Berlim desconfia que Moscou tenta manipular debate alemão sobre entrega de armas à Ucrânia
Olaf Scholz prometeu uma investigação "completa" neste sábado (2), depois que supostas trocas de mensagens entre oficiais alemães sobre entregas de armas à Ucrânia foram vazadas na Rússia, com conteúdo extremamente embaraçoso para Berlim. Um porta-voz do Ministério da Defesa alemão ainda que não era possível confirmar a autenticidade da gravação, mas que o Escritório Federal de Contrainteligência Militar estava investigando o assunto e que todas as medidas necessárias seriam tomadas.
A informação é "um assunto muito sério e é por isso que agora está sendo investigada com muito cuidado, muito minuciosamente e rapidamente", declarou o chanceler alemão Olaf Scholz durante uma visita a Roma.
O ministério da Defesa alemão disse que estava examinando "se as comunicações ligadas à Força Aérea foram grampeadas". "A contraespionagem militar (BAMAD) tomou todas as medidas necessárias", disse uma porta-voz do ministério.
A polêmica surgiu depois que o que parecia ser uma gravação de uma conversa por videoconferência entre oficiais alemães de alto escalão foi postada nas redes sociais da Rússia, na sexta-feira (1°).
Margarita Simonyan, editora-chefe do canal de televisão estatal russo RT, publicou o arquivo, que dura mais de meia hora, apresentando-o como uma troca de mensagens datada de 19 de fevereiro.
Mísseis Taurus
Nessa conversa, que a agência AFP ouviu, os participantes falam especialmente sobre a possibilidade de entrega a Kiev de mísseis Taurus de longo alcance fabricados na Alemanha, o que seria necessário para que as forças ucranianas pudessem usá-los e seu possível impacto. Especialistas entrevistados pelo semanário alemão Der Spiegel consideraram o arquivo autêntico.
Os participantes mencionaram, em particular, a possibilidade de ataques contra a ponte da Crimeia que liga a península de Kerch ao território russo, um deles enfatizando que seriam necessários entre 10 e 20 mísseis para destruí-la. A península da Crimeia foi anexada por Moscou em 2014.
Se as trocas de informações, que parecem ser preparatórias para um briefing para o governo alemão, forem genuínas, elas colocarão Berlim em uma posição difícil.
Até o momento, a Alemanha recusou oficialmente qualquer entrega de mísseis Taurus, apesar da grande demanda de Kiev por eles, por medo de uma escalada na guerra. Esses mísseis têm um alcance de mais de 500 km.
Na gravação, os participantes também discutem detalhes das entregas e do uso de mísseis Scalp de longo alcance pela França e Grã-Bretanha para a Ucrânia.
Essa parte do arquivo é uma das mais embaraçosas para Berlim, pois revela os segredos dos países aliados. Olaf Scholz já causou irritação na Grã-Bretanha recentemente por ter afirmado que os britânicos e os franceses estavam ajudando os soldados ucranianos a manusear esses mísseis.
Inimigos juramentados
"Se essa história se provar verdadeira, será altamente problemática", disse Konstantin von Notz, presidente do comitê parlamentar alemão para monitoramento dos serviços secretos, aos jornais do grupo RND.
Do lado russo, o chefe da diplomacia Sergei Lavrov, em uma visita à Turquia, viu nesse caso uma mostra "de que o campo minado de guerra na Europa ainda é muito, muito forte".
O número dois do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, disse em sua conta no Telegram que "nossos antigos rivais, os alemães, tornaram-se mais uma vez nossos inimigos jurados".
Muitas autoridades em Berlim veem isso como uma tentativa de Moscou de influenciar o debate alemão sobre o fornecimento de armas à Ucrânia.
Roderich Kiesewetter, especialista em questões de defesa do principal partido de oposição CDU (conservadores), disse à televisão ZDF que "a conversa foi deliberadamente vazada pela Rússia nesse exato momento com um objetivo muito específico", ou seja, cortar pela raiz o debate na Alemanha sobre a entrega de mísseis Taurus a Kiev.
Marie-Agnes Strack-Zimmermann, do partido liberal FDP, membro da coalizão governamental, disse ao grupo de imprensa Funke que a intenção de Moscou "é óbvia": "intimidar" o chanceler para que ele não recue em sua recusa em entregar os mísseis Taurus.
(Com AFP)
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