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O Brasil na Suíça: artistas negros expõem na ONU, em Genebra

15/04/2024 15h43

Mais de 20 artistas negros do Brasil expõem suas obras na sede da ONU, em Genebra, na Suíça. A RFI acompanhou a abertura da exposição de arte "Atlântico Vermelho", que contou com a participação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, de autoridades brasileiras, artistas e representantes de organizações não governamentais.

Valéria Maniero, correspondente da RFI em Genebra, na Suíça

A cantora Teresa Cristina levou o samba para dentro da ONU, cantando Senhora da Liberdade, Sorriso Negro e um samba-enredo da mangueira. Ela também fez uma oração, citando nomes de mulheres negras.

O Brasil está presente nessa mostra e em outros dois eventos que acontecem esta semana por causa do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, considerado o evento mais importante das Nações Unidas sobre a questão racial.

Eu perguntei para a ministra Anielle Franco quão importante era aquele tipo de evento para o Brasil: "Nesses últimos 14, 15 meses à frente do ministério, a gente tem recebido muitas pessoas que há anos tentam viver da sua arte. E acho que a diferença de ter agora um governo humanizado, democrático, é que eu posso pegar o telefone e falar: Margareth, o que a gente pode fazer, que é a ministra da Cultura, uma mulher Negra, que entende. A importância de estar aqui e encontrar artistas negros que contam as nossas histórias que, historicamente e sistematicamente, são negadas há tanto tempo, é imensurável. Diz que a gente está no caminho certo, demonstra cada vez mais que a gente tem condições de falar por si só, que isso é algo que, enquanto mulher negra, eu sinto diariamente, muitas pessoas que acham que podem falar por nós e a gente cada vez tem reafirmado ser protagonistas das nossas histórias".

Caso Marielle

Eu também perguntei para a ministra a respeito das respostas que  faltam no caso Marielle. Ela disse que ainda é preciso garantir que a Justiça seja feita. Disse que a prisão dos envolvidos é um avanço, mas que é necessário esperar que as coisas se concretizem de fato. Falou também que falta tudo, mas que principalmente falta a irmã. Sobre os votos dos parlamentares favoráveis à liberação dos envolvidos que estão presos, disse que, para ela, foi "zero surpresa".

 

A cantora Teresa Cristina ficou emocionada ao falar com a RFI sobre o que representava para ela estar ali.

"É muito importante qualquer tipo de alcance sobre a fala do povo preto. Eu fiquei muito emocionada com o convite, não foi fácil, porque eu tive de procurar o meu próprio financiamento, assim como os artistas que estão aqui expostos também lutaram para conseguir chegar aqui, expor o seu trabalho. Para minha carreira, é muito importante porque eu não sou só eu. Eu acho que o meu corpo é um corpo que se repete. Existem muitas Teresas no Brasil. E eu acho importante eu chegar até aqui, à ONU, pra cantar numa exposição dessas, porque eu quero que outras Teresas venham. Que isso se repita de alguma forma. Estar aqui hoje é uma vitória pra mim, mas é uma vitória para pessoas como eu, que são muitas".

Autoridades e organizações civis do mundo todo vão se reunir para discutir temas importantes, como discriminação e desigualdade racial, xenofobia, educação e letramento racial, justiça reparatória.

Um dos objetivos deste Fórum é a elaboração de uma Declaração Universal sobre Direitos Humanos de Afrodescendentes, que terá força de Tratado Internacional.

Esta é a primeira exposição de arte contemporânea no Fórum Permanente de Afrodescendentes. No total, 22 artistas afrodescendentes brasileiros de diferentes partes do país estão expondo 63 obras, como fotografias, esculturas e pinturas.

Essa exposição é organizada pelo Instituto Luiz Gama, a ONG Paramar e o Instituto Guimarães Rosa.

Curador da exposição, Marcelo Campos também falou com a RFI sobre a mostra.

"A Atlântico Vermelho é um projeto que reúne artistas negros, negras e negros do Brasil. Um projeto importante porque ele procura trazer as reflexões atualizadas e contemporâneas sobre o processo da Diáspora Africana. Ao mesmo tempo, ter artistas que são descendentes, afrodescendentes e, além disso, trazer a própria compreensão de luta, de sobrevivência, de certa maneira, de reparação histórica, referente à população afrobrasileira. Estar aqui na ONU é fundamental porque a gente está no Fórum de discussão, que pode fazer com que a exposição não fique restrita a uma exibição somente. Nós vamos discutir no Fórum, vamos propor cláusulas dentro da própria ideia da Constituição Brasileira, em relação à população afrodescendente".

Nos eventos paralelos que acontecem até sexta, especialistas, representantes do governo brasileiro e artistas vão debater a efetivação dos direitos humanos por meio do poder da arte e, no final, vão fazer um documento com sugestões para serem incluídas na Declaração Universal sobre Direitos Humanos de Afrodescendentes.

A exposição está sendo realizada em um dos espaços mais nobres da ONU: no mezanino ao lado da Sala do Conselho de Direitos Humanos e da Aliança das Civilizações.  

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