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Paris a 100 dias dos Jogos Olímpicos: o que ainda resta fazer e quais as maiores preocupações?

17/04/2024 09h20

Faltando exatamente 100 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024, o Comitê Organizador (Cojo) presidido pelo ex-atleta francês da canoagem, Tony Estanguet celebra vitórias, como a entrega dos principais locais de competição no prazo. Porém, as provas de triatlon e a maratona aquática no rio Sena, o transporte na cidade de Paris e a cerimônia de abertura ao ar livre, com desfile fluvial, ainda exigem muita preparação. 

Cem anos depois da última olimpíada na capital francesa, a contagem regressiva marca 100 dias para a largada do maior evento esportivo do mundo em território francês. Um século depois, os cinco anéis que representam a união dos cinco continentes, serão o grande destaque em Paris a partir do dia 26 de julho, data do início da quinzena de competições olímpicas. Nesta quarta-feira (17), foi aberta mais uma fase de venda de ingressos, com 250 mil bilhetes disponíveis, de todas as modalidades.

A essa altura, muitos franceses se perguntam se Victor Wembanyama levará a seleção de basquete ao topo do pódio ou se o judoca e grande estrela nacional, Teddy Riner, finalmente ganhará uma terceira medalha de ouro individual para coroar sua carreira.

Entretanto, a principal pergunta é: a França estará pronta? Alguns assuntos ainda são considerados delicados, três meses antes do pontapé inicial para o evento.

Se outras cidades-sede, como o Rio de Janeiro (2016) ou Pequim (2008) tiveram que correr para terminar as obras a tempo e viram seus orçamentos explodirem, por enquanto a batalha da infraestrutura foi vencida pela Solideo, empresa responsável pela entrega dos projetos olímpicos de Paris 2024, e pelo Comitê Organizador. Toda a infraestrutura construída e durável foi concluída no prazo. A começar pela Vila Olímpica, inaugurada no final de fevereiro na presença de Emmanuel Macron. Embora o orçamento tenha sido ligeiramente revisto em alta em cerca de € 100 milhões, em parte devido à inflação, os prazos foram cumpridos, mesmo que o local ainda não esteja totalmente operacional, uma vez que os alojamentos dos atletas ainda vão ser equipados. O mesmo vale para o Centro de Mídia de Dugny (em Seine-Saint-Denis), inaugurado no início de março e que vai receber 1300 jornalistas e técnicos de comunicação. Os lotes habitacionais construídos no local já estão quase todos vendidos após os Jogos.

Um dos Jogos mais baratos da história moderna

A questão do orçamento levanta questionamentos, a medida em que o projeto olímpico de Paris vai sendo finalizado. De acordo com cálculos da AFP, a fatura atual dos Jogos Paris 2024 gira em torno de € 9 bilhões e a expectativa é que a conta final passe os € 10 bilhões. Nunca no passado recente um orçamento olímpico deixou de ser alterado durante a fase de preparação e nesse sentido, Paris não fez melhor do que suas antecessoras. Contudo, Paris 2024 será uma das edições menos caras da história moderna. De acordo com estimações do gabinete de estudos econômicos Asterès, esta será a terceira edição mais barata desde 1988. 

Em termos de comparação, os Jogos de Tóquio, impactados pela crise sanitária da Covid-19 custaram € 12 bilhões, segundo a Corte de contas japonesa, cerca de duas vezes o valor previsto no dossiê de candidatura. Para Londres, os gastos foram estimados entre € 12 e 15 bilhões. Em 2008, em Pequim, a conta pode ter passado dos € 40 bilhões em razão das obras de infraestrutura. E Atenas, em 2004, gastou € 13 bilhões em sua edição dos Jogos. No caso de Paris, o orçamento previsto em 2019 era de € 6,8 bilhões. 

Poucas estruturas permanentes

Ao optar por várias estruturas temporárias, Paris construiu apenas uma arena na capital: a Porte de la Chapelle, onde o time Paris Basketball já se instalou como clube residente. Durante os Jogos, o local receberá as competições de badminton e ginástica rítmica. Outra obra de grande envergadura para esta edição é o Centro Aquático de Saint-Denis, em frente ao Stade de France. A inauguração, no dia 4 de abril, deu origem a uma cena tragicômica, quando o mergulhador francês Alexis Jandard falhou no trampolim, diante dos jornalistas e do presidente da República.

 

As obras menos pesadas, relativas a equipamentos já existentes, como a marina Roucas-Blanc, em Marselha, que acolherá as provas de vela, correram bem, segundo os organizadores, embora o orçamento tenha duplicado (€ 44 milhões).

Na fase atual, o trabalho é voltado para as estruturas temporárias, especialmente na cidade de Paris, como o estádio aos pés da Torre Eiffel, ainda em fase de montagem, que acolherá jogos de futebol para cegos e de vôlei de praia.

A cerimônia de abertura ainda é dúvida

Em entrevista recente ao jornal Le Parisien, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, afirmou que "desde que sejam bem patrulhados, os grandes eventos estão sem dúvida entre os locais mais seguros". Segundo ele, "não há razão, portanto, para nos desviarmos do plano inicial de uma cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no Sena. Vamos manter o rumo, com alguns ajustes", anunciou.

