. Porém, isso não resolve a situação precária de mais de 2 milhões de pessoas deslocadas, alerta Andrea De Domenico, chefe do escritório das Nações Unidas para a coordenação de assuntos humanitários (OCHA) nos territórios palestinos. 

"Em comparação ao bloqueio total da Faixa de Gaza, como vimos em outubro, há uma melhora, mas estamos longe de poder atender 2,2 milhões de pessoas", diz Andre de Domenico em entrevista à RFI. "O mundo observa a entrega de ajuda humanitária contando o número de caminhões que entram em Gaza. Mas isso é errado porque não mostra a complexidade da situação e, sobretudo, a capacidade de levar a assistência a quem precisa. Não basta entrar em Gaza, uma vez que se ultrapassa a fronteira, o trabalho não acabou", diz. "É preciso chegar às pessoas que necessitam dessa ajuda humanitária". 

Oito caminhões transportando farinha que chegaram ao porto israelense de Ashdod entraram ontem na Faixa de Gaza. A abertura deste porto à ajuda humanitária é uma decisão recente do governo israelense. "É verdade que recentemente houve um engajamento mais determinado para encontrarmos soluções, mas ainda não é suficiente", observa Domenico. "Uma das maiores dificuldade para distribuir a ajuda em Gaza é a falta de combustível. Além disso, as ruas são um terreno de guerra. Há destroços por toda a parte e, às vezes, bombas que não explodiram", relata. "Na parte sul, ainda conseguimos nos locomover mais facilmente, mesmo que a população tenha dobrado. Mas perto do front, ao norte, não existem mais estradas", diz. "Também há um número limitado de caminhões", acrescenta. 

Quase 34 mil mortos 

Israel continua a sua operação na Faixa de Gaza, lançada em resposta ao ataque perpetrado em 7 de outubro por comandos do Hamas infiltrados a partir de Gaza, que resultou na morte de 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses. 

Mais de 250 pessoas foram sequestradas e 129 permanecem detidas em Gaza, 34 das quais morreram, segundo autoridades israelenses. 

O Exército israelense afirmou, nesta quinta-feira, ter atingido dezenas de "alvos" em toda a Faixa de Gaza, incluindo "terroristas, postos de observação e estruturas militares".  

Em 24 horas, foram registadas pelo menos 71 mortes adicionais, informou o Ministério da Saúde do Hamas, elevando o número total da ofensiva israelense para 33.970 mortes, principalmente civis.

"Memórias enterradas" 

De acordo com a mesma fonte, os corpos de oito pessoas de uma mesma família, incluindo cinco crianças e duas mulheres, foram descobertos após um ataque no distrito de Al-Salam" em Rafah (sul). "Acordei com o som de meninas gritando 'mamãe, mamãe' (...) corri e encontrei crianças correndo (...) havia cadáveres espalhados por toda parte", disse à AFP o palestino Jamalat Ramidan.  

Os bombardeios também atingiram Al-Mawasi (sul), que se tornou um campo com milhares de tendas que abrigam pessoas deslocadas. "A nossa terra foi arrasada, a nossa casa destruída e as nossas memórias enterradas sob os escombros, as nossas esperanças e sonhos foram destruídos", lamenta Shams Majid, 22 anos, uma destas pessoas deslocadas. 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mantém o seu plano de ofensiva terrestre contra Rafah, na fronteira com o Egito, que considera como o último grande bastião do Hamas, grupo no poder em Gaza desde 2007 e que Israel considera como uma organização terrorista, assim como os Estados Unidos e a União Europeia. 

Sanções ao Irã, aliado do Hamas 

Na quarta-feira (17), a União Europeia decidiu impor novas sanções ao Irã, visando os produtores de drones e mísseis, dispositivos utilizados no primeiro ataque direto comandado por Teerã, aliado do Hamas, em solo israelense. "Estamos à beira de uma guerra no Oriente Médio que causará consequências no resto do mundo", alertou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, antes de uma cúpula do G7 na Itália. 

(Com RFI e AFP)

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