Playcenter deve virar 'Fantástica Fábrica de Chocolate', diz Alê Costa
Alê Costa, fundador da Cacau Show, surpreendeu o mercado ao anunciar no início da semana seu mais novo passo nos negócios: a compra do Grupo Playcenter. A operação, que não teve o valor revelado, ainda precisa ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A ideia do empresário é inaugurar um parque com o tema "chocolate" em São Paulo — Alê gosta de ressaltar que toda a operação da marca é focada no cacau. O Playcenter já foi o maior parque da América Latina, mas fechou as portas em 2012. Hoje, o grupo têm parques indoor em alguns shoppings, cuja operação também será assumida pela Cacau Show.
O anúncio é mais um passo de expansão da Cacau Show para além da fabricação e comércio de chocolate. Em 2021, a companhia inaugurou o Bendito Cacao Resort & Spa, em Campos do Jordão (SP). Mais uma unidade será inaugurada em Águas de Lindóia (SP) em abril.
Com 22 mil funcionários e 4.200 franquias (a maior rede do país, segundo a Associação Brasileira de Franchising), Alê diz a companhia faz a expansão com pé no chão, com recursos próprios, e que dinheiro no banco só faz o "dono do banco feliz". Após fazer um show de rock para a formatura dos franqueados do mês, o empresário e chocolateiro falou com UOL Economia por telefone, da fábrica da marca em Itapevi, na Grande São Paulo, sobre a nova empreitada da empresa.
Por que um parque de diversões?
É uma conjunção de fatores. Nosso propósito é viver para juntos tocar a vida das pessoas, criando momentos memoráveis. Parque tem tudo a ver com isso, é a mesma coisa que o chocolate que um pai compra para o filho, para a esposa — é um instrumento de criar memórias afetivas, é um instrumento de conectar pessoas. É o que a gente faz da vida. Então, a gente está muito além de misturar açúcar com cacau e leite, né? Aliás, a gente misturou cacau com leite e pouco de açúcar, somos a empresa que tem o menor índice de açúcar no mercado hoje dentro do chocolate. Então, o negócio do parque foi meio óbvio para a gente, porque a gente saiu da loja de 25 metros, 50, 100, 200, e temos uma de 3 mil aqui [na fábrica em Itapevi] com carrossel, depois com uma montanha russa. A gente está vendo que o cliente quer ficar mais na loja. A gente está sendo multado pela CCR porque a gente está parando a estrada aos domingos, a gente está recebendo 7 mil pessoas por dia dia aqui na nossa loja. Cacau Show é a expressão de uma visão de mundo. E parque é natural, lugar de você criar experiência afetiva, lugar de contar história. Nós temos duas histórias incríveis. Nós temos a história do chocolate, que foi tema de Carnaval da Rosas de Ouro em 2010; eu escrevi um livro sobre isso. Cacau é show, né? Então, assim, a gente tem histórias maias, astecas, e temos a história do menino de 17 anos que veio da periferia da zona norte de São Paulo com US$ 500 e construiu a maior empresa de número de lojas de chocolate do mundo, a maior rede de franquias do Brasil.
Neste processo de expansão de negócios da Cacau Show, que foi para hotelaria, agora para o parque, como você, homem de negócios, se adapta às diferentes formas de administração?
Eu não sou um homem de negócios. É muito interessante isso: eu sou um homem do negócio. Então, veja que tudo aqui tem a ver com cacau e chocolate. O hotel [de Campos do Jordão] é de chocolate, não é hotel normal. O parque será de chocolate. Tudo tem esse tema. A gente acabou de comemorar 20 anos da assinatura do primeiro contrato de franquia. Inclusive, nossa primeira franqueada que assinou o contrato estava aqui com a gente hoje. A gente é cacau e é show. É muito louco porque são duas coisas muito distintas mas que se conversam. Quer dizer, como a gente faz o consumidor ficar feliz? E é por isso que a gente virou a empresa que a gente é, pela qualidade do produto e pela experiência do consumidor, seja com a qualidade, com o sabor, com a textura; seja com a loja, com o hotel, com o nosso serviço. Então, nesse sentido, o parque é serviço, como o hotel é serviço, com um tema que a gente já conhece bem. Tudo ligado ao tema chocolate, cacau, então, para nós, está sendo supernatural. Não quero chamar de transição porque não é uma transição, é uma evolução da experiência. Enquanto numa loja normal o cliente fica sete minutos, aqui na megastore fica duas horas. Quem sabe amanhã, num parque, vai ficar 10 horas, já que no hotel fica 48 horas? E a gente tem mais tempo para contar a história, mais tempo para disseminar os nossos valores.
A operação depende da aprovação do Cade, mas há algum tipo de previsão de quando o parque deve sair do papel?
Ainda não, porque o Cade nos diz quando que as operações se fundem. Ter um parque de grande superfície outdoor é mais do que o Cade, depende de governo, depende de legislação, de uma série de vontades. Então, isso é para o segundo semestre. A gente quer fazer algo grandioso. Nós fazemos mil lojas de chocolates em um ano. Como fizemos em 2022, nós somos animados, acordados por dentro. Quanto mais a pessoas me perguntam qual é meu grande sonho, meu grande sonho não é ter bilhões, meu grande sonho é ter 100 mil pessoas que trabalhem defendendo as nossas crenças todos os dias.
Quando se expande um negócio para áreas diferentes, públicos diferentes também são atingidos. Vocês tiveram algum alvo específico nesse projeto de expansão que começou com os hotéis e agora continua com o parque?
Nós pensamos na família toda, nós somos muito democráticos em relação a perfil de população, faixa etária, nível de renda. A Cacau Show é para todo mundo. O Philippe Starck diz que o maior luxo é você oferecer qualidade ao maior número de pessoas e é nisso a gente acorda e vai dormir pensando: como a gente consegue fazer mais gente feliz. Para nós tem o mesmo valor chegar uma pessoa como motorista numa loja de classe A ou um cliente mais simples no interior do Pernambuco comprando uma cesta para a família. E a gente está superfeliz, porque nós queremos tocar corações humanos.
A Cacau Show chega de uma ponta a outra?
Eu tenho pesquisas de mercado que nos dizem isso, [a Cacau Show] é top of mind em todas as categorias. Se perguntarem quem que é a primeira marca que vem à cabeça é a Cacau Show. A nossa turma está fazendo um trabalho muito bacana, porque a gente faz uma loja num shopping Iguatemi [em São Paulo, voltado para a classe A] e faz uma loja em Sorriso, no Mato Grosso, a gente faz uma loja numa comunidade No Rio de Janeiro, tinha loja no [complexo do] Alemão. A gente está aqui para mostrar que chocolate de boa qualidade pode ser acessível, pode ser democrático, pode ser para todo mundo.
O anúncio da compra do Playcenter veio alguns meses depois de uma situação complicada pela qual vocês passaram que foi um incêndio na fábrica em Linhares, no Espírito Santo, no final do ano passado. Qual foi o impacto na produção na época?
Naturalmente foi algo muito triste, mas muito poderoso. Você não tem ideia da repercussão que causou. A gente não tinha manual de crise, não tinha nada disso. Eu simplesmente fui lá, me ligaram às 4h30 da manhã, e às 8h da manhã eu já estava no Espírito Santo dentro da fábrica com a minha turma. Foi incrível como a gente foi abraçado até pelos pelos parceiros de mercado, que chamam de concorrente, mas a gente chama de parceiro de mercado. Incrível, consumidores indo na loja comprar mais produto para ajudar e postando nas mídias sociais. A gente estava preparado para o Natal, a produção já estava pronta. Nós temos três fábricas, a gente mandou de uma fábrica para outra, mandou fazer um pouco de produto nosso, com a nossa receita, em outras fábricas. Foi tranquilíssimo, zero problema em termos de abastecimento de produto para o mercado. E, de novo, a gente colheu, eu ganhei quase meio milhão de seguidores nas mídias sociais depois disso. Porque eu pus o celular na minha frente e falei: "Pessoal, aconteceu isso, tá todo mundo bem, ninguém passou mal. A gente está tranquilo, perda de materiais a gente vai recuperar, e vamos que vamos". Então foi assim que a gente lidou com esse fato e está passando, estamos construindo outro prédio, a fábrica já está rodando, lá está tudo sob controle.
Com esse crescimento e expansão da marca, há algum tipo de pretensão ou ideia de abrir capital?
Nós somos uma empresa que, apesar de fechada, tem há dez anos um conselho de administração super sério, somos auditado pelas "Big Four" [o grupo das principais consultorias de contabilidade e auditoria do mundo]. A gente está preparado para qualquer [coisa], mas precisa ter um motivo para isso e hoje a gente não tem. Normalmente, você faz isso quando o empresário quer se capitalizar ou quando a empresa quer investir em outros negócios e precisa de capital. No momento a gente tem capital para investir, tanto é que estamos investindo. E eu sou muito menino, né? [risos] Nem mais tão menino assim, mas estou no meio da flor da idade aqui, então eu não tenho nenhum desejo que não seja trabalhar. Estamos abertos a essa possibilidade, mas não está no plano.