Os espectadores que poderão assistir ao espetáculo fluvial a partir das margens do rio foram reduzidos para 326 mil pessoas, em comparação com 600 mil originalmente. O ministro do Interior detalhou as medidas que cercarão o evento. Sete dias antes da cerimônia será instalada uma zona antiterrorista ao longo do Sena, "entre a ponte Bercy e o Trocadéro", explicou. Para circular nesse local será necessário mostrar credenciais por meio de um código de acesso QR e um documento de identidade. Estas medidas serão ainda mais restritivas no Dia D, com interrupção quase total do trânsito.

O plano de segurança chamado de Vigipirate foi reforçado na França desde o ataque em Moscou, em 22 de março, e a ameaça terrorista é levada em conta pelas autoridades. E pela primeira vez, a existência de planos alternativos para a abertura na praça do Trocadéro ou no Stade de France, com uma cerimônia reduzida, mas mais segura, foi mencionada pelo presidente Emmanuel Macron, na segunda-feira (15). 

A 100 dias dos Jogos, o Stade de France continua em reformas. Após a substituição das poltronas e instalação de novos telões gigantes, agora a pista de atletismo está sendo refeita. Se ela foi azul na Rio 2016, e ocre em Tóquio, há três anos, a pista será roxa em Paris. "É uma criação única, com uma cor que nunca existiu", anunciou com orgulho Alain Blondel, responsável pelas provas de atletismo Paris 2024. "Começamos com base nas cores de referência que você verá em todos os sites de competição: uma pista roxa com tons diferentes. Um pouco mais claro para a pista, um pouco mais escuro para as áreas de serviço que não são áreas de competição e cinza nos finais das curvas, para relembrar as pistas de concreto de 1924, há 100 anos, quando os Jogos Olímpicos foram realizados pela última vez aqui em Paris", destacou.

Será possível nadar no Sena?

Mesmo antes do início dos Jogos Olímpicos, a natação no rio Sena sofreu alguns contratempos. Durante o verão de 2023, os eventos pré-olímpicos de natação foram cancelados devido à poluição bacteriológica excessiva. A limpeza do rio para torná-lo banhável em alguns trechos é tanto um projeto político como desportivo. Até o momento, a World Aquatics, reconhecida pelo COI e responsável por administrar competições internacionais, disse estar confiante. A entidade garantiu que "entendeu que os projetos de infraestrutura serão concluídos e trarão uma melhoria significativa na qualidade da água para as Olimpíadas".

Na segunda-feira, a ONG Surfrider Foundation alertou para o estado "alarmante" das águas do Sena, onde vão ser realizados vários testes, após uma bateria de amostragens feitas ao longo de seis meses, fora do período previsto para a natação. A associação realizou 14 medições entre o final de setembro de 2023 e o final de março de 2024 sob as pontes Alexandre-III e Alma, locais das futuras provas de triatlon e da natação em águas abertas. Dessas, 13 apresentavam resultados "acima ou mesmo significativamente acima" dos limites recomendados para bactérias indicativas de contaminação fecal, Escherichia coli e enterococos.

O presidente do Comitê organizador, Tony Estanguet, disse ter ficado "surpreso que os testes sobre a qualidade da água tenham sido feitos em pleno inverno, época em que os rios não são normalmente próprios para banho". O Cojo conta com águas mais limpas à época das competições e tem realizado inúmeras obras para despoluir o rio que corta Paris, como a construção de um grande reservatório para águas pluviais.

Outra preocupação: os transportes na Île-de-France

O dossiê de candidatura de Paris apresentado em 2015 ao Comitê Olímpico Internacional (COI) incluía a existência das linhas de metro 15, 16 e 17 do projeto Grand Paris Express. Essas promessas, no entanto, foram retiradas da lista de promessas ao longo do tempo, provocando dúvidas relativas à organização adequada da rede de transportes da Ile-de-France (onde fica Paris) durante os Jogos.

Atualmente, há uma mobilização para evitar o caos, com 15% mais de metrôs do que num verão normal, para absorver um fluxo semelhante a um dia normal de trabalho de inverno. Para isso, foram recrutados massivamente condutores, agentes de estação, operadores de manutenção, etc. 

As dificuldades diárias dos usuários de diversas linhas de metrô, RER e ônibus causam preocupação. "Se as coisas correrem mal, prejudicaremos a fama da França", alertou Jean Castex, ex-primeiro ministro e diretor-geral da RATP (a empresa responsável pelos transportes públicos em Paris e nos seus arredores), numa entrevista ao L'Équipe. As autoridades apelam aos franceses que puderem para evitar o transporte durante o período olímpico. "Você não deve ter medo de caminhar um pouco, é bom para a saúde", disse Valérie Pécresse, diretora de mobilidades da Île-de-France, que administra os transportes na região de Paris. "Talvez seja hora de pegar a bicicleta", acrescentou o ministro dos Transportes, Patrice Vergriete.

Ingressos: mais uma chance 

Esta quarta-feira marca mais uma oportunidade para comprar ingressos para os Jogos Paris 2024: desde as 10h (5 horas em Brasília) foram liberados tíquetes mesmo para as competições mais procuradas. Por exemplo: 10 mil ingressos para a ginástica artística, 15 mil para natação, 35 mil para o vôlei de praia, 12 mil para o tênis de mesa. O Comitê Organizador destaca que metade deles são oferecidos por menos de € 100 , cerca de R$ 544, uma forma de responder às críticas de que os Jogos Olímpicos de Paris são acessíveis apenas aos mais ricos. 

No total, desde a abertura da bilheteira em 1 de dezembro de 2023, já foram vendidos quase oito milhões de ingressos para as competições olímpicas, dos quais 63% foram adquiridos pelo público francês, de acordo com a organização. 

(Com RFI e AFP)

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