Vladimir Putin diz que envio de tropas ocidentais à Ucrânia seria 'ameaça real de conflito nuclear'
Em um discurso no Parlamento russo, o presidente Vladimir Putin alertou nesta quinta-feira (29) os países membros da Otan sobre os riscos de um conflito nuclear se soldados ocidentais forem para a Ucrânia. Ele disse que a Rússia deveria fortalecer as suas capacidades militares após a entrada da Finlândia e da Suécia na organização transatlântica, e advertiu: "os soldados russos não irão recuar" na Ucrânia.
Os Estados Unidos e vários dos seus aliados europeus descartaram a possibilidade de enviar tropas ocidentais para a Ucrânia, mas o líder francês Emmanuel Macron mencionou esta opção no início da semana.
O discurso anual à nação, ocasião em que o presidente russo faz um balanço do ano que passou e define as prioridades do país, este ano acontece duas semanas antes da eleição presidencial russa, da qual Putin deve sair vitorioso. Num tom calmo, sob aplausos regulares do público, comentou as observações de Macron.
"Eles [ocidentais] falaram sobre a possibilidade de enviar contingentes militares ocidentais para a Ucrânia (...) Mas as consequências destas intervenções seriam realmente mais trágicas", declarou, no Gostiny Dvor, um palácio perto da Praça Vermelha, em Moscou.
"Eles devem entender que nós também temos armas capazes de atingir alvos em seu território. Tudo o que estão inventando agora, além de assustar o mundo inteiro, é uma ameaça real de conflito com o uso de armas nucleares e, portanto, de destruição da civilização", continuou o presidente russo. "Eles não entendem isso?", insistiu.
Soldados russos 'não recuarão'
O presidente saudou o progresso das suas tropas no front ucraniano, confortado pelos sucessos da Rússia na Ucrânia nas últimas semanas. Ele prometeu que os soldados russos chegarão à vitória e não recuarão, após mais de dois anos de ofensiva militar.
"Os membros das forças armadas não recuarão, não falharão, não trairão", afirmou Putin, na conclusão do seu discurso à nação.
O pronunciamento ocorre em um melhor momento para Putin do que há um ano, quando o seu Exército estava sujeito a retiradas humilhantes no sul e nordeste da Ucrânia, após uma tentativa frustrada de tomar Kiev na primavera de 2022.
Mas desde então, o Exército ucraniano fracassou na contraofensiva lançada no verão de 2023 (julho) e encontra-se na defensiva, sem munições por falta de um novo acordo sobre a ajuda americana, em Washington, e pela lentidão nas entregas de armamentos europeias. Enquanto isso, os soldados russos são mais numerosos e melhor armados.
Em meados de fevereiro, eles conseguiram tomar a cidade de Avdiïvka, no front oriental, e continuaram a investida neste setor. Putin também saudou a "flexibilidade e resistência" da economia russa que, apesar de uma série de sanções ocidentais, resiste neste momento e se voltou para a Ásia e o esforço de guerra.
"As capacidades militares das forças armadas foram multiplicadas. Avançam com confiança em várias direções", celebrou o presidente, ao comentar que "a maioria absoluta do povo russo" apoia a campanha militar na Ucrânia.
"Preservamos a unidade do país, não permitimos que fosse despedaçado", afirmou o líder do Kremlin.
Ele também atacou os governantes dos Estados Unidos, acusando-os de "quererem mostrar que governam o mundo como antes" e de se envolverem em "demagogia" antes das eleições presidenciais americanas, em novembro. Segundo ele, a Rússia está "pronta para um diálogo" com os Estados Unidos sobre questões de "estabilidade estratégica" - em uma possível referência à volta do republicano Donald Trump, que deve concorrer contra o atual presidente Joe Biden.
Funeral de Alexei Navalny
Nos seus discursos à nação, Vladimir Putin voltou a elogiar os "valores tradicionais" defendidos oficialmente pelo Kremlin, assegurando que a Rússia é um dos seus "bastiões". "Uma família com muitos filhos deve tornar-se a norma", disse ele, enquanto o país enfrenta graves problemas demográficos há muitos anos, reforçados pelo ataque na Ucrânia e pela partida de centenas de milhares de cidadãos para o exterior.
Ele também assegurou que a luta contra a pobreza era uma das suas prioridades, saudou a queda do "consumo de álcool" e prometeu mais financiamento para renovar as escolas russas.
A imprensa local enfatiza que o discurso foi transmitido não só pela televisão, mas também gratuitamente nos cinemas de 20 cidades da Rússia.
A fala desta quinta-feira ocorre na véspera do funeral do seu principal opositor, o ativista anticorrupção Alexei Navalny, que morreu em 16 de fevereiro na prisão, em condições pouco claras.
A cerimônia está marcada para acontecer em Moscou. Putin, que nunca mencionou o nome de Alexei Navalny em público, ainda não comentou a morte, que causou uma onda de comoção nas potências ocidentais.
Com informações da AFP
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