A Páscoa está chegando, quais são as expectativas para vendas? Devem superar a marca de 2023?
[Esperamos] Um grande crescimento em relação ao ano passado: 35% em vendas. Não foi estratégia nenhuma, essa atenção que o Playcenter causou no pré-Páscoa foi muito legal para a gente. A gente está com uma campanha linda. É impressionante como está bacana a linha, como tem brinquedos e presentes na linha. Nestes dias fiquei focado um pouco na história do Playcenter e tantas outras frentes que tem, a turma tem trabalhado, eu já consigo olhar tudo no detalhe como antes. Está muito bacana, não é porque eu sou o head da operação, não, a turma está fazendo um trabalho incrível mesmo. Acho que isso é fruto dessa inspiração de estar aqui todo dia, de estar junto ali tocando. Acho que a liderança moderna tem que estar junto, não tem que liderar falando, tem que liderar fazendo junto.
Em um cenário de expansão, como está a saúde financeira da companhia? Visto que é uma expansão muito grande, que a gente não vê os pares fazendo algo semelhante.
A gente é muito saudável, até porque tem a pessoa jurídica e a pessoa física que trabalha há 35 anos, né? São 35 anos trabalhando 12, 13, 14 horas por dia. Então, a gente realmente tem muita coisa. É só o começo, tem muita coisa bacana por vir. E a gente está investindo. A gente acredita no Brasil e, francamente, eu como sócio majoritário a gente está investindo na empresa. A gente está deixando de retirar dinheiro e, pelo contrário, estamos colocando dinheiro do passado para fazer novos investimentos, para realizar o propósito. Dinheiro no banco não faz gente feliz, faz o dono do banco feliz. Dinheiro é para fazer gente feliz, é para investir. Então, a gente está fazendo as coisas com muito pé no chão, tenha certeza que o juros no Brasil são caros, a gente não faria coisas dependendo de banco. A gente está replantando o que colheu depois de plantar muito tempo.
Você comentou que a Cacau Show deve entrar, essencialmente, com fornecimento de alimentação e bebidas nos parques indoor da Cacau Show. Mas existe algum plano de repaginar esses parques para eles ficarem mais com a cara da marca Ou é algo que, por enquanto, não está no radar?
Certamente nós vamos dar o nosso toque de chocolate nesse Playcenter, conte com isso, porque faz todo sentido para a gente. Achocolatar, cada Playcenter deve se transformar numa "Fantástica Fábrica de Chocolate".
Falando em Fantástica Fábrica de Chocolate, o que você acha das comparações com Willy Wonka?
Você assistiu ao último filme? Eu assisti. Foi do começo ao fim que eu me emocionei. Tudo é sete, a Cacau Show tem sete estrelas [o logo], tem uma história com sete aqui, e já começa o filme com ele cantando "Com Sete Oceanos" [trecho da canção A Hatful of Dreams]. E aí tem a história dele com a mãe. Na hora em que pega fogo na loja, eu levantei e falei: "Para tudo!". Não é incrível isso? Não se trata de querer comparar nada, cada um tem a sua história, mas, assim, essa história de uma empresa, de um menino de 17 anos que conseguiu US$ 500 dólares emprestados, que começou a fazer o primeiro chocolate e é uma empresa hoje relevante no ramo de chocolates do mundo. A gente é conhecido no mundo inteiro. Foi muito legal, eu estive agora na feira na Alemanha faz três semanas com o meu filho de 22 anos. No passado a gente chegava lá "simplezinhos", nos estandes, sabe? Agora os caras chamam a gente. Mudou a história, entendeu? As pessoas falam perguntam para os meus funcionários "E ele vai na empresa?", como eu estou muito programa, no Masterchef, programas de televisão, estou cada hora num lugar, sou muito ativo, as pessoas perguntam. Eu trabalho loucamente aqui, deliciosamente, com todo mundo. A nossa história parece com a história do cara, é legal, porque eu acho que no mundo é a história que mais parece com aquela. Se a gente olhar hoje, cadê o seu Nestlé? Não está mais aí. Cadê o seu Lindt? Não está mais aí. Cade o seu Kopenhagen? Não está mais aí. O seu Cacau Show está aqui.