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Policiais são filmados em enterros de mortos em ações da PM: 'Intimidação'

do UOL

Do UOL, em Santos

05/03/2024 04h00Atualizada em 05/03/2024 11h02

PMs foram flagrados em ao menos três enterros de pessoas mortas na operação das forças de segurança pública na Baixada Santista. Com 39 mortes, a ação policial é a mais letal de São Paulo desde o massacre do Carandiru.

O que aconteceu

Revistas da PM após enterro. Parentes e amigos que estavam no sepultamento de Peterson Xavier Nogueira, 32, tiraram fotos e fizeram vídeos para registrar a presença de ao menos seis policiais no cemitério da Areia Branca, em Santos (SP), na última quinta-feira (29). Segundo eles, os agentes revistaram pessoas na saída do local.

Sem fogos de artifício. Os PMs também solicitaram que não houvesse fogos de artifício durante o enterro. Peterson foi uma das vítimas da ação policial que matou cinco pessoas no dia 27 de fevereiro, em São Vicente, em uma área de mangue, deixando um rastro de sangue e ao menos 15 cápsulas de fuzil no local do crime. A PM alega que houve confronto, versão contestada por testemunhas ouvidas pelo UOL no local.

Ele [Peterson] não é ser humano? Não pode ter um enterro digno? Os policiais estiveram no enterro e ainda queriam revistar todo mundo. Eles obrigavam as pessoas a levantar a blusa para ver se estavam com arma. Ficaram lá, como se estivessem fazendo escolta. Pedi: 'pelo amor de Deus, respeita o luto da família'. Mas os policiais não respeitaram.
Testemunha

PMs foram filmados enquanto acompanhavam enterro de Peterson Xavier Nogueira na última quinta-feira (29) no cemitério da Areia Branca, em São Vicente (SP). Ele estava entre os cinco mortos em uma ação policial - Reprodução - Reprodução
PMs foram filmados enquanto acompanhavam enterro de Peterson Xavier Nogueira na última quinta-feira (29), no cemitério da Areia Branca, em São Vicente (SP). Ele está entre os cinco mortos em uma ação policial
Imagem: Reprodução

"Respeito pelo sentimento da família". Em outro vídeo, no dia 15 de fevereiro, no enterro de Emerson Rogério Telascrea, 33, é possível ver os policiais com fuzis em meio ao sepultamento. Amigos e parentes registraram as imagens com gritos pedindo respeito. Segundo a PM, Emerson foi morto após apontar uma arma para os agentes no Saboó, em Santos. Testemunhas contestam, alegando que ele estava segurando uma xícara de café.

Ronda em frente ao cemitério. A família de Jefferson Ramos Miranda, 37, também acusa policiais militares de terem feito ronda em frente ao cemitério onde o corpo dele foi enterrado. "Os policiais não respeitaram a dor da família", diz Juliana Ramos Miranda, 34, irmã de Jefferson. Ele foi morto no dia 9 de fevereiro, no Morro do São Bento, em Santos.

Temos imagens de policiais entrando no meio de um enterro e aterrorizando as pessoas. É um caso de intimidação, que está deixando as famílias com medo.
Claudio Silva, ouvidor das polícias de SP

O que diz a SSP

Corregedorias à disposição. Questionada pelo UOL sobre o relato das famílias, que se dizem intimidadas, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que as corregedorias "estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra os agentes públicos, incluindo as citadas pela reportagem".

"Instituições legalistas", diz SSP. Ainda que cite a atuação da corregedoria, a pasta defende a atuação dos policiais dizendo que "as forças de segurança são instituições legalistas, que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional".

Acompanhamento do Ministério Público e do Judiciário. A secretaria diz que os casos de morte na ação da PM na Baixada Santista são investigados pelas polícias, com monitoramento do MP e do Judiciário.

Balanço da operação. A pasta diz ter feito 837 prisões, incluindo de 315 procurados pela Justiça. A SSP ainda cita as apreensões de 577 quilos de drogas e de 90 armas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informava a matéria, Claudio Silva é ouvidor das polícias, e não corregedor, e o cemitério da Areia Branca fica em Santos, não em São Vicente. O texto foi corrigido.

